Covid-19. Calor e humidade não afetam o novo coronavírus

por Graça Andrade Ramos - RTP
Imagens recolhidas por um microscópio eletrónico num laboratório dos EUA, mostram vírus sars-CoV-2, a amarelo, a emergirem de células (azuis e cor-de-rosa) cultivadas Reuters

Ao contrário do que sucede com a maioria dos coronavírus de inverno, que habitualmente afetam os países europeus, o sars-CoV-2, responsável pela atual pandemia, não perde letalidade nem capacidade infeciosa com o aumento da temperatura ou das condições de humidade.

É o que parecem indicar os mais recentes estudos, de acordo com a ECDC, o Centro Europeu para o Controle de Doenças.

"Não há provas até agora de que o sars-CoV-2 poderá mostrar uma sazonalidade de inverno, tal como outros coronavírus humanos no hemisfério norte", referiu a organização num relatório publicado esta quarta-feira e referindo-se ao vírus que causa a covid-19.

O documento cita análises preliminares do surto chinês, que permitiram concluir que o vírus mantem níveis altos de reprodução em zonas tropicais com elevada humidade, como Guangxi e Singapura.
Qualquer esperança de que o verão pudesse significar um abrandamento da pandemia parece assim morta à partida.
Os dados "dão enfase à importância de implementar medidas de intervenção como isolamento e indivíduos infetados, distância no local de trabalho e encerramento de escolas", referiu a agência.

O Centro europeu citou ainda dados de estudos científicos, de acordo com os quais, o virus pode sobreviver até três horas no ar, até quatro horas em cobre, até 24 horas em cartão e dois a três dias em plásticos e aço inoxidável, apesar de perder força de forma significativa.
Europa sem camas em meados de abril
No mesmo relatório, o Centro alerta para a probabilidade elevada de todos os países da Europa ficarem sem camas de cuidados intensivos até meados de abril próximo, a não ser que reajam rapidamente, aumentando a capacidade e reduzindo a propagação do sars-CoV-2.

Todos os sistemas de saúde europeus enfrentam um risco elevado de saturação, refere, citando modelos de projeção matemática.

A organização europeia reviu ainda em alta, de "elevado" para "muito elevado", o nível de ameaça que o vírus representa para os mais idosos e para os que sofrem de doenças crónicas. Manteve a avaliação de que o resto da população corre um risco "moderado" se for infetada como o novo coronavírus.

O risco global de propagação da epidemia é igualmente "moderado" nos países que já estão a tomar medidas de mitigação do contágio, mas "muito elevado" na ausência dessas medidas, refere o relatório que, além dos 27 Estados da União Europeia, avalia a situação no Reino Unido, na Noruega, na Islândia e no Liechtenstein.

as autoridades nacionais têm a obrigação de providenciar os trabalhadores do setor da saúde com equipamento de proteção apropriado e implementar outras medidas de segurança, de forma a evitar o contágio da covid-19 entre estes profissionais, os mais expostos entre a população e que ameaçam infetar outros.

O relatório faz notar que, na China, a percentagem de contágio entre os cuidadores dos doentes infetados com o novo coronavírus rondou os 10 por cento, quando habitualmente não ultrapassa os quatro por cento. Em Itália e em Espanha, os dois países europeus mais afetados até agora pela pandemia, a taxa respetiva está a ser de nove e de 13 por cento.
Incapaz de responder à procura
Um documento interno da União Europeia, revelado esta quarta-feira, indica que o bloco europeu necessita de 10 vezes mais do que as quantidades que habituais cadeias de produção e distribuição podem fornecer em equipamentos de proteção e de apoio médico, como ventiladores.

Todos os países da UE estão a tentar adquirir há semanas material como máscaras e luvas, ventiladores para pacientes com dificuldades respiratórias graves, desde o aparecimento da epidemia em solo europeu.

Apesar dos esforços "a disponibilidade e fornecimento de equipamento de proteção e de outros dispositivos, como ventiladores, em toda a Europa, permanece preocupante", refere o documento da Comissão Europeia, datado de 25 de março e ao qual a agência Reuters teve acesso.

"Estimativas internas da Comissão demonstram que o fornecimento 'tradicional' só será capaz de satisfazer cerca de 10 por cento dos pedidos", sublinha, naquilo que é a primeira estimativa da quantidade de material necessário para combater a pandemia de covid-19.

A falta destes equipamentos de proteção está a expor os profissionais de saúde a níveis mais elevados de contágio, o que por sua vez coloca em risco pacientes que podem ser infetados por médicos e pessoal de enfermagem.Em Itália e em Espanha, os dois países europeus a braços com surtos explosivos, mais de cinco mil profissionais de saúde foram infetados, indicam números publicados terça-feira.

O documento da Comissão sublinha ainda que a maioria dos Estados europeus tanto tem reservas limitadas como capacidade limitada de produzir o equipamento necessário, o que exige a rápida importação do material em falta.

Terça-feira, a Comissão anunciou o estabelecimento iminente de contratos de fornecimento de máscaras faciais, óculos, fatos e outro equipamento de proteção, quase um mês de pois de ter iniciado o processo em nome de 25 dos 27 estados-membros.

As propostas estão a ser avaliadas e o equipamento deverá estar disponível dentro de duas semanas, anunciou a Comissão, depois dos Governos europeus assinarem os respetivos contratos.

Quanto a ventiladores e testes, a Comissão espera propostas para o final do mês e está a encorajar o uso de impressão 3D e a conversão de fábricas para produção local.
Filas nas fronteiras
Um dos maiores problemas de fornecimento e distribuição entre os próprios Estados tem sido a reintrodução de fronteiras, como medida para deter a propagação do vírus através do isolamento e da quarentena, que levou a atrasos e a esperas de até 24 horas para um camião de mercadorias passar os controlos.

A União Europeia está já a estudar formas de acelerar estes procedimentos fronteiriços para bens considerados essenciais no combate à pandemia, incluindo vias verdes, até agora só implementadas "por três Estados membros".

A França e a Alemanha levantaram as suas restrições comerciais mas a Comissão está ainda a avaliar o impacto no terreno depois de se registarem atrasos nas entregas em Espanha e na Grécia.

Bruxelas está ainda em negociações com a República Checa, Bulgária e Roménia sobre as respetivas restrições comerciais.
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