Argélia. Islamita eleito presidente da Câmara Baixa

por RTP
Slimane Chenine, deputado islamita argelino eleito quarta-feira 10 de julho 2019 como presidente da câmara baixa do Parlamento da Argélia DR

Slimane Chenine, de 54 anos, presidente do grupo parlamentar da oposição, Ennahda-Adala-Bina, foi eleito por voto secreto esta quarta-feira à noite, como presidente da câmara baixa do Parlamento argelino e terceira figura do país.

Chenine substitui Moad Boucareb, da Frente de Libertação Nacional, empurrado a demitir-se pela contestação popular que agita a Argélia há mais de seis meses

A sua foi uma candidatura surpresa, colocada apenas na manhã desta quarta-feira. O deputado islamita, do Partido Movimento de Construção Nacional, acabou por conseguir o apoio de quatro partidos incluindo os mais ligados ao poder, como a FLN e o RND, Reunião Nacional Democrática.

A sua eleição acabou por ser um pró-forma.

Mohamed Djemai, secretário-geral da FLN, explicou que o seu grupo parlamentar decidiu apoiar Chenine após uma longa reunião de quatro horas, "porque privilegiamos o interesse da Argélia, antes de qualquer outra consideração".

Os deputados esperam que a escolha de Chenine seja aceite pela população, já que não está ligado a casos de corrupção e porque "o Parlamento tem pela frente dias importantes para aprovar uma nova lei eleitoral", como referiu um deputado do Adala.
Contestação não abranda
O FLN têm governado o país desde a independência de França, em 1962. A contestação tomou no início do ano conta das ruas, com milhares de argelinos a exigirem a demissão da elite que vê como cúmplice de um sistema sufocante.

Após terem conseguido a renúncia, a dois de abril, do Presidente Abdelaziz Bouteflika, há 20 anos no poder, os argelinos rejeitam há semanas a prevalência do sistema, agora garantido pelos militares, que tentam manter a paz.

As eleições previstas para quatro de julho, tiveram de ser anuladas por falta de candidatos credíveis.

Num discurso à nação na véspera, a três de julho, o Presidente interino Abdelkader Bensalah, ex-presidente do Senado, propôs um "diálogo" para preparar o escrutínio presidencial. Prometeu ainda que nem as Forças Armadas nem o Estado iriam tentar influenciar o processo.
Vazio Constitucional
Apelos que caíram em saco roto. No dia seguinte, os manifestantes voltaram a encher as ruas das principais cidades argelinas, pela 20ª sexta-feira consecutiva. A crise parece sem solução à vista.

"Saiam, libertem a Argélia!" pedem os manifestantes, que não desistem, apesar da pressão e vigilância apertada das forças de segurança. "Serão vocês ou seremos nós", e "não à eleição bando de mafiosos", são outras palavras de ordem.

O período de 90 dias previsto para o exercício do cargo de presidente interino terminou esta terça-feira, mas Abdelkader Bensalah promete manter-se no cargo, enquanto for necessário e apesar do vazio constitucional.

Esta quarta-feira, as Forças Armadas manifestaram oficialmente o seu apoio a Bensalah. O chefe de Estado Maior do Exército, Ahmed Gaïd Salah, defendeu a proposta do Presidente, que considerou "razoável e sensata".

"A mais recente mensagem do Chefe de Estado" é uma "proposta razoável e sensata", para "tirar o país da crise", afirmou o general, ao discursar numa cerimónia oficial. Gaïd Salah reiterou também o desejo das Forças Armadas de que uma eleição presidencial tenha lugar "no prazo mais curto possível, através da adoção da via do diálogo nacional".
Aviso das Forças Armadas
Como garante da paz e segurança, o general Gaïd Salah tornou-se o homem forte da Argélia, após a demissão de Bouteflika. Nesse papel, no seu discurso desta quarta-feira, avisou explicitamente aqueles que querem fazer crêr que a Argélia já não é um "Estado civil", referindo-se a um dos slogans dos manifestantes.

"Os slogans mentirosos", acusou, "como os que exigem um Estado civil e não militar", são "ideias envenenadas", "ditadas por círculos hostis à Argélia e às suas instituições", referiu.

"Todos os esforços que a instituição tem até agora consentido, são esforços que respeitam na essência o interesse supremo da pátria", acrescentou.

Desta forma, o Exército considera que a próxima presidencial será "o primeiro fruto constitucional e legal", que deverá trazer "soluções" aos "problemas" do país, propõs ainda.

Num aparente sinal de luta contra os abusos do sistema, o Supremo Tribunal argelino colocou esta quarta-feira sob prisão o antigo ministro da Indústria, Youcef Yousfi, acusado de corrupção, anunciou a televisão estatal.

Yousfi foi o mais recente alto responsável da Argélia a ser detido após uma série de investigações desencadeadas pelos protestos populares.
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