Boris Johnson desafia Parlamento a apresentar uma moção de censura

por Graça Andrade Ramos - RTP
Boris Johnson, primeiro-ministro britânico, à saída do nº 10 de Downing Street, a 25 de setembro de 2019 Reuters

Um Boris Johnson ao ataque, propôs esta tarde aos deputados da oposição britânica um "remédio", a saber, uma moção de censura ao seu Governo. Sob um fundo de protestos constantes, o primeiro-ministro do Reino Unido acusou os trabalhistas de "puxar o travão de mão" do Brexit e prometeu, "não irei trair o povo".

A oposição, acusou o primeiro-ministro, só pretende um novo referendo do Brexit, por "não confiar no povo" e "não se preocupar" com as consequências económicas dos sucessivos atrasos da saída da União Europeia.

Enquanto o Governo quer acelerar o processo do Brexit, pondo "uma mudança acima", os Trabalhistas querem "puxar o travão de mão", acrescentou.

"Não irei trair o povo", prometeu, referindo que se têm registado "progressos nas conversações com a União Europeia sobre o Brexit".
Moção de censura
Os partido da oposição estão a prometer um segundo referendo, acusou ainda Johnson, mas a ideia de que este "possa vir a suceder, com o povo a respeitar o resultado, é uma fantasia".

"O público não quer um segundo referendo. Quer que o primeiro seja honrado", defendeu.

Já os partidos da oposição têm "um remédio à sua disposição", acrescentou o primeiro-ministro, referindo que os trabalhistas poderão apresentar uma moção de censura ainda esta quarta-feira.

"Se o fizerem, poderão ter uma votação amanhã", propôs.

"Irá Corbyn votar uma moção de censura contra mim?", perguntou Boris Johnson. "Será que quer sequer ser primeiro-ministro?", acrescentou.

"Corbyn quer que eu vá a Bruxelas dia 17 de outubro, para negociar um adiamento. Mas não quer ir ele mesmo", acusou logo depois.

"E mesmo que ele queira ir, os seus colegas não o irão deixar, porque não o querem a negociar em nome do reino Unido com pessoas como Vladimir Putin", o Presidente da Rússia.  
Corbyn: Johnson devia demitir-se
Na sua resposta, o líder trabalhista, Jeremy Corbyn, considerou o discurso de Boris Johnson "nulo, sem efeito e deveria ser esmagado".

"Este é um momento extraordinário e precário da história deste país", considerou.

"O tribunal mais importante do Reino Unido concluiu que o primeiro-ministro violou a lei. Os juízes concluíram que não havia razões, quanto mais uma boa razão, para o primeiro-ministro ter encerrado o Parlamento", referiu.

Boris Johnson "deveria ter feito o que é certo e demitir-se em seguida", defendeu Corbyn. "Em vez disso, está aqui, sem qualquer vestígio de humildade e também sem substância".

"Pelo bem do país, Johnson devia ir-se embora", apelou o líder da oposição.

Jeremy Corbyn referiu que quer eleições. E que Johnson quer eleições. E concluiu, "se ele quer eleições, que consiga um adiamento e teremos eleições!"

Sabe-se que os trabalhistas estão a trabalhar ativamente na possibilidade eleições antecipadas, condicionadas ao prolongamento do prazo do Brexit, atualmente marcado para 31 de outubro.

"Esperam que o primeiro-ministro morda o isco", referiu um comentador da BBC.

Suspensão ilegal
Boris Johnson foi forçado a dirigir-se ao Parlamento após, terça-feira, o Supremo Tribunal ter decretado ilegal a suspensão conseguida pelo primeiro-ministro no início do mês.

Com a suspensão do Parlamento, Boris Johnson pretendia obrigar os deputados a só voltar a debater o Brexit após 14 de outubro, mesmo em cima de uma nova cimeira europeia e a duas semanas da data marcada para a saída do Reino Unido da União Euopeia.

Em vez disso, a Câmara Baixa voltou a reunir-se esta quarta-feira, com os conservadores a dominarem o regimento da sessão e a marcarem a intervenção de Johnson.

O discurso do primeiro-ministro à Câmara estava inicialmente previsto para depois das 17h00 locais, mas o próprio primeiro ministro só chegou ao Parlamento pelas 17h45.

Pelas 18h00, o speaker do Parlamento, John Bercow, anunciou que o início da intervenção de Johnson estava marcado para as 18h30.
Mini suspensão
Também pelas 18h00, soube-se que os deputados trabalhistas estavam a receber mensagens para estarem presentes na Câmara quinta-feira às 09h30 da manhã, hora a que o Governo estaria a pretender passar uma nova suspensão do Parlamento, de forma a permitir aos deputados conservadores participarem na convenção do partido em Manchester.
O Governo terá entretanto rejeitado uma proposta trabalhista para uma mini-suspensão de três dias.
O que está em causa
O destino do Brexit - e da crise política britânica - definiu-se nos últimos meses ao longo de três eixos básicos: a antecipação de eleições legislativas, a forma de impedir um Brexit sem acordo e a atribuição de culpas caso o Brexit corra mal.

Os opositores do primeiro-ministro querem força-lo a ceder na possibilidade, defendida com unhas e dentes por Boris Johnson, de um Brexit sem acordo já a 31 de outubro. Um recuo que o iria fragilizar, obrigando-o ou a conseguir um acordo de saída, ou a adiar o Brexit para depois de novas eleições.

Para tal, os deputados conseguiram a três de setembro contornar a ordem regimental prevista, através de um debate de emergência, o que lhes permitiu passar legislação a proibir um Brexit desordenado.

A tática de Johnson tem sido pugnar por eleições já em outubro, antes da cimeira europeia marcada para 17 e 18 desse mês, solução já rejeitada pelos deputados.

As próximas eleições estão previstas para 2022 e para as antecipar é necessário o consentimento de 434 dos 650 deputados da Câmara Baixa.
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