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Caracas denuncia "ameaça grotesca". Trump ordena bloqueio de petroleiros sancionados
Trump ordenou o bloqueio de petroleiros sancionados que entram e saem da Venezuela. A medida, que surge em plena escalada da campanha contra Maduro, é considerada por Caracas como uma "ameaça grotesca".
O presidente norte-americano, Donald Trump, ordenou um bloqueio “total e completo” de todos os petroleiros sancionados que entram e saem da Venezuela, intensificando a pressão sobre o líder venezuelano, Nicolás Maduro.
A medida surge no meio de uma escalada da campanha da administração Trump contra Maduro, que inclui uma presença militar reforçada na região e mais de duas dezenas de ataques militares contra embarcações no Oceano Pacífico e no Mar das Caraíbas, perto da Venezuela, que mataram dezenas de pessoas.Na semana passada, o Comando Sul dos Estados Unidos, que atacou até agora mais de três dezenas de embarcações e executou 95 tripulantes alegadamente ligados ao narcotráfico nas Caraíbas e no Pacífico oriental, apreendeu em águas internacionais o petroleiro Skipper, que transportava petróleo venezuelano.Segundo o New York Times, o petroleiro estava carregado com cerca de dois milhões de barris de crude venezuelano.
O Governo venezuelano acusou os EUA de “roubo descarado” e descreveu a apreensão como “um ato de pirataria internacional”, aumentando ainda mais as tensões entre os dois países.
Terça-feira, na publicação nas redes sociais onde anunciou o bloqueio, Trump alegou que a Venezuela estava a usar petróleo para financiar o tráfico de droga e outros crimes, e prometeu intensificar o reforço militar.
“A Venezuela está completamente cercada pela maior armada alguma vez reunida na história da América do Sul”, escreveu Trump na plataforma Truth Social. “Só vai aumentar, e o choque para eles será algo que nunca viram antes… hoje, estou a ordenar um bloqueio total e completo de todos os petroleiros sancionados que entram e saem da Venezuela”, acrescentou.
O presidente norte-americano argumenta na mensagem que "o regime ilegítimo de Maduro está a usar o petróleo desses campos roubados para se financiar a si mesmo, o narcoterrorismo, o tráfico de pessoas, assassinatos e sequestros".
Não é claro como é que a administração Trump vai impor o bloqueio contra os navios sancionados, e se vai recorrer à Guarda Costeira para intercetar embarcações, como fez na semana passada.
Trump intensificou as ações contra a Venezuela nos últimos meses. Na terça-feira, o Pentágono afirmou ter realizado ataques contra três embarcações acusadas de tráfico de droga no Pacífico, matando oito pessoas. Desde 2 de setembro, mais de 20 ataques mataram pelo menos 95 pessoas, a maioria na costa da Venezuela.
Os Estados Unidos também reforçaram a presença militar no mar das Caraíbas desde agosto, sob o argumento da luta contra o narcotráfico, enviando para a região em outubro o maior porta-aviões do mundo, o USS Gerald R. Ford, com cerca de cinco mil militares a bordo e 75 aviões de combate, incluindo caças F-18, com uma escolta de cinco contratorpedeiros.
A Administração Trump defendeu os seus esforços como um sucesso, afirmando que impediu a chegada de drogas ao território americano e rebateu as preocupações de que estaria a ultrapassar os limites da guerra legítima.
O Governo afirmou ainda que a campanha visa impedir a entrada de drogas nos EUA, mas a chefe de gabinete de Trump, Susie Wiles, pareceu confirmar, numa entrevista à Vanity Fair publicada na terça-feira, que a campanha faz parte de uma estratégia para derrubar Maduro.
Wiles disse que Trump "quer continuar a rebentar com barcos até que Maduro se renda"“Ameaça grotesca”
Maduro tinha afirmado antes da publicação de Trump na rede social Truth Social, que “o imperialismo e a direita fascista querem colonizar a Venezuela para se apoderarem das suas riquezas em petróleo, gás, ouro, entre outros minerais. Juramos defender a nossa pátria e, na Venezuela, a paz triunfará”.O Governo da Venezuela classificou a ordem de bloqueio de Trump como uma “ameaça grotesca”.
“O presidente dos Estados Unidos pretende impor, de forma totalmente irracional, um alegado bloqueio naval à Venezuela com o objetivo de roubar as riquezas que pertencem à nossa pátria”, afirmou o governo venezuelano em comunicado.
A Venezuela considera que a decisão de Trump viola "o direito internacional, o livre comércio e a livre navegação", o que classificou como "ameaça temerária e grave".
Caracas acrescenta que a "verdadeira intenção" do presidente norte-americano "sempre foi apropriar-se do petróleo, das terras e dos minerais do país por meio de gigantescas campanhas de mentiras e manipulações", uma acusação que vem a repetir há semanas.
Caracas anuncia ainda que procederá, em "estrita conformidade com a Carta da ONU, de acordo com o exercício pleno da sua liberdade, jurisdição e soberania, acima das ameaças belicistas", e que o seu embaixador junto ao organismo multilateral denunciará de imediato "essa grave violação do direito internacional contra a Venezuela".
“A Venezuela nunca mais voltará a ser colónia de um império ou de qualquer potência estrangeira", afirma o comunicado do Governo venezuelano, que apela ao povo norte-americano e ao mundo para "rejeitarem por todos os meios esta ameaça extravagante".Exportações venezuelanas em queda drástica
Os exportadores do mercado petrolífero afirmaram que os preços estavam a subir em antecipação de uma possível redução das exportações venezuelanas, embora ainda aguardassem para ver como o bloqueio de Trump seria aplicado e se se estenderia a embarcações não sancionadas.
Um embargo eficaz está em vigor desde que os EUA apreenderam um petroleiro sancionado ao largo da costa da Venezuela na semana passada, com embarcações carregadas com milhões de barris de petróleo a permanecerem em águas venezuelanas em vez de correrem o risco de serem apreendidas.
Desde a apreensão do petroleiro Skippe, que as exportações de crude da Venezuela caíram drasticamente, uma situação agravada por um ciberataque que derrubou esta semana os sistemas administrativos da PDVSA, a petrolífera estatal venezuelana.
Embora muitos navios que transportam petróleo na Venezuela estejam sob sanções, outros que transportam petróleo bruto do país, proveniente do Irão e da Rússia, não foram sancionados, e algumas empresas, particularmente a americana Chevron, transportam petróleo venezuelano nos seus próprios navios autorizados.
Por enquanto, o mercado petrolífero está bem abastecido e há milhões de barris de petróleo em petroleiros na costa da China à espera de descarregar. Se o embargo se mantiver em vigor durante algum tempo, a perda de quase um milhão de barris por dia de fornecimento de crude irá provavelmente elevar os preços do petróleo.
c/ agências