China. Protestos em várias cidades contra a política de "covid zero"

por Cristina Sambado - RTP
Mark R. Cristino - EPA

Centenas de manifestantes entraram em confrontos com a polícia em Xangai durante os protestos contra a política "covid-zero" na China. Também nas cidades de Pequim, Chengdu, Wuhan e Guangzhou aumentaram as manifestações contra as restrições no país, no que já é visto como um teste ao presidente Xi Jinping que garantiu um terceiro mandato histórico no poder.

Em Xangai, duas pessoas foram detidas esta segunda-feira.

Nos protestos, ouviram-se slogans antigovernamentais, numa rara demonstração de hostilidade contra o regime e a rigorosa política "covid zero", aplicada desde o início da pandemia, em 2020.

Também em Xangai, um jornalista da BBC foi espancado e pontapeado pela polícia, antes de ser detido no domingo.

A emissora pública britânica, através de um porta-voz, mostrou-se “muito preocupada” ao confirmar que o repórter de imagem Edward Lawrence “foi atacado” em Xangai no domingo, como demonstram imagens partilhadas nas redes sociais, nas quais se vê agentes da polícia a arrastarem o jornalista algemado pelo chão.

Edward Lawrence, que trabalha na delegação da BBC em Pequim, viajou para Xangai para cobrir os protestos dos últimos dias.

Esta segunda-feira, a China afirmou que Edward Lawrence “não se identificou como jornalista”.


“De acordo com aquilo que nos foi transmitido pelas autoridades competentes em Xangai, ele não se identificou como jornalista e não apresentou voluntariamente as suas credenciais de imprensa”, disse Zhao Lijian, porta-voz do ministério dos Negócios Estrangeiros chinês, apelando à imprensa estrangeira que “respeite as leis e regulamentos chineses enquanto estiverem na China”.

Já o Governo britânico classificou como "inaceitável" e "preocupante" a violência sofrida pelo um jornalista da BBC na China.


“Seja qual for a situação, a liberdade de imprensa deve ser sacrossanta”, declarou o ministro dos Negócios, Energia e Estratégia Industrial britânico, Grant Shapps, à rádio britânica LBC.Esta segunda-feira, a China registou um novo recorde diário de infeções por SARS-CoV-2, com 40.347 casos. As cidades de Guangzhou e Chongqing, com milhares de casos, lutam para conter os surtos. Centenas de infeções também foram registradas em várias outras cidades do país.

Ao abrigo da política “covid-zero”, a China impõe o bloqueio de bairros ou cidades inteiras, a realização constante de testes em massa e o isolamento de todos os casos positivos e respetivos contactos diretos em instalações designadas, muitas vezes em condições degradantes.

Em Pequim, dois grupos de manifestantes, totalizando pelo menos mil pessoas, reuniram-se, às primeiras horas desta manhã, ao longo do terceiro anel rodoviário da capital junto das embaixadas, perto do rio Liangma, recusando-se a dispersar.

A maioria dos manifestantes era constituída por jovens, que exibiam folhas de papel em branco, numa crítica implícita à censura exercida pelo regime chinês, que apaga das redes sociais comentários críticos e vídeos e fotografias suscetíveis de denegrir a sua imagem.
As palavras de ordem foram sobretudo dirigidas à estratégia chinesa de ‘covid zero, que inclui o bloqueio de bairros e cidades inteiras, por vezes ao longo de meses, e a realização constante de testes PCR em massa.

O líder chinês, Xi Jinping, insiste que a política “covid-zero” pode salvar vidas no país, que registou oficialmente pouco mais de 5.200 óbitos devido à covid-19.

Os protestos em várias cidades chinesas e o aumento de casos de covid-19 no país levaram a uma queda acentuada nas bolsas asiáticas. Na cidade de Wuhan, no centro do país e onde a pandemia começou há três anos, centenas de moradores saíram às ruas, derrubando as barreiras de metal, tendas de testagem e a exigir o fim dos bloqueios. A causa dos protestos Os protestos foram desencadeados após um incêndio num bloco de apartamentos em Urumqi, na passada semana. Devido às medidas de prevenção epidémica, o camião dos bombeiros não conseguiu entrar no bairro e os moradores também não conseguiram abandonar o prédio porque a porta estava trancada. Muitos dos quatro milhões de residentes da capital da região de Xinjiang estão a sofrer o confinamento mais longo do país, ao serem impedidos de deixar as suas casas durante cem dias.

Os protestos começaram, na quinta-feira, com uma vigília com velas e flores, organizada em memória das vítimas do incêndio na cidade de Urumqi, que resultou em dez mortos. Os manifestantes começaram, a seguir, a marchar pelas ruas circundantes, tendo sido circundados mais tarde por centenas de agentes da polícia.

Na passada semana, na maior fábrica da Iphone no mundo, na cidade de Zhengzho, eclodiram protestos com os trabalhadores a arremessar barras de metal contra agentes de segurança, depois de a empresa ter imposto um regime de trabalho em ‘circuito fechado’, proibindo-os de abandonar as instalações, e revisto as condições salariais.
Amnistia Internacional pede contenção  A Amnistia Internacional pediu às autoridades chinesas para que se contenham perante os protestos contra as restritivas medidas de prevenção da covid-19.

"Em vez de penalizar o povo, o Governo deveria ouvir os seus apelos. As autoridades devem permitir que as pessoas expressem os seus pensamentos livremente e protestem pacificamente sem medo de represálias", afirmou a subdiretora regional da organização de defesa dos direitos humanos, Hana Young.

Segundo a Amnistia Internacional, dezenas de pessoas foram detidas nos protestos noturnos de sábado e uma mulher foi detida em Urumqi por "difundir rumores".

c/Agências
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