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Bolton considera Trump inapto para o cargo e espera que não seja reeleito

por Mariana Ribeiro Soares - RTP
Kevin Lamarque - Reuters

Em entrevista à ABC News no domingo, John Bolton, ex-conselheiro da Casa Branca, apelidou indiretamente Donald Trump de “ingénuo e perigoso”, bem como incompetente para o cargo e disse esperar que seja recordado como um presidente de um único mandato.

Espero que (a história) se recorde dele como um presidente de mandato único que não mergulhou o país inevitavelmente numa espiral descendente da qual não nos conseguimos lembrar”, disse John Bolton.

“Podemos superar um mandato, tenho confiança absoluta, mesmo que não aconteça o milagre de um republicano conservador ser eleito em novembro. Dois mandatos, estou mais preocupado”, acrescentou o ex-conselheiro de Segurança Nacional da Casa Branca durante uma entrevista à ABC News.

John Bolton disse considerar que o atual presidente norte-americano não tem preparação para o cargo: "Não acho que seja apto para o cargo. Não acho que ele tenha competência para realizar o trabalho. Não acho que ele seja um republicano conservador. Não vou votar nele em novembro. Certamente também não vou votar em Joe Biden”.

Bolton e Trump estão envolvidos numa acesa discussão desde que o ex-conselheiro anunciou a publicação de um livro de memórias, agendada para a próxima terça-feira. O livro "The Room Where It Happened, A White House Memoir" revela, por exemplo, que o 45.º Presidente dos Estados Unidos terá pedido ajuda ao Presidente chinês para vencer as eleições deste ano.
Ideias “ingénuas e perigosas”
Durante a entrevista, o ex-conselheiro de Trump falou, precisamente, da afinidade entre o atual presidente e líderes autoritários, incluindo o ditador norte-coreano, Kim Jong Un, o qual Bolton considera que se revelou uma ameaça. Bolton criticou as estratégias de Trump, considerando-as “ingénuas e perigosas”:

A ideia de que, apenas essa oleaginosa camada de elogios a esse ditador brutal o iria convencer de que poderia fazer um acordo com Donald Trump era surpreendentemente ingénua e perigosa”.

“A ameaça da Coreia do Norte é absolutamente maior atualmente. Porque, enquanto ocorriam todas aquelas oportunidades fotográficas, não há dúvidas de que o trabalho da Coreia do Norte nos seus programas nucleares e balísticos continuou. É uma das sociedades mais secretas do planeta”, disse o antigo conselheiro da Casa Branca à ABC News.

Bolton disse não acreditar que o regime norte-coreano tenha “desacelerado nem um pouco durante estes dois anos de negociações”. “Tal como nos oito anos de Obama, perdemos mais dois ou três anos e a Coreia do Norte e as capacidades iranianas e de outros estados desonestos continuam a progredir”, acrescentou o ex-conselheiro.
Putin pode brincar com Trump “como um violino”

Ainda durante a entrevista, Bolton revelou o “fascínio” de Trump pelo presidente russo, Vladimir Putin.

“Acho que havia o mesmo fascínio em falar com um líder como Putin como aquele que vimos em relação a Xi Jinping e Kim Jong Un. Era difícil de explicar”, disse o ex-conselheiro da Segurança Nacional, acrescentando que acredita que Putin possa brincar com Trump “como um violino”.

Acho que Putin é inteligente, forte. Acho que ele consegue perceber que não está a enfrentar um adversário sério aqui. Não acho que ele esteja preocupado com Donald Trump”, disse Bolton à ABC News.

No seu novo livro, Bolton escreve sobre a sua preocupação em deixar o presidente norte-americano sozinho durante a cimeira de Helsínquia, em 2018, e diz ter ficado chocado quando Trump, lado a lado com Putin, refutou as acusações sobre a alegada interferência russa nas eleições presidenciais americanas de 2016 que deram a vitória a Donald Trump.
O caso ucraniano
O último capítulo do novo livro de Bolton é dedicado ao escândalo ucraniano, no qual Bolton revela que Donald Trump lhe disse diretamente, a 20 de agosto, que não entregava ajuda militar à Ucrânia enquanto esta não investigasse Joe Biden, o seu rival democrata nas eleições deste ano.

“Ele [Trump] disse que não era a favor de enviar nada [à Ucrânia] até que todo o material de investigação da Rússia relacionado a Clinton e Biden fosse entregue”, revelou o ex-conselheiro durante a entrevista.

“A defesa do presidente era: ele preocupa-se com a corrupção geral na Ucrânia e essa era a sua intenção. Isto é totalmente absurdo”, afirmou Bolton, acrescentando que o Governo ucraniano “percebeu totalmente” a conexão.

Ele queria uma investigação a Joe Biden em troca da assistência militar que fazia parte da legislação aprovada no Congresso há vários anos. Portanto, na sua cabeça, ele estava a negociar para obter a investigação, usando os recursos do Governo federal, o que eu achei muito perturbador”, confessou Bolton.

Num tweet em janeiro, Trump negou as afirmações do seu antigo conselheiro e argumentou que “NUNCA disse a John Bolton que a ajuda à Ucrânia estava dependente de investigações a democratas, incluindo os Bidens”.

Bolton, por sua vez, diz que Trump está a mentir “e também não é a primeira vez”.
“Padrão” de comportamento preocupante
Na entrevista, o ex-conselheiro da Casa Branca considera que as ações de Trump demonstram um “padrão” comportamental, no qual o presidente norte-americano coloca os seus relacionamentos pessoais e interesses políticos acima das prioridades de segurança nacional do país.

Quando se trata de reeleição, a sua dedicação era infinita e o seu foco era muito direto. É uma pena que não tivesse o mesmo comportamento quando se tratava de segurança nacional”, disse Bolton à ABC News.

No passado sábado, um juiz do Tribunal Distrital em Washington julgou improcedente o pedido da Administração Trump para que fosse travada a publicação do livro de Bolton, dando luz verde para a sua publicação na próxima terça-feira.

O presidente dos EUA tem tecido duras críticas ao livro do seu ex-conselheiro, afirmando tratar-se de uma coletânea de “mentiras e histórias falsas”.

No mesmo dia em que foi conhecida a decisão do juiz, Trump acusou Bolton de “violar a lei” e deixou a promessa de que o ex-conselheiro pagará “um preço grande” pela publicação deste livro.

“Ele gosta de largar bombas nas pessoas e matá-las. Agora ele terá bombas lançadas sobre ele”, escreveu Trump no Twitter.
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