Consultora denuncia comportamento anti-ecológico da Shell e demite-se

por RTP
O pedido de demissão da consultora é divulgado na véspera da Assembleia Geral da Shell, esta terça-feira, em que serão analisados os planos de redução de emissões Luke MacGregor/ Reuters

Uma consultora da Shell bateu com a porta, com grande estrondo, após mais de 10 anos de relação laboral. Caroline Dennett acusou a petrolífera de ter um comportamento hipócrita sobre o clima e de “não colocar a segurança ambiental antes da produção”. Considerando que a multinacional “menospreza os efeitos das alterações climáticas”, a consultora não hesita em acusar a empresa de provocar “danos extremos” ao ambiente.

Numa mensagem de despedida dirigida aos executivos e aos 1.400 funcionários, acompanhada de uma curta mensagem de vídeo publicada no LinkedIn, a consultora explica que, enquanto a mensagem pública da empresa é a atingir o impacto zero no meio ambiente, na prática a empresa não está a implementar qualquer medida para abrandar a extração de combustíveis fósseis.

Eles sabem que a extração contínua de petróleo e gás causa danos extremos ao nosso clima, ao meio ambiente e às pessoas”, declarou a consultora, que começou a trabalhar com a Shell após o derrame de petróleo resultante da explosão da sonda Deepwater Horizon, da BP em 2010.

E não importa o que digam, a Shell simplesmente não está a reduzir nos combustíveis fósseis. Estão a expandir-se, com novos projetos de exploração e extração. Contra os avisos claros dos cientistas e preferindo ignorar os enormes riscos das alterações climáticas”, detalhou.

Com a justificação de que “não poderia casar esses conflitos com a minha consciência”, Caroline Dennett diz-se pronta a “lidar com as consequências” e apela a que outros “se vão embora enquanto ainda é tempo”.

Não posso mais trabalhar para uma empresa que ignora todos os alarmes e descarta os riscos das mudanças climáticas e do colapso ecológico. Porque, ao contrário das expressões públicas da Shell em torno do objetivo zero, não estão a diminuir o petróleo e o gás, mas planeiam explorar e extrair muito mais”, disse Caroline Dennett.

Licenciada em Direito penal e tendo passado toda a carreira na investigação e consultoria, Dennett trabalhava com a Shell na avaliação de procedimentos de segurança. A multinacional era, aliás, um “grande cliente” de Dennett, que na mensagem de despedida nota que “a indústria de combustíveis fósseis pertence ao passado”.

A consultora justificou ainda que se sentiu impelida a deixar a Shell depois de assistir a um vídeo de ativistas do movimento Extinction Rebellion, a pedir aos funcionários da empresa que saíssem. O movimento inclui um grupo de ativistas, que apela aos funcionários das empresas de petróleo para que deixem os seus trabalhos.

O jornal The Guardian acrescenta que vários executivos da Shell do setor de energias renováveis abandonaram a empresa em 2020, frustrados com a lentidão com que estava a ser feita a mudança para combustíveis verdes.

Shell diz-se determinada em cumprir plano


Não tenham dúvidas, estamos determinados a cumprir a nossa estratégia global de ser uma ‘empresa líquida zero’ até 2050 e milhares dos nossos funcionários estão a trabalhar muito para o conseguir. Estabelecemos metas de curto, médio e longo prazo e temos toda a intenção de as atingir”, disse um porta-voz da Shell.

Já estamos a investir milhares de milhões de dólares em energia de baixo carbono, embora o mundo ainda vá precisar de petróleo e gás nas próximas décadas em setores que não podem ser facilmente descarbonizados”, advertiu.

O pedido de demissão da consultora é divulgado na véspera da Assembleia Geral da Shell, esta terça-feira, em que serão analisados os planos de redução de emissões. O conselho da empresa apelou aos investidores para que rejeitem a resolução que pede metas climáticas mais rigorosas.

O investidor da Shell, Royal London, fez saber que pretende abster-se na votação das propostas de transição climática.

Também o presidente-executivo da Shell, Ben van Beurden, pode enfrentar uma rebelião dos investidores contra o seu pacote salarial de 13,5 milhões de libras, após o consultor de investimentos Pirc ter apelado ao voto contra.

A Shell poderá ver aplicado um imposto inesperado destinado a financiar cortes nas contas domésticas, na sequência dos grandes lucros que o setor da energia registou em virtude do aumento dos preços. Este facto levou os partidos da oposição a pedirem ao governo a criação de uma taxa única.
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