Crise política em França. Macron deve anunciar eleições antecipadas, defende ex-primeiro-ministro Édouard Philippe

À medida que a crise política em França se agrava após a demissão de Sébastien Lecornu, Édouard Philippe considera que o presidente francês da República, Emmanuel Macron, deve nomear um primeiro-ministro cuja principal função será "aprovar um orçamento" e, em seguida, anunciar "eleições presidenciais antecipadas".

Rachel Mestre Mesquita - RTP /
Ludovic Marin - AFP

Um dia após a demissão precipitada de Sébastien Lecornu, o candidato às eleições presidenciais Édouard Philippe afirmou ao microfone da rádio francesa RTL, na manhã desta terça-feira, que deseja que Emmanuel Macron nomeie um novo primeiro-ministro responsável por "elaborar um orçamento", antes de organizar "eleições presidenciais antecipadas". 

"Parece-me que ele se honraria se nomeasse um primeiro-ministro com a função de executar os assuntos correntes, elaborar um orçamento e fazê-lo aprovar", defendeu o presidente do partido de centro-direita Horizons. Assim que o Orçamento do Estado for aprovado, "ele anuncia que vai organizar eleições presidenciais antecipadas. Ou seja, ele sai imediatamente após a aprovação do Orçamento"
"Não se pode obrigar o presidente da República a partir"

Ao contrário dos deputados da esquerda radical da France Insoumise, Édouard Philippe não é a favor da destituição do presidente da República. "Não é essa a questão, não é esse o instrumento que deve ser preservado. Não se pode obrigar o presidente da República a partir", defendeu Édouard Phillipe. "Uma demissão imediata e brutal teria um impacto terrível, impediria uma eleição presidencial que decorresse em boas condições".

O antigo primeiro-ministro francês com maior longevidade no mandato de Macron, apelou à diferenciação entre "o homem" e "a função". "O presidente da República tem a enorme responsabilidade de ser o chefe de Estado. Não se trata de uma crítica ao homem. Eu não o detesto, trabalhei com ele, tenho-lhe estima, às vezes até tenho carinho por ele, mas não é uma questão de homem, é uma questão de função". 


"Não se usa as instituições, serve-se-lhes"

Segundo Édouard Philippe, a "saída da crise" política em que França se encontra há mais de um ano depende de Emmanuel Macron. "Face a este colapso do Estado, ele deve tomar uma decisão à altura da sua função e, para mim, isso significa garantir a continuidade das instituições, partindo de forma ordenada". 

E observa que, "foi ao tomar decisões inoportunas que ele se colocou nesta situação. Ele não tinha de dissolver. A dissolução é utilizada para resolver uma crise política, não para desarmar sei lá o quê ou para seu convencimento pessoal. Não se usa as instituições, serve-se-lhes", criticou Édouard Philippe.

Após a apresentação da demissão de Sébastien Lecornu a Emmanuel Macron na segunda-feira, 6 de outubro, que a aceitou, o presidente francês deu 48 horas ao primeiro-ministro demissionário para "conduzir as últimas discussões com as forças políticas"

Após obter mais 48 horas de negociações, Matingon, residência oficial do chefe de Governo, indicou em comunicado ao final da manhã desta terça-feira que Sébastien Lecornu deseja "concentrar as discussões" em dois pontos: a aprovação do Orçamento e o futuro da Nova Caledónia.
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