Orquestra Sinfónica de Melbourne. Pianista retirado de cartaz por dedicar música a repórteres mortos em Gaza
O pianista Jayson Gillham foi retirado do cartaz da Orquestra Sinfónica de Melbourne por apresentar reportório "dedicado aos jornalistas mortos em Gaza" com comentários que associam os assassinatos a Israel.
Porém, “uma série de observações introdutórias” de uma peça de Gillham, que o próprio dedica aos jornalistas mortos em Gaza, valeram-lhe o cancelamento no espetáculo organizado pela orquestra australiana.
Música da discórdia
A polémica começou num recital a solo que o pianista deu no domingo, no Iwaki Auditorium, em Southbank.
Uma peça de cinco minutos, com o nome de Witness (Testemunha), escrita por Connor D'Netto para Gillham interpretar, terá sido antecedida por uma explicação do pianista que sugere que os jornalistas em Gaza eram alvos da mira das forças israelitas.
A Orquestra Sinfónica de Melbourne (OSM) apressou-se a retirar o artista do cartaz seguinte, argumentando que Witness foi apresentada a pedido de Gillham "com base no fato de ser uma curta peça meditativa", mas que acabou por ser usada para “comentários pessoais sem aprovação da OSM”.
Acrescenta ainda que “a OSM não tolera o uso do (nosso) palco como plataforma para expressar opiniões pessoais” e que as palavras de Gillham causaram “angústia”.
Embora a OSM tenha descrito o músico como “um dos melhores pianistas da sua geração”, ao Guardian Australia reiterou que “não foi informada do conteúdo [ou] dos comentários que Jayson Gillham pretendia fazer”. E sublinhou que “as observações foram feitas sem autorização e iam além do escopo do seu contrato”.
Para colmatar o descarte do pianista, uma nota da orquestra reportou que a atualização do cartaz "será anunciada em breve".
Entretanto, na plateia de domingo, estava o escritor e compositor palestiniano-australiano Nahed Elrayes, que revelou que Gillham, ao apresentar a peça musical aos espectadores, referiu que Israel tinha atacado mais de 100 jornalistas palestinianos, sendo que Witness abordava precisamente isso.
O autor D´Netto já reagiu, confirmando que a peça Witness já tinha alguns meses e foi escrita para Gillham interpretar.
“Dediquei-a aos jornalistas em Gaza. A sua bravura e sacrifício estavam muito presentes na minha mente”, argumentou o autor. Porém, clarificou que “a peça não é necessariamente 'sobre' nada, é uma peça meditativa bastante simples, talvez um pouco melancólica”.
D´Netto diz que decidiu dar o titulo de “Testemunha” ao refletir sobre a comunicação social e como as pessoas estão a assistir às “imagens horríveis – não apenas de Gaza, mas de todo o mundo".
E acrescentou: “A nossa reação instintiva pode ser desviar o olhar, mas é responsabilidade de cada um de nós, no mínimo, reconhecer estas coisas”.
O Comité para a Proteção de Jornalistas, com sede nos EUA, regista pelo menos 113 de jornalistas e profissionais dos media palestinianos mortos nos últimos dez meses na guerra em Gaza. O organismo internacional recorda que o assassinato intencional de jornalistas é crime de guerra.
O Comité para a Proteção de Jornalistas, com sede nos EUA, regista pelo menos 113 de jornalistas e profissionais dos media palestinianos mortos nos últimos dez meses na guerra em Gaza. O organismo internacional recorda que o assassinato intencional de jornalistas é crime de guerra.
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