Após fiasco na Casa Branca. Londres e Paris desenham plano de paz com Kiev

Depois da tensa receção, na Sala Oval da Casa Branca, ao presidente ucraniano, o Reino Unido tomou em mãos o objetivo de traçar um plano de paz para a Ucrânia, juntamente com a França. O anúncio partiu este domingo do primeiro-ministro britânico, Keir Starmer, que na véspera recebeu Volodymyr Zelensky em Downing Street. O resultado desta iniciativa será posteriormente submetido à apreciação da Administração Trump.

Carlos Santos Neves - RTP /
“Discutiremos depois este plano com os Estados Unidos”, sinalizou o primeiro-ministro britânico, Keir Starmer Chris J. Ratcliffe - Pool via EPA

A iniciativa britânica foi conhecida a poucas horas do início de uma cimeira com mais de uma dezena de líderes europeus e o futuro da Ucrânia sobre a mesa em Londres – Portugal ficou à margem desta reunião.A agenda de Zelensky em Londres incluiu um encontro com o rei Carlos III, além da cimeira de líderes europeus.


Os dirigentes chamados a Londres procuraram estabelecer novas garantias de segurança para a Europa, face ao reposicionamento da América pela mão de Donald Trump. Os Estados Unidos estão agora mais próximos da Rússia de Vladimir Putin.

“Chegámos a acordo para que o Reino Unido, a França e talvez um ou dois outros trabalhem com a Ucrânia num plano para cessar os combates. Discutiremos depois este plano com os Estados Unidos”, adiantou o chefe do Executivo britânico, em declarações à BBC.
Em paralelo, Londres e Kiev assinaram entretanto um acordo para o empréstimo de 2,26 mil milhões de libras, o equivalente a cerca de 2,74 mil milhões de euros, para apoiar a defesa da Ucrânia. O reembolso assentará em ativos russos congelados.

“O dinheiro vai servir para produzir armas na Ucrânia”, garantiu o presidente ucraniano na plataforma de mensagens Telegram. Volodymyr Zelensky quis mostrar-se grato “ao povo e ao Governo do Reino Unido”.
“Reforço da posição da Ucrânia”

Londres chamou para a cimeira deste domingo o presidente francês, Emmanuel Macron, o chanceler alemão, Olaf Scholz, os primeiros-ministros do Canadá, Justin Trudeau, da Polónia, Donald Tusk, e da Itália, Georgia Meloni, o secretário-geral da NATO, Mark Rutte, e os presidentes da Comissão Europeia e do Conselho Europeu, Ursula von der Leyen e António Costa.Na próxima quinta-feira realiza-se em Bruxelas um Conselho Europeu extraordinário.


A reunião na capital britânica visou, nas palavras do anfitrião Keir Starmer, discutir o “reforço da posição da Ucrânia hoje, incluindo um apoio militar contínuo e uma pressão económica acrescida sobre a Rússia”.

Os líderes debruçaram-se ainda sobre “a necessidade de a Europa desempenhar o seu papel em matéria de defesa” e as “próximas etapas de planificação de garantias de segurança sólidas”.
“Nova era de infâmia”
Na véspera desta cimeira, a ministra alemã dos Negócios Estrangeiros, Annalena Baerbock, dava como encetada “uma nova era de infâmia”, na qual a Europa terá de “defender a ordem internacional fundada em regas e a força do Direito contra a lei do mais forte”.

Por sua vez, o presidente francês, Emmanuel Macron, disse-se preparado para “ouvir a discussão” de uma futura dissuasão nuclear europeia, algo que é defendido pelo próximo chanceler alemão. Friedrich Merz sugeriu mesmo que a Europa deve preparar-se “para o pior cenário”. Ou seja, a NATO eventualmente negligenciada pelos Estados Unidos.

O primeiro-ministro polaco, Donald Tusk, declarou-se nas últimas horas disponível para ajudar a ultrapassar “o dilema” da posição de Donald Trump face à Ucrânia, fazendo uso do que descreveu como “muito boas relações com os americanos”.
De Georgia Meloni saiu um aviso: importa sobretudo, segundo a primeira-ministra de Itália, “evitar” que o Ocidente “se divida”.

França e Reino Unido, reconheceu ainda Meloni, podem desempenhar um papel decisivo.

c/ agências internacionais
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