Acordo de 1,5 graus "está ao nosso alcance", afirma presidente da COP28

por Carla Quirino - RTP
Ueslei Marcelino - Reuters

O sultão al-Jaber acredita que está ao alcance de todos conseguir um "resultado sem precedentes" na conferência climática COP28, organizada pelos Emirados Árabes Unidos. Concretizar um acordo para limitar o aquecimento global em 1,5 graus faz parte das esperanças de al-Jaber. O sultão espera que até a Arábia Saudita assuma compromissos positivos.

O Dubai prepara-se para receber mais de 70 mil delegados de todo o mundo que participarão nas negociações climáticas da COP28, com a duração de 15 dias.

Alguns dizem ter dúvidas sobre se é possível alcançar resultados substanciais depois da controvérsia em torno da presidência da COP28, relativamnete a documentos que apontam a utilização da cimeira para se privilegiar negócios com empresas petrolíferas nacionais.

O presidente da COP28, o sultão al-Jaber, responde às dúvidas numa entrevista exclusiva à publicação britânica The Guardian.

“Tenho que ser cautelosamente otimista”, declara al-Jaber, para sublinhar: “Tenho as alavancas e a tração que estou a experienciar hoje - o que nos vai permitir alcançar o resultado sem precedentes que todos esperamos”.

Al-Jaber refere que o impulso positivo significa que o mundo pode chegar a um acordo sobre um “roteiro robusto” de cortes nas emissões de gases de efeito estufa até 2030, garantindo assim um “resultado sem precedentes” nesta conferência, que arranca na quinta-feira.

O sultão deixa claro que “retornar ao caminho certo e garantir que o mundo aceite uma compreensão robusta de um plano para 2030 que manterá [um aumento de temperatura acima dos níveis pré-industriais de] 1,5°C ao alcance global, é o meu único objetivo”.
Presidência controversa ou envolvente
Al-Jaber também é presidente executivo da empresa petrolífera nacional dos Emirados Árabes Unidos, a Adnoc.

Informações sobre as reuniões prévias vindas a público, relativamente à oportunidade de as empresas energéticas a que o sultão preside negociarem petróleo, desencadeou uma onda de desconfiança, especialmente entre ativistas que consideraram esta presidência um conflito de interesses,

O sultão apresenta outra perspetiva e argumenta que o lugar que ocupa fora da COP28 “o ajudará a envolver empresas e outros produtores de petróleo, incluindo a Arábia Saudita”, um aliado próximo dos Emirados Árabes Unido e o segundo maior produtor de petróleo do mundo, atrás dos EUA.

A Arábia Saudita é um país considerado pouco empreendedor para alcançar as metas climáticas das conferências da ONU. Na entrevista, al-Jaber, referindo-se ao Estado saudita, deu a entender que após as reuniões de preparação para a COP28 o Governo demonstrou “positividade, envolvimento, recetividade à causa e ao apelo à ação para alcançar o resultado mais ambicioso da ação climática na COP28”.

A Arábia Saudita têm cooperado e vêm com ambição”, reiterou al-Jaber, que acrescentou: “Eles têm-se envolvido de forma colaborativa em todas as áreas climáticas”.

Ainda a propósito do alegado conflito de interesses entre a presidência da Adnoc e COP28, al-Jaber afirma: “A Agência Internacional de Energia [num relatório recente] diz-nos que todos os sectores devem fazer parte da solução”.

Por isso, “a ação climática real e tangível só ocorrerá se todos forem responsabilizados. [Precisamos] de garantir que todos os parceiros progridam em direção a uma transição energética. E não se pode fazer isso sem incluir as indústrias com grandes emissões, bem como o petróleo e o gás”, argumenta o sultão.

Al-Jaber disse estar “energizado” e apelou aos países ricos “para não atrasarem o acordo até aos últimos dias”, lembrando o que aconteceu na COP27 no Egito, para indignação generalizada dos estados pobres.

“Não quero que os governos mantenham as cartas escondidas até ao último minuto”, advertiu. “Quanto mais cedo se abrirem, se envolverem e colaborarem, mais será alcançado”, conclui.
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