Ataque ao Capitólio, um ano depois. Biden prepara discurso da "verdade"

por Carlos Santos Neves - RTP
“Na quinta-feira, o presidente vai falar sobre a verdade do que aconteceu”, adiantou a porta-voz da Casa Branca Jen Psaki Jim Lo Scalzo - EPA

A Casa Branca assinala na quinta-feira o primeiro aniversário do assalto ao Capitólio, em Washington, com uma intervenção de Joe Biden. O presidente dos Estados Unidos, adianta o seu gabinete, vai prestar homenagem aos efetivos das forças de segurança que protagonizaram a primeira resposta à invasão do Congresso e colocar a ênfase no que a Administração democrata considera ser o trabalho de fortalecimento da democracia.

“Na quinta-feira, o presidente vai falar sobre a verdade do que aconteceu, não as mentiras que alguns têm espalhado desde então, e o perigo que foi colocado ao Estado de Direito e ao nosso sistema de governação democrática”, antecipou a porta-voz da Casa Branca, Jen Psaki, em vésperas do primeiro aniversário da invasão do Congresso dos Estados Unidos.

Na manhã de quinta-feira, o presidente norte-americano, Joe Biden, e a vice-presidente, Kamala Harris, vão falar no Capitólio, o alvo da invasão, a 6 de janeiro de 2021, por parte de apoiantes do então presidente cessante Donald Trump, que assim procuraram impedir a contagem de votos do Colégio Eleitoral – momento que selaria a eleição de Joe Biden para a Casa Branca.

Segundo Psaki, o tributo à polícia do Capitólio será o principal tema da intervenção do presidente: “Por causa dos seus esforços, a nossa democracia aguentou um ataque de uma multidão e a vontade de mais de 150 milhões de pessoas que votaram na eleição presidencial acabou por ser registado pelo Congresso”.

Questionada sobre a mensagem de Biden para as vozes republicanas que continuam a alegar que a eleição foi “roubada” a Trump, Jen Psaki enfatizou que o presidente “vai continuar a falar a todos no país, aqueles que não votaram nele, aqueles que possam não acreditar que ele é o presidente legítimo, sobre o que quer fazer para melhorar as suas vidas”.
E Trump?
O ex-presidente norte-americano chegou a convocar para a noite de quinta-feira a sua própria conferência de imprensa, em Mar-a-Lago, na Florida, sobre os acontecimentos de há um ano. Mas acabou por cancelar esta aparição pública, depois de vários republicanos terem expressado preocupação.

Em comunicado, Donald Trump disse ter cancelado a conferência de imprensa “à luz do total viés e desonestidade do comité de democratas não escolhidos, dois republicanos falhados e dos media das notícias falsas sobre o 6 de janeiro”, referindo-se ao comité da Câmara dos Representantes encarregue de investigar a insurreição.

A ideia de Trump é agora a de abordar os acontecimentos de 2021 num comício a 15 de janeiro.

O antecessor de Biden escreveu mesmo ao pivô da Fox News Sean Hannity, apelando à sua cooperação – o jornalista trocou mensagens quer com Trump, quer com o chefe de gabinete Mark Meadows, nos dias que antecederam a invasão.
6 de janeiro de 2021
Morreram quatro pessoas no dia da sublevação. Um agente da polícia do Capitólio acabaria por morrer no dia seguinte. Dezenas de efetivos das forças de segurança ficaram feridos. Quatro cometeram, desde então, suicídio.

O FBI calcula que pelo menos duas mil pessoas tenham participado no assalto.Brian Sicknick, polícia de 42 anos, foi atingido na cabeça com um extintor de fogo. Foi socorrido no local e depois transportado para um hospital, onde morreu.

Ashli Babbitt, uma apoiante de Trump de 35 anos, morreu baleada por um dos polícias.

Benjamin Phillips, informático de 50 anos que organizou uma caravana desde a Pensilvânia, morreu de ataque cardíaco. Kevin Greeson, de 55 anos, morreu igualmente de ataque cardíaco.

Rosanne Boyland, de 34 anos, residente no Estado da Geórgia, morreu esmagada pela multidão na escadaria do Capitólio.

As autoridades instauraram cerca de 700 processos criminais na quase totalidade dos 50 Estados norte-americanos. Estes processos foram separados em duas categorias: invasores não violentos, acusados de pequenos crimes, e invasores violentos, desde logo aqueles que atacaram forças policiais.

Foram já condenadas em tribunal mais de 50 pessoas, a maioria das quais conotada com movimentos políticos radicais próximos de Donald Trump. Só 19 foram condenadas a prisão efetiva, com penas que foram dos oito meses aos três anos e meio de cadeia.
As ações de Trump no dia do assalto
Pelas 12h00 do dia 6 de janeiro de 2021, a partir da Casa Branca, Donald Trump dava início a um discurso de uma hora, durante o qual encorajaria os apoiantes a marcharem até ao Capitólio para contestar “o resultado falsificado” da eleição presidencial.

Donald J. Trump foi julgado num segundo processo de impeachment, face às suas ações no dia da invasão. Foi, no entanto, absolvido das acusações de “incitamento à rebelião”, graças à maioria republicana. Trump iria ao ponto de acusar o vice-presidente Mike Pence de conivência com os democratas, ao presidir à sessão do Senado que validaria os votos do Colégio Eleitoral. E chegaria mesmo a prometer caminhar ao lado dos apoiantes. Acabaria por permanecer na Casa Branca, onde assistiu pela televisão ao desenrolar dos acontecimentos.

Às 15h13, duas horas após o início do assalto, Trump apelou, no Twitter, aos apoiantes para que permanecessem “em paz” e abdicassem da “violência”. Todavia, daí a uma hora, publicava na mesma rede social um vídeo no qual martelava a tese de “roubo” da eleição, pedindo ainda assim aos invasores que voltassem “para casa”. Diria também que os “amava”.

A conta do presidente cessante no Twitter seria suspensa às 19h03. A rede social alegou “repetidas e graves violações das regras de integridade cívica”. O Facebook seguiu, pouco depois, o mesmo caminho.

c/ agências
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