Detido apoiante de Trump que incitou multidão contra a polícia do Capitólio

por Graça Andrade Ramos - RTP
Samuel Lazar, o suspeito nº 275 da lista dos insurrectos mais procurados do FBI pela participação no ataque ao Capitólio dia 6 de janeiro de 2021 Seditionhunters.org

Samuel Lazar, de 37 anos e originário de Lancaster, Pensilvânia, foi detido no início da semana pelo FBI, enquanto suspeito n.º 275 no assalto ao Capitólio dia 6 de janeiro de 2021. Para os detetives amadores, que há meses haviam detetado na internet a identidade do homem inicialmente conhecido simplesmente como #FacePaintBlowhard, a demora na detenção é incompreensível.

O FBI não explicou porque levou tantos meses a prender Lazar, mas noutras ocasiões referiu a dificuldade em processar a avalanche de indícios e de pistas que têm de ser analisadas na identificação de todos os suspeitos. Até agora foram detidas mais de 550 pessoas que participaram na invasão do Capitólio durante uma manifestação de apoio a Donald Trump numa tentativa de evitar a nomeação de Joe Biden como Presidente.

Samuel Lazar enfrenta acusações criminais, incluindo agressão a forças de segurança, resistência e obstrução à ação de agentes policiais durante uma desordem civil. É ainda acusado de conscientemente invadir e permanecer em zonas interditas ao público.

Terça-feira, durante uma breve audiência judicial, Lazar afirmou que vai contestar as acusações e concordou em ficar sob custódia a aguardar medidas de coação.

O anúncio da detenção coincide com o arranque no Congresso dos Estados Unidos, a comissão de inquérito à invasão do Capitólio.

Na primeira audiência, num clima de emoção e até angústia, foram ouvidos quatro dos agentes policiais que defenderam o edifício.
Identificado já a 2 de março
A frustração dos detetives digitais amadores, que identificaram Lazar através de vídeos publicados pelo próprio a vangloriar-se das suas ações a 6 de janeiro, nasceu sobretudo do facto de ele ter permanecido livre nos últimos seis meses para participar em diversas outras manifestações, com toda a impunidade. Já sem as pinturas faciais usadas no ataque e que lhe valeram a alcunha #FacePaintBlowhard entre os caçadores de identidades, Lazar foi fotografado em diversas ocasiões de apoio ao ex-Presidente e aos seus aliados, especialmente a Doug Mastriano, senador republicano da Pensilvânia que estará a ponderar candidatar-se a Governador do Estado e que tem tentado demarcar-se do suspeito.

De acordo com documentos até agora selados, os agentes do FBI já tinham dados para identificar Lazar ainda antes da comunidade digital de caçadores de identidades o ter revelado, em abril, como um dos nomes da lista dos insurretos mais procurados.

Já a 2 de março, um informante que afirmava conhecer Lazar há 28 anos chamara a atenção dos investigadores para a página do Facebook onde o suspeito nº 275 publicou vídeos dos seus atos durante o ataque de 6 de janeiro.

Num dos primeiros, logo no início da manifestação em Washington, Lazar afirmava-se “pronto para a guerra, se necessário” e prometia que Trump iria “chocar o mundo”. Ia ser “um dia em cheio!”.

Quatro dias após o ataque, Lazar publicara na mesma rede social um vídeo a justificar o assalto e as agressões à polícia.

“Há tempos de guerra. A nossa Constituição dá-nos o direito de abolir o nosso [Governo] e instalar um novo no [seu] lugar”, afirmava.
Incitador
Na rede social Twitter Lazar partilhara ainda outras imagens, com o edifício do Capitólio em fundo já depois do assalto, nas quais, de cara pintada, vestido de colete militar e óculos de proteção, se vangloriava do seu ânimo ao enfrentar a polícia.

“Eles agrediram-nos… por isso agredimo-los a eles”, referia. “Eu estava mesmo à frente, na ponta da lança”. Os vídeos incriminatórios foram removidos, depois de um jornal digital local de Lancaster County os ter utilizado para identificar Lazar como um dos participantes nos motins, dias após o ataque.

Os procuradores podem, apesar disso, sustentar o caso em dezenas de outras gravações de imagens, publicadas nas redes sociais, nas quais Lazar é visto a incitar a multidão, através de um megafone e a atacar agentes uniformizados, incluindo com um cartaz gigante de campanha de Donald Trump e com gás pimenta.

“Enforquem os filhos da p…” terá gritado Lazar para os manifestantes em redor dele, incitando-os a agir com ele em uníssono.

Num vídeo publicado em fevereiro na rede Twitter por um dos caçadores online dos 'sediciosos', Lazar foi filmado a agitar os manifestantes junto ao Capitólio.
A detenção de Lazar está já a ser usada pelos detratores do senador republicano da Pensilvânia, Doug Mastriano, que foi fotografado diversas vezes ao lado do suspeito.

Mastriano, um dos possíveis candidatos a Governador da Pensilvânia em 2022, tem afirmado que não se pode esperar de um político que conheça todos os apoiantes com quem tira fotografias, mas a família de Lazar é conhecida localmente pelo seu apoio de anos ao senador.

Mastriano é um dos mais eloquentes defensores da teoria de fraude eleitoral reivindicada por Donald Trump e terá usado fundos de campanha para fretar autocarros e levar apoiantes do ex-Presidente até Washington, dia 6 de janeiro.

No dia do ataque o senador terá sido filmado perto de manifestantes envolvidos com a polícia. O republicano diz que abandonou a manifestação quando começaram os tumultos e condenou mais tarde a violência.
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