Covid-19. O desconfinamento mais conservador da Europa é espanhol

por Joana Raposo Santos - RTP
O Parlamento espanhol decidirá esta quarta-feira sobre o prolongamento do estado de emergência até 6 de junho. Reuters

Em Espanha, o levantamento de restrições está a ser dos mais conservadores de toda a Europa. Enquanto os restantes países da UE tentam trazer rapidamente o regresso à normalidade – França decretou o fim da quarentena, Itália começou há duas semanas a levantar medidas e Portugal entrou há dois dias na segunda fase do plano de desconfinamento -, Madrid tem sido mais contida por receio de uma nova onda de infeções por Covid-19 e quer prolongar o estado de emergência.

O presidente do Governo espanhol, Pedro Sánchez, acredita que uma reabertura precoce do país comprometeria os resultados positivos que se têm verificado nas últimas semanas na saúde. Fontes do Governo defendem, segundo o El Pais, que um retrocesso que obrigue a trazer de volta as medidas mais duras contra a Covid-19 seria pior do que um atraso na reabertura de Espanha.

Por essa razão, o verão espanhol começará mais tarde do que no resto dos países europeus. No Conselho de Ministros de terça-feira foi aprovado um acordo para solicitar ao Congresso o prolongamento do estado de emergência, com o argumento de que a segurança da saúde pública é mais importante do que a recuperação económica.

O encerramento de fronteiras em Espanha deverá, portanto, manter-se até final de junho, data que contrasta com a de Itália, por exemplo, para onde os turistas do espaço Schengen poderão começar a viajar já a partir do próximo dia 3. A intenção é salvar a época turística italiana, que representa 13 por cento do PIB anual. Quem chegue ao país não terá de ficar 14 dias em quarentena, ao contrário do que está planeado para Espanha.

“Trata-se de adaptar o regime de fronteiras à realidade do país, adicionando uma camada adicional de segurança à saúde. Seria muito difícil explicar aos cidadãos que não podem viajar entre províncias mas que, por outro lado, quem vier de fora pode aterrar em qualquer território”, explicaram ao El Pais fontes do Ministério espanhol dos Negócios Estrangeiros. Em Itália, o Executivo de Giuseppe Conte passou para as mãos dos governadores de cada região a responsabilidade sobre o levantamento de medidas. Em Espanha, pelo contrário, o Governo discute com as comunidades todas as decisões.

Os casos de surtos observados noutros países após o levantamento de restrições estarão a pesar nas decisões do Governo espanhol. O documento aprovado há um dia em Conselho de Ministros refere que “a experiência comparativa demonstra que alguns dos países que já aplicaram medidas de desconfinamento estão a detetar novos picos de contágio”.

Fontes consultadas pelo Executivo para ajudar à tomada de decisões terão defendido que a abertura do país apenas em julho em vez de em junho fará com que os efeitos a nível económico não sejam tão acentuados a médio prazo, visto que serão evitados custos com a saúde que aconteceriam no caso de uma segunda onda de contágios.
Outros países estão mais confiantes
Em Itália, o estado de emergência foi decretado a 31 de janeiro por seis meses. No início de março foi anunciado o confinamento de todo o país e o encerramento de fronteiras. Agora, menos de três meses depois, o país está já a regressar à normalidade, apesar de continuar a registar centenas de infeções a cada dia.

Já em França, o desconfinamento foi dado como terminado a 11 de maio e, desde esse dia, os habitantes podem deslocar-se num raio de 100 quilómetros desde que não saiam da sua região administrativa. Escolas, comércio e fábricas começaram a reabrir, apesar de permanecer a recomendação de teletrabalho.

Em Portugal, deu-se início na segunda-feira à segunda fase de desconfinamento, que trouxe a reabertura da restauração e de lojas com até 400 metros quadrados, assim como de museus e monumentos. Parte dos alunos do ensino secundário regressaram às aulas e as creches voltaram a funcionar. Voltou ainda a ser permitido estar na praia. A próxima fase de desconfinamento no país está prevista para 1 de junho.

Na data em que Portugal iniciar essa próxima fase, Espanha deverá estar ainda a dias de decretar o fim do estado de emergência, cujo prolongamento será decidido esta quarta-feira no Parlamento. O país vizinho registou, desde o início da pandemia, cerca de 250 mil casos de infeção, dos quais quase 28 mil são vítimas mortais e 150 mil são casos recuperados.
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