Covid-19. Dados de Google e Apple mostram desconfinamento contido dos portugueses

por Andreia Martins e Sara Piteira (infografia) - RTP
Rafael Marchante - Reuters

Os dados recolhidos pelas duas empresas mostram que, apesar do levantamento de algumas restrições desde o início de maio, grande parte dos portugueses ainda continua a evitar deslocações. Confira aqui os dados.

Nos últimos meses, a Google tem analisado a mobilidade em vários países do mundo. O objetivo é perceber qual tem sido a resposta da população às medidas impostas pelos Governos no contexto da pandemia de Covid-19.

Garantindo que a informação é anónima e que a privacidade dos utilizadores é preservada, a empresa calcula dados dos movimentos das pessoas e analisa o tempo em que ficam em cada local, desde supermercados a parques.

Tal como nos últimos meses, a comparação é feita com uma linha “base”, ou seja, uma média calculada para cada dia da semana, tendo em conta outras cinco semanas, entre 3 de janeiro e 6 de fevereiro de 2020, ainda antes da pandemia e das medidas restritivas em Portugal e na Europa.

A Google faz a análise dos dados com uma divisão em seis diferentes categorias: retalho e espaços recreativos, compras e farmácia, parques, transportes públicos, locais de trabalho e áreas residenciais.

Já no caso da Apple, os dados refletem o número de pedidos de direção efetuados na aplicação de Mapas, quer a deslocação ocorra a pé ou de carro.

Também neste caso, a empresa garante total privacidade dos utilizadores, sem os identificar pessoalmente, salientando que os dados são associados a identificadores aleatórios e rotativos.

A análise aos dados das duas empresas permite concluir que, durante a primeira semana de desconfinamento, os portugueses continuaram a limitar fortemente as deslocações, ainda que com menos intensidade do que o que se verificou no período de estado de emergência. Tal como o Presidente da República frisava na quinta-feira, a abertura do país está a ser feita “por pequenos passos” e a contenção “continua muito elevada”.

Em Portugal, o estado de emergência vigorou entre 16 de março e 2 de maio. Desde 4 de maio que o país iniciou o desconfinamento, com abertura de alguns serviços e comércio. Seguem-se agora as próximas etapas de reabertura, previstas para 18 de maio e 1 de junho.
Retalho e Recreativos
Na análise aos dados da Google, atualizados até 9 de maio, é possível verificar uma quebra de 63 por cento em “Retalho e Recreativos”, que inclui locais como restaurantes, cafés, centros comerciais, museus, bibliotecas e cinema. A redução é ainda muito significativa, mas menor que a registada no país até ao final de março, acima dos 80 por cento.

A nível europeu, Espanha continua a registar elevados níveis de contenção nesta categoria, com menos 84 por cento na comparação com a linha base.

Já em França, regista-se um decréscimo até 76 por cento e em Itália, que começou mais cedo a impor medidas de restrição, está já numa fase mais avançada do desconfinamento que os anteriores, com 63 por cento abaixo da linha base, exatamente o mesmo número que em Portugal. No Reino Unido a quebra é de menos 78 por cento e na Alemanha é de menos 40 por cento. 

Compras e Farmácia

Já na categoria “Compras e Farmácia”, que inclui mercados, supermercados e farmácias, por exemplo, a quebra é muito menor, na ordem dos 26 por cento. Até ao final de março, a quebra era muito superior (59 por cento) na comparação com a linha base.

No país vizinho, a quebra é novamente mais expressiva: menos 38 por cento em comparação com a linha base em Espanha. Já em França, Itália e Reino Unido, os números são mais próximos da realidade portuguesa (menos 27, 28 e 29 por cento, respetivamente). Destaque para a Alemanha, onde a quebra é de apenas 1 por cento por comparação à linha base, ou seja, ao período que antecedeu as medidas de restrição.
Parques

Quanto à categoria “Parques”, que inclui parques nacionais, praia, marinas ou jardins públicos, a quebra em Portugal foi de menos 54 por cento em comparação com a linha base. Olhando para o gráfico, nota-se uma maior curva que representa mais afluência a estes espaços desde o início de maio. Até ao final de março, a quebra tinha sido de 80 por cento.

Em Espanha, a diminuição é de 49 por cento, enquanto em França é ainda menos 66 por cento. Em Itália, nota-se com clareza uma maior afluência a estes espaços desde início de maio. Ainda assim há uma quebra de 31 por cento em comparação com a linha de base.

No Reino Unido, essa quebra é muito inferior: menos seis por cento de afluência por comparação à linha base. É possível verificar que o número até ultrapassou a linha base durante alguns dias em maio. Na Alemanha, os números vão mais longe: há mais 61 por cento de mobilidade nestas zonas por comparação ao período pré-confinamento.

Transportes

Na categoria “Transportes Públicos”, que inclui metro, autocarros e estações de comboios, a quebra mantém-se elevada – menos 62 por cento por comparação à linha base. Até final de maio, em Portugal, a quebra era de 78 por cento.

O número está muito em linha com o que se passa no resto da Europa: menos 64 por cento em Espanha, menos 70 por cento em França, menos 52 por cento em Itália e 62 por cento no Reino Unido, por exemplo. Na Alemanha a quebra é menos significativa, na ordem dos 28 por cento. 
Local de trabalho
Em relação à categoria “Local de Trabalho”, a descida é de menos 33 por cento por comparação à linha de base em Portugal. Até fins de março, era de menos 53 por cento, o que significa que alguns portugueses voltaram já ao trabalho desde o início de maio, na primeira fase de desconfinamento.

No resto da Europa, parece haver uma maior restrição no regresso aos locais de trabalho. Por exemplo, em Espanha a movimentação é de menos 47 por cento e no Reino Unido a a quebra é de 48 por cento. Em França e Itália a quebra é nesta altura de 39 por cento. No caso alemão, a movimentação para os locais de trabalho é agora de menos 8 por cento em relação à linha base. 

Áreas residenciais

Na última categoria, que reflete a mobilidade junto a “Áreas Residenciais”, destaque para uma movimentação de mais 18 por cento acima da linha base. A tendência de mobilidade para o local de residência era de mais 22 por cento até ao final de março. Novamente, esta é a única categoria em que se regista um aumento em relação ao período pré-pandémico em Portugal.

Também noutros países europeus estes dados refletem um aumento de movimentação nas áreas residenciais: mais 21 por cento em Espanha, mais 19 por cento em França, mais 15 por cento em Itália, mais 17 por cento no Reino Unido e mais 5 por cento na Alemanha.

Aos dados recolhidos através do Google Maps e outros serviços mobile da empresa - que podem ser vistos na íntegra aqui - juntamos a análise de novos dados, desta feita recolhidos pela Apple, que também disponibiliza aqui uma consulta por país ou cidade.
Deslocações a pé de de carro
Com base nos dados sobre os pedidos de direções na app “Mapas” da Apple, é possível verificar uma quebra abrupta nesta procura entre março e abril, com uma quebra de 80 por cento abaixo da linha base, tanto nas deslocações a pé como de carro.

No entanto, o número tem vindo a crescer ao longo das últimas semanas e os portugueses têm-se deslocado mais desde o início de maio. Ainda assim, registava-se até 13 de maio uma quebra de 77 por cento nas tendências de mobilidade a pé e uma quebra de 55 por cento nas deslocações de carro. No caso português não há informação relativa a transportes públicos.

Os dados assemelham-se ao que é registado no caso espanhol (menos 59 por cento de carro e menos 69 por cento a pé) e italiano, por exemplo (menos 53 por cento de carro e menos 69 por cento a pé). Em França e na Alemanha, as tendências de mobilidade de carro apresentam quebras menos significativas: 25 por cento e 15 por cento, respetivamente.
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