Coreia do Norte. Levantamento de sanções só com desmantelamento de arsenal nuclear

por RTP
Donald Trump, Presidente dos EUA

Depois do otimismo, a cautela. Começam a desenhar-se as agendas das próximas cimeiras, a primeira entre as duas Coreias já na próxima sexta-feira, a segunda entre a Coreia do Norte e os Estados Unidos, anunciada para as próximas semanas. E Washington dá sinais de que nada está garantido e que se prepara para dar luta.

Trump deverá exigir a Kim Jong-un o desmantelamento total do arsenal nuclear norte-coreano, antes de acordar quaisquer auxílios financeiros para a recuperação do país.

"Quando o Presidente diz que não irá repetir os erros do passado, isso significa que os EUA não irão fazer concessões significativas, tal como o levantar das sanções, até que a Coreia do Norte tenha desmantelado substancialmente o seu programa nuclear", referiu um alto responsável da Administração Trump ao Wall Street Journal.

Dias antes, Trump afirmara que poderá abandonar o seu encontro com Kim se ele não correr bem.

Pyongyang procurou marcar a sua posição nas negociações, anunciando sábado unilateralmente a suspensão do programa nuclear do país e a intenção de se concentrar no desenvolvimento da economia.

Há indicações de que a Coreia do Norte poderá também deixar cair a sua exigência de retirada das tropas norte-americanas estacionadas no Sul da península - cerca de 28 500 militares.
Propaganda calou-se
A Coreia do Sul tenta responder a estes sinais de boa vontade que alimentam a esperança da pacificação da península coreana, depois de meses de alta tensão nuclear entre a Coreia do Norte e os Estados Unidos.

"A decisão da Coreia do Norte de parar o seu programa nuclear surge como uma decisão importante para a completa desnuclearização da península coreana", reagiu esta segunda-feira o Presidente sul-coreano, Moon Jae-in, perante o seu gabinete reunido como habitualmente na Casa Azul.

"É uma luz verde que traz a oportunidade de resultados positivos nas cimeiras com a Coreia do Sul e com os Estados Unidos. Se a Coreia do Norte seguir o caminho da completa desnuclearização a partir daqui, então pode ficar garantido um futuro brilhante para a Coreia do Norte", acrescentou Moon Jae.

Segunda-feira, Seul deu mais um passo para aliviar a tensão e, às zero horas, os altifalantes que difundem propaganda anti-norte-coreana - música sul-coreana, notícias e críticas ao regime dos Kim - calaram-se na fronteira pela primeira vez em dois anos.

O ministério da Defesa de Seul comentou a decisão com palavras de esperança.

"Esperamos que esta decisão leve ambas as Coreias a parar de se criticarem mutuamente e a propaganda uma contra a outra, e também que contribua para criar a paz e um novo começo", disse em comunicado, sem especificar se a propaganda poderá recomeçar.

Quinta-feira passada, Seul admitiu que estará em preparação uma declaração de paz que substitua o armistício que vigora entre as duas Coreias desde 1950.

O anúncio de sábado veio dar mais uma nota de otimismo para os preparativos da cimeira de sexta-feira na aldeia fronteiriça de Panmunjon, a primeira numa década.
Cautela de Trump, avisos de Pequim
Donald Trump classificou na rede social Twitter como grande progresso o facto de a Coreia do Norte suspender os ensaios nucleares e os testes de mísseis balísticos intercontinentais. Incluindo o encerramento de uma base de testes nucleares no norte da península como prova das boas intenções.

Vozes de cautela temperaram contudo o entusiamo com estas cedências. Uma delas veio do próprio Trump, após o aplauso inicial. "Estamos muito longe de concluir a [questão da] Coreia do Norte, talvez as coisas resultem, mas talvez não - só o tempo o dirá", tweetou domingo o Presidente norte-americano, acrescentando que o trabalho que está a fazer "devia ter sido feito há muito tempo".

Também a imprensa chinesa ecoou avisos, após o aplauso oficial de Pequim, aliado do regime norte-coreano.

"As negociações sobre o real desarmamento nuclear irão ser provavelmente duras, dado que tais armas são cruciais para o sentimento de segurança de Pyongyang", escreveu o editorial do China Daily, o jornal oficial e língua inglesa do Governo chinês.

O regime "irá requerer garantias de segurança inquebrantáveis para abrir mão delas", sublinhou.

"Washington não deveria olhar a suspensão dos testes nucleares e de mísseis da Coreia do Norte como um resultado da sua pressão máxima", referiu ainda o jornal. "Deve atribui-lo a múltiplos fatores, um dos quais é que Pyongyang tenha dominado algumas tecnologias nucleares avançadas e lançado com sucesso um míssil balístico intercontinental com um alcance superior a 10 mil quilómetros", lembrou.
Pressão ou marketing?
Analistas consideram ainda que o anúncio de desnuclearização não passa de uma manobra de marketing por parte de Pyongyang.

Todo este convergir de intenções entre as Coreias e com os EUA contrasta de forma marcante com os sucessivos testes nucleares que a Coreia do Norte realizou em 2017, num permanente desafio aos norte-americanos e aos avisos sucessivos das Nações Unidas.

O alívio mundial foi palpável depois do anúncio da Coreia do Norte de abandono do seu programa nuclear. As ações de empresas sul-coreanas, que operam na zona industrializada da Coreia do Sul perto da fronteira, subiram entre os oito e os 15 por cento.

De acordo com dados aduaneiros chineses desta segunda-feira, as importações de produtos norte-coreanos caiu 60.6 por cento nos primeiros três meses de 2018 face a 2017, para pouco mais de 480 milhões de dólares, e as exportações diminuíram 46 por cento.
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