Desastre ferroviário na Grécia. Primeiro-ministro pede perdão, Atenas mergulha em violência

por Carlos Santos Neves - RTP
O primeiro-ministro grego, Kyriakos Mitsotakis, pediu perdão às famílias das 57 vítimas da colisão ferroviária da semana passada Yannis Kolesidis - EPA

Polícia e manifestantes envolveram-se este domingo em violentos confrontos no coração de Atenas, à margem de uma ação de homenagem às 57 vítimas mortais da colisão ferroviária da passada terça-feira. Perto de 12 mil pessoas estiveram na Praça Syntagma, diante do Parlamento grego, empunhando cartazes com palavras de ordem como “abaixo os governos assassinos”, ou “não foi erro humano”.

A manifestação coincidiu com o início do interrogatório judicial, em Larissa, a localidade mais próxima da colisão, do chefe da estação ferroviária. Vassilis Samaras, de 59 anos, cuja identidade foi revelada pelo Ministério dos Transportes, admitiu a responsabilidade pelo desastre, que causou 57 mortos. Pode vir a ser acusado de homicídio involuntário por negligência.

Na Praça Syntagma, os manifestantes libertaram centenas de balões negros, numa homenagem às vítimas do choque frontal entre o comboio que fazia a ligação entre Atenas e Tessalónica e uma composição de transporte de mercadorias, ocorrido na noite de terça-feira.
Muitas das vítimas eram estudantes universitários que regressavam a Tessalónica depois de um fim de semana prolongado.A manifestação deste domingo em Atenas foi a quarta desde o desastre. Degenerou em confrontos com as forças de segurança. Os manifestantes lançaram cocktails Molotov, ao que a polícia respondeu com gás lacrimogéneo e granadas atordoantes.


Durante a manhã, antes de uma cerimónia religiosa na catedral ortodoxa de Atenas, o primeiro-ministro grego pediu perdão às famílias das vítimas. “Enquanto primeiro-ministro, devo a todos, mas sobretudo aos próximos das vítimas, pedir perdão”, escreveu o conservador Kyriakos Mitsotakis no Facebook.

“Na Grécia de 2023, não é possível que dois comboios circulem em sentido contrário numa mesma linha e que ninguém se aperceba. Não podemos, não queremos e não devemos esconder-nos atrás do erro humano”, acrescentou o governante.
“Assassinos”
Segundo a comunicação social grega, o chefe da estação teria escassa experiência profissional, tendo recebido uma breve formação antes de assumir o lugar.

Fonte judicial, citada pela agência France Presse, adiantou que o inquérito em curso tem também por objetivo prosseguir “ações, se necessário, conta membros da direção da empresa” Hellenic Train.O desastre da semana passada foi o terceiro mais grave dos últimos 25 anos na Europa. Em 1991, um descarrilamento na Alemanha fez 101 mortos; em 2013, em Espanha, um outro desastre matou 80 pessoas.

Na sexta-feira, foi pintada a vermelho a palavra “assassinos” na sede da empresa ferroviária grega em Atenas. A Hellenic Train procurou defender-se na noite de sábado, alegando que “esteve presente desde os primeiros instantes” no local da colisão e assinalando que montou “um centro telefónico” para “fornecer informações”.

A empresa foi adquirida em 2017 pelo grupo estatal italiano Ferrovie Dello Stato Italiane, no âmbito do pacote de privatizações imposto pela troika ao Estado helénico durante a crise económico-financeira, entre 2009 e 2018.

c/ agências
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