Administração Trump promete "pressão sem precedentes" sobre Irão

por Carlos Santos Neves - RTP
O Irão, afiançou o secretário de Estado norte-americano, “deixará de ter carta-branca para dominar o Médio Oriente” Faisal Nasser - Reuters

O secretário de Estado norte-americano tornou esta segunda-feira pública a nova estratégia dos Estados Unidos para o Irão, na sequência do abandono do acordo nuclear de 2015. Com avisos à Europa pelo meio, Mike Pompeo anunciou a implementação das “mais fortes sanções da História” contra a República Islâmica.

O Irão, afiançou Pompeo, “deixará de ter carta-branca para dominar o Médio Oriente”. É esta a síntese do que a Administração de Donald Trump pretende fazer de ora em diante, depois de ter decidido cortar o vínculo da América ao acordo nuclear estabelecido com o regime dos ayatollahs em 2015, sob a égide da Presidência de Barack Obama.Em reação às declarações de Mike Pompeo, o Presidente iraniano, Hassan Rohani, já veio afirmar que os Estados Unidos "não podem decidir pelo mundo".

Em preparação, segundo o substituto de Rex Tillerson à frente da diplomacia norte-americana, estão “as mais fortes sanções da História”.

Mike Pompeo garantiu mesmo que Washington estará na peugada dos “agentes iranianos e dos seus supletivos do Hezbollah em todo o mundo para os esmagar”, numa referência à formação xiita libanesa de Sayyed Hassan Nasrallah.

O secretário de Estado norte-americano enumerou um conjunto alargado de condições para a eventual negociação de um “novo acordo”, com exigências particularmente severas no domínio nuclear, entre as quais um travão à “proliferação balística” e o fim do envolvimento iraniano em conflitos além-fronteiras no Médio Oriente. Só mediante o preenchimento destas condições será admissível, na ótica da Administração Trump, encarar um levantamento de sanções.

“As nossas exigências ao Irão não são irracionais: abandonem o vosso programa [nuclear]. Se escolherem regressar, se começarem a enriquecer [urânio], estamos totalmente preparados para responder. Espero que eles tomem uma decisão diferente, que escolham um caminho diferente”, clamou.

Pompeo acendeu também uma luz amarela aos históricos aliados europeus, ao garantir que “serão responsabilizadas” as empresas que façam negócios com o Irão em sectores abrangidos pelas sanções norte-americanas.
A posição europeia
Há uma semana a alta representante da União Europeia para a Política Externa, Federica Mogherini, e os líderes de Alemanha, França e Reino Unido assumiram o compromisso de preservar o acordo nuclear com os iranianos. O ministro dos Negócios Estrangeiros do Irão veio no domingo exortar a Europa a fazer mais para contrariar o atual unilateralismo da Casa Branca.
Os grupos franceses do sector energético Engie (ex- GDF Suez) e Total começaram já a assumir posturas de desinvestimento no Irão: o primeiro decidiu parar até novembro todas as atividades neste país e a segunda avisou que desistirá de um projeto de gás, caso não fique isenta das sanções dos Estados Unidos.

“O apoio político da UE não é suficiente e a União deve dar passos concretos para a cooperação económica com o Irão e aumentar o investimento”, defendeu Mohammad Javad Zarif, após um encontro em Teerão com Miguel Arias Cañete, comissário europeu com o portefólio da Energia.

“Com a saída dos Estados Unidos do acordo nuclear, cresceram as expectativas da opinião pública face à União Europeia. O compromisso da UE de manter o acordo nuclear não é compatível com o anúncio da provável retirada de grandes empresas europeias”, acrescentou Zarif.

Por sua vez, em declarações à agência espanhola EFE, Cañete alertou para a urgência de apresentar respostas ao Governo iraniano: “O que nos pedem é muita rapidez, porque há muito descontentamento na opinião pública iraniana”.

Bruxelas acionou no final da semana passada o “estatuto de bloqueio”, que visa blindar entidades empresariais europeias de “efeitos extraterritoriais das sanções dos Estados Unidos”. A Comissão Europeia está ainda a ponderar “soluções práticas para permitir ao Irão continuar a exportar petróleo e gás, manter transações bancárias e garantir a manutenção de ligações aéreas e marítimas”.

Na véspera do encontro com Mohammad Javad Zarif, o eurocomissário da energia esteve reunido com o ministro iraniano do Petróleo, Bijan Namdar, que manifestou a expectativa de garantir a estabilidade das exportações do país, “se a UE ajudar”.

O Irão produz 3,8 milhões de barris diários de petróleo, exportando perto de 2,6 milhões de barris por dia de petróleo bruto e gás condensado. Cerca de 20 por cento destas exportações destinam-se à União Europeia. A China e outros países asiáticos são os destinatários de 70 por cento das vendas.

Miguel Arias Cañete sublinhou que o euro será a divisa das transações petrolíferas do Irão, por via de transferências entre os bancos centrais europeus e da República Islâmica.

c/ agências internacionais
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