Duzentos e quarenta votos a favor, 187 contra. Foi assim que a Câmara dos Representantes dos Estados Unidos sufragou, na última noite, uma moção a condenar “comentários racistas” do Presidente norte-americano para com quatro legisladoras daquele braço do Congresso. Quatro republicanos aprovaram o texto.
No passado domingo, Donald Trump apontou uma bateria de tweets a Alexandria Ocasio-Cortez, Rashida Tlaib, Ilhan Omar e Ayanna Pressley, membros democratas da Câmara dos Representantes – eleitas por Nova Iorque, Michigan, Minnesota e Massachusetts, respetivamente.
Numa extensa diatribe, o Presidente dos Estados Unidos escreveu que as quatro congressistas “deveriam regressar e ajudar a consertar os sítios completamente quebrados e infestados de crime de onde vieram”. Acusou-as mesmo de disseminarem “algumas das coisas mais vis, odiosas e repugnantes alguma vez ditas por um político”.
“Se odeiam o vosso país, ou se não estão aqui felizes, podem ir”, atirou adiante.
....and viciously telling the people of the United States, the greatest and most powerful Nation on earth, how our government is to be run. Why don’t they go back and help fix the totally broken and crime infested places from which they came. Then come back and show us how....
— Donald J. Trump (@realDonaldTrump) 14 de julho de 2019
Nas horas que antecederam a aprovação da moção na Câmara, vários membros do Congresso, entre os quais republicanos, saíram a público para criticar as palavras saídas da Casa Branca, denunciando o tom racista. “Não tenho um osso racista no meu corpo”, reagiria Trump.
Outras vozes republicanas, porém, acusaram o campo democrata de querer retirar dividendos políticos do clamor gerado pelos textos do Presidente no Twitter.
O que disseram os quatro republicanos
Em conferência de imprensa, após a sucessão de tweets e declarações públicas do Presidente, as quatro democratas visadas acusaram Trump de dar voz a uma “agenda de nacionalistas brancos”, apelando aos norte-americanos para que “não mordam o anzol”.
Nas fileiras republicanas, Will Hurd, do Texas, Susan Brooks, do Indiana, Brian Fitzpatrick, da Pensilvânia, e Fred Upton, do Michigan, votaram favoravelmente a moção submetida na noite de terça-feira à Câmara dos Representantes.
Em declarações à CNN, logo na segunda-feira, Will Hurd, que é o único afroamericano eleito pelo Partido Republicano para aquela Câmara, considerou os tweets de Trump “racistas” e “xenófobos”.
“São também imprecisos. As quatro mulheres a que ele se refere são, na realidade, cidadãs dos Estados Unidos. Três das quatro nasceram aqui. É também um comportamento inadequado para o líder do mundo livre. Ele deveria falar de coisas que nos unem, não daqueles que nos dividem”, redarguiu.
Por sua vez, Susan Brooks, a cumprir o último mandato no Congresso, recorreu também ao Twitter para repudiar os “comentários racialmente ofensivos” do Presidente norte-americano, que “não refletem os valores americanos”.
Yesterday, I issued a statement regarding the President’s recent inappropriate remarks because I believe they do not reflect American values. I believe our diverse backgrounds as Americans make our country greater and stronger. These differences should be celebrated by all of us.
— Susan W. Brooks (@SusanWBrooks) 17 de julho de 2019
“Devemos lembrar-nos de que as nossas palavras importam e têm um grande peso. As nossas palavras e a forma como as dizemos têm um impacto que perdura naqueles que as ouvem”, acentuou, sem deixar de se dizer, ao mesmo tempo, “desapontada com os democratas que se recusam a responsabilizar os seus próprios membros pelo discurso direcionado, antissemita e odioso”.
“Concordo com muito do que o Presidente faz do ponto de vista das políticas, desde a reforma fiscal à imigração, quando se trata de segurança fronteiriça. Discordo do Presidente no tom. Sou um republicano de Ronald Reagan e foi nesta área que cresci”, afirmou Brian Fitzpatrick, outro dos republicanos que aprovaram a moção.
A rede social preferida do 45.º Presidente foi igualmente a plataforma escolhida por Fred Upton para explica por que razão decidiu viabilizar a moção na Câmara dos Representantes. Tratou-se de uma mensagem “apontada a palavras específicas que francamente não são aceitáveis por parte de um líder de qualquer local de trabalho, pequeno ou grande”.
Today’s resolution was targeted at the specific words that frankly are not acceptable from a leader in any work place large or small. If we’re going to bring civility back to the center of our politics, we must speak out against...
— Fred Upton (@RepFredUpton) 16 de julho de 2019
“Se quisermos fazer regressar a civilidade ao centro da nossa política, temos de falar contra a retórica inflamatória de quem quer que seja, em qualquer parte, sempre que aconteça. A América acolhe a diversidade e isso deve continuar”, escreveu.
c/ agências