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China quer aprovar o nome do sucessor de Dalai Lama

O líder espiritual do Tibete, Dalai Lama, confirmou esta quarta-feira que, após a sua morte, será nomeado um sucessor para continuar o seu papel, o que provocou uma reação imediata da China, que exige ter uma palavra final na aprovação do nome.

Cristina Sambado - RTP /
Anushree Fadnavis - Reuters

A declaração, ansiosamente aguardada, feita dias antes de o frágil laureado com o Prémio Nobel da Paz completar 90 anos, põe fim à especulação, iniciada pelo próprio Dalai Lama, de que poderá ser o último dos líderes espirituais do Tibete, pondo fim a uma linhagem que remonta a séculos.

Falando durante uma semana de celebrações na cidade de Dharamshala, no norte da Índia, para assinalar o seu aniversário, o Dalai Lama disse que uma instituição sem fins lucrativos que criou terá a autoridade exclusiva para identificar a sua reencarnação, contrariando a insistência da China de que escolherá o sucessor.O Dalai Lama tem insistido que o seu sucessor deverá nascer fora da China. Pequim, que o considera um separatista, afirmou que tem autoridade para encontrar a reencarnação do Dalai Lama.

Pequim reiterou esta quarta-feira que tem de aprovar a reencarnação e que esta tem de ser efetuada na China através de um ritual secular. Pequim considera o Dalai Lama, que fugiu do Tibete para a Índia em 1959 após uma revolta falhada contra o domínio chinês, como um separatista.

A reencarnação de grandes figuras budistas, como o Dalai Lama e o Panchen Lama, deve ser designada por sorteio (...) e depois aprovada pelo governo central”, declarou Mao Ning, porta-voz do Ministério chinês dos Negócios Estrangeiros. As tropas invadiram o Tibete em 1950 e transformaram-no numa província chinesa.

O ritual de seleção, em que os nomes das possíveis reencarnações são retirados de uma urna dourada, data de 1793, durante a dinastia Qing. “A reencarnação infantil de um grande Buda Vivo, como o Dalai Lama e o Panchen Lama, tem de ser identificada através da retirada de um lote de uma urna dourada e da aprovação do governo central”, explicou Mao Ning.

Em 1995, a China raptou e deteve uma criança de seis anos que o Dalai Lama tinha acabado de designar como Panchen Lama, a outra figura religiosa tibetana de primeiro plano. 

O Dalai Lama afirmou que o seu sucessor nascerá fora da China e exortou os seus seguidores a rejeitarem qualquer pessoa escolhida por Pequim.

“Afirmo que a instituição do Dalai Lama será perpetuada” disse o líder espiritual budista numa mensagem de vídeo, desencadeando palmas e aplausos de mais de 100 monges com vestes castanhas que se reuniram numa biblioteca em Dharamshala.Os budistas tibetanos acreditam que o Dalai Lama pode escolher o corpo em que vai reencarnar, o que aconteceu em 14 ocasiões desde a criação da instituição em 1587.

O evento contou também com a presença de jornalistas de todo o mundo e de apoiantes de longa data, incluindo a estrela de Hollywood Richard Gere, que se sentou na plateia num salão com pinturas ornamentadas de Buda e fotografias do Dalai Lama nas paredes.

O líder espiritual budista tibetano frisou que o Gaden Phodrang Trust, a organização sem fins lucrativos que ele criou para manter e apoiar a tradição e a instituição do Dalai Lama, tem a autoridade exclusiva para reconhecer a sua reencarnação em consulta com os chefes das tradições budistas tibetanas.

"Eles devem, portanto, realizar os procedimentos de busca e reconhecimento de acordo com a tradição passada. Ninguém mais tem autoridade para interferir neste assunto", acrescentou.

A maioria dos budistas tibetanos, no Tibete e no exílio, opõe-se ao controlo apertado do Tibete pela China.


O atual Dalai Lama, considerado um perigoso separatista por Pequim, já excluiu em várias ocasiões a ideia de o 15.º Dalai Lama ser nomeado pelos chineses.A questão da sua sucessão é objeto de um braço de ferro entre o Dalai Lama e Pequim, que pretende nomear um sucessor de pleno direito.

Terá necessariamente de “nascer no mundo livre”, prometeu publicamente.

Nada mudou em relação ao envolvimento da China, o assunto não foi abordado em pormenor”, declarou Samdhong Rinpoche, representante do gabinete do Dalai Lama, à imprensa após a transmissão da mensagem14.º Dalai Lama
Tenzin Gyatso tornou-se a 14ª reencarnação do Dalai Lama em 1940. Fugiu do Tibete quando as tropas chinesas esmagaram uma revolta na capital tibetana, Lhasa, em 1959, e vive desde então no exílio, no mosteiro de McLeod Gan, na cidade de Dharamshala, no sopé dos himalaias indianos.A tradição tibetana afirma que a alma de um monge budista sénior reencarna no corpo de uma criança após a sua morte.

Nascido como Lhamo Dhondup, a 6 de julho de 1935, no seio de uma família de agricultores da atual província de Qinghai, o 14.º Dalai Lama foi identificado como uma reencarnação quando tinha apenas dois anos de idade por um grupo de busca, com base em vários sinais, tais como uma visão revelada a um monge sénior, revela a página da internet do Dalai Lama.

É considerado, atualmente, uma das figuras religiosas mais influentes do mundo, com seguidores que vão muito além do budismo, e foi galardoado com o Prémio Nobel da Paz em 1989, tornou-se desde então um símbolo mundial da luta pela liberdade nos Himalaias.

Em 2011, o Dalai Lama renunciou ao poder político do seu cargo, confiando-o a um primeiro-ministro, eleito pela diáspora, e a um governo no exílio.

Tsering, o líder do governo no exílio, disse que os EUA tinham levantado algumas restrições aos fundos para os tibetanos no exílio e que o governo tibetano estava também à procura de fontes alternativas de financiamento.

c/ agências
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