Canal da Mancha. França acusada de recuar na promessa de intercetar barcos de migrantes

Numa altura em que Paris é acusada de não implementar o plano para travar a imigração ilegal no Canal da Mancha, que separa a França e o Reino Unido, o Ministério britânico do Interior afirma esta quinta-feira que a França está a rever a sua "doutrina marítima". A BBC avança que parte do acordo está ameaçada e pode nunca ser implementada, devido à turbulência política no Hexágono.

Rachel Mestre Mesquita - RTP /
"Uma doutrina tão desumana, absurda e vergonhosa corre o risco de provocar naufrágios e mortes, cuja responsabilidade moral e criminal recairia inteiramente sobre o pessoal responsável pela realização das intervenções", alerta o sindicato Solidaires Douanes (Fronteiras Solidárias). Abdul Saboor - Reuters

O sindicato Douanes Solidaires (Fronteiras Solidárias, em português) constituído por guardas costeiros franceses exige a suspensão dos "planos mortais" para intercetar pequenas embarcações devido ao risco de vida, segundo o Guardian

Numa carta dirigida ao diretor-geral das alfândegas francesas, Florian Colas, o sindicato Solidaires Douanes considera o plano para intercetar pequenas embarcações até 300 metros da costa francesa como "uma doutrina mortal, que viola as convenções internacionais das quais França é signatária""Uma doutrina tão desumana, absurda e vergonhosa corre o risco de provocar naufrágios e mortes, cuja responsabilidade moral e criminal recairia inteiramente sobre o pessoal responsável pela realização das intervenções", alerta. 
Paris está a rever a "doutrina marítima"

Numa altura em que França é acusada de não implementar o plano para travar a imigração ilegal através do Canal da Mancha, o Ministério do Interior do Reino Unido afirmou esta quinta-feira que a França estava a rever a sua "doutrina marítima" e pretendia "ver a implementação das novas táticas (mais intervencionistas) o mais rapidamente possível". 

"As travessias em pequenas embarcações são totalmente inaceitáveis e continuamos determinados a impedir os traficantes de pessoas que estão por trás delas. A França é um parceiro fundamental no combate à migração ilegal e continuamos a trabalhar em estreita colaboração enquanto eles revêem a sua doutrina marítima, o que permitirá aos agentes intervir em águas pouco profundas", afirma o ministério britânico do Interior. "Graças ao nosso acordo histórico com os franceses, as pessoas que atravessam em pequenas embarcações podem agora ser detidas e removidas", concluiu. 
"Um golpe político"

No entanto a BBC avança esta quinta-feira que parte do acordo entre Londres e Paris para impedir a passagem de barcos pela costa francesa está ameaçada e pode nunca ser implementada, em plena crise política em França. Segundo a BBC, fontes de segurança marítima francesas descreveram o plano como sendo "apenas um golpe político". 

O acordo foi alcançado quando Yvette Cooper era a ministra britânico do Interior e Bruno Retailleau ministro francês do Interior, mas ambos já não ocupam os cargos.  Yvette Cooper ocupa atualmente o cargo de chefe da diplomacia britânica e Bruno Retailleau, abandanou o Governo quando Sébastien Lecornu assumiu o cargo de primeiro-ministro. 

Um porta-voz do sindicato da polícia francesa, Jean-Pierre Cloez, disse ao Guardian que os planos estavam "em espera". "Considerámos na altura que era perigoso. As regras, por enquanto, são as mesmas. Não há nenhuma mudança na forma como fazemos as coisas", declarou. 

O chefe da segurança das fronteiras do Reino Unido manifestou frustração pelo facto das autoridades francesas ainda não terem implementado o plano. 

Ouvido pela Comissão de Assuntos Internos da Câmara dos Comuns, na semana passada,  Martin Hewitt culpou "a instabilidade política" em França pelo fracasso em implementar táticas mais intervencionistas contra os barcos que recolhem pessoas em águas rasas ao largo da costa francesa. 

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