Brexit. França foi país que mais se opôs a extensão longa

por Joana Raposo Santos - RTP
A Áustria foi um dos países a apoiar firmemente a posição de Emmanuel Macron Yves Herman - Reuters

Apesar de quatro dos 27 líderes europeus terem demonstrado a preferência por uma extensão curta do prazo para o Brexit, acabou por ser aprovado em Conselho Europeu o adiamento da saída do Reino Unido da União Europeia até ao dia 31 de outubro, com uma revisão intercalar do processo marcada para 30 de junho. França foi o país a exibir maior resistência a um prolongamento longo e Emmanuel Macron responsabilizou-se por ter convencido os restantes membros a aceitar o que acabou por considerar “o melhor compromisso possível”.

Durante a cimeira de quarta-feira, Emmanuel Macron foi um dos principais opositores a uma extensão muito longa do Brexit. O Presidente francês considerou que uma extensão a médio prazo era a melhor alternativa e assumiu a responsabilidade por ter convencido os restantes líderes a concordar com um adiamento não tão longo como alguns desejavam.

“É verdade que a maioria estava a favor de uma extensão muito longa mas, do meu ponto de vista, não fazia sentido e, acima de tudo, não seria bom para nenhum de nós, nem para o Reino Unido”, declarou. “Tomo responsabilidade por esta posição, penso que é para o bem coletivo”.A Áustria foi um dos países a apoiar firmemente a posição de Emmanuel Macron, defendendo um prolongamento curto.

Acho que conseguimos o melhor compromisso possível. Em primeiro lugar porque preserva a união dos 27, em segundo porque satisfizemos o pedido do Reino Unido para que este tenha mais tempo para concluir o acordo com base no acordo de saída negociado há alguns meses”, declarou Macron.

“E em terceiro porque, graças a este acordo, preservamos o bom funcionamento da União Europeia, ou seja, fixamos um acordo e todas as consequências antes do dia 1 de novembro, que será a data da entrada em funções da nova Comissão, portanto, para mim, esta é uma boa solução”.

De acordo com fontes diplomáticas, antes de entrar para a cimeira o Presidente francês tinha vincado a sua posição ao afirmar que um adiamento que ultrapassasse a data de 30 de junho poderia colocar em risco o bloco.
Merkel solidária
A Alemanha mostrou-se mais solidária para com o Reino Unido, com Angela Merkel a considerar que, “se queremos uma saída ordeira, essa saída será melhor assegurada se dermos algum tempo” ao Parlamento britânico.

“Para mim é muito importante que o Reino Unido concorde em preparar-se para as Eleições Europeias. Isso garante o funcionamento das instituições da UE”, avançou ainda a chanceler alemã, momentos antes da cimeira.

Já o ministro alemão para Assuntos Europeus, Michael Roth, defendeu que uma extensão flexível deveria ser tão curta quanto possível e acredita que, a partir de agora, “todas as opções estão na mesa”.


“Queridos amigos britânicos, concretizem agora” o acordo final, apelou Roth através da rede social Twitter.
Oportunidade a “não desperdiçar”
No final do encontro, o presidente do Conselho Europeu pediu a Theresa May para “não desperdiçar este tempo” que foi agora concedido, lembrando ainda que “o rumo da ação estará nas mãos” do Reino Unido até 31 de outubro.

“Acho sempre que é melhor ter uma parte de alguma coisa do que a totalidade de nada”, afiançou Donald Tusk. “Estes seis meses e três semanas poderão ser suficientes para uma boa solução, se houver boa vontade e maioria para uma solução em Londres, na Câmara dos Comuns”.

“No geral estou satisfeito porque não só a discussão de hoje, mas também as nossas preparações, revelaram que a ideia de uma extensão flexível não era muito óbvia para alguns dos nossos parceiros. É por isso que temos de estar talvez não felizes, mas satisfeitos com esta solução”.

Jean-Claude Juncker esclareceu que o encontro a 30 de junho servirá para preparar a reunião de 31 de outubro e não para negociar. “Em junho faremos um balanço do que passou desde agora até essa data. Não é uma sessão de negociações. Não é mais um evento que colocaríamos no programa normal”.

“O verdadeiro momento, o momento vital de decisão é em outubro”, relembrou o presidente da Comissão Europeia.
“Acelerar o ritmo”
Theresa May reconheceu que o facto de ter solicitado um adiamento da saída do Reino Unido da União Europeia levou à “enorme frustração” de muitas pessoas e pediu ao Parlamento britânico que finalmente apoie o seu acordo.

“Sei que existe enorme frustração por parte de muitas pessoas por eu ter pedido esta extensão. O Reino Unido já devia ter saído da UE e lamento sinceramente ainda não ter sido capaz de persuadir o Parlamento a aprovar o acordo”, avançou.

“Mas as escolhas que agora enfrentamos e o prazo são claros. Portanto agora devemos acelerar o ritmo dos nossos esforços para alcançar um consenso sobre um acordo que é do interesse nacional”, declarou.

“O que esta extensão nos permite fazer é executar o processo e permitir ao Parlamento chegar a uma maioria sobre o caminho a seguir de modo a que consigamos ratificar o acordo e sair da União Europeia”.

A primeira-ministra britânica acrescentou que não irá fingir que as próximas semanas “serão fáceis ou que existe uma maneira simples de quebrar o impasse no Parlamento”. Acredita, porém, que se a Câmara dos Comuns “chegar a um acordo agora” ainda é possível a saída a 22 de maio.

“Se conseguirmos sair antes de 27 de maio, então não teremos de participar nas eleições ao Parlamento Europeu”, garantiu.
Trump critica UE
Donald Trump também já se pronunciou sobre a decisão dos 27. O Presidente norte-americano acredita que a União Europeia está “a ser dura com o Reino Unido e com o Brexit”.


“A UE é também um brutal parceiro comercial com os Estados Unidos, o que irá mudar”. Já no início desta semana Trump tinha acusado a União de “abusar dos EUA no comércio há muito tempo”.
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