E-toupeira. Perguntas e respostas sobre o novo caso que assombra o Benfica

por RTP
Pedro Nunes - Reuters

A Polícia Judiciária deteve esta terça-feira o assessor jurídico do SL Benfica, Paulo Gonçalves, sobre quem recaem suspeitas de suborno de funcionários judiciais para ter acesso a peças processuais em segredo de justiça. As autoridades realizaram 30 buscas, nomeadamente no Estádio da Luz.

Paulo Gonçalves é suspeito de subornar três funcionários judiciais para ter acesso a informações sobre diligências e processos em curso que envolviam o clube no chamado caso dos e-mails.

A Polícia Judiciária deteve também um dos funcionários suspeitos, um técnico informático do Instituto de Justiça.

As autoridades investigam a eventual prática dos crimes de corrupção ativa e passiva, acesso ilegítimo a documentos, violação do segredo de justiça e favorecimento pessoal.
O que está em investigação?
O assessor jurídico dos encarnados é suspeito de ter subornado funcionários judiciais para ter acesso a peças processuais em segredo de justiça. Estas peças estariam relacionadas com processos que envolvem o Benfica, nomeadamente o caso dos e-mails.

Em comunicado, a Polícia Judiciária confirmou a detenção de dois homens “pela presumível prática dos crimes de corrupção ativa e passiva, acesso ilegítimo, violação de segredo de justiça, falsidade informática e favorecimento pessoal".

Para além de Paulo Gonçalves foi também detido um técnico de informática do Instituto de Gestão Financeira e Equipamento da Justiça. É suspeito de corrupção passiva.

A operação envolveu cerca de 50 elementos da Polícia Judiciária, um juiz de instrução criminal e dois magistrados do Ministério Público.

Foram realizadas 30 buscas nas áreas do Porto, Fafe, Guimarães, Santarém e Lisboa que levaram à apreensão de relevantes elementos probatórios. O Estádio da Luz é um dos locais onde decorreram buscas, tendo estas terminado depois das 18h00.

A Procuradoria-Geral da República já confirmou que está a investigar a prática dos “crimes de corrupção passiva, corrupção ativa, violação do segredo de justiça, favorecimento pessoal e falsidade informática”.
O que diz o Benfica?
O clube da Luz reagiu em comunicado a este novo processo judicial em que está envolvido. Na nota, os encarnados manifestam "total disponibilidade em colaborar com as autoridades no integral apuramento da verdade".

"A Sport Lisboa e Benfica SAD confirma a realização de buscas às suas instalações no âmbito de um processo de investigação sobre eventual violação do segredo de justiça e reitera a sua total disponibilidade em colaborar com as autoridades no integral apuramento da verdade", pode ler-se no comunicado.

A SAD manifesta ainda "a sua confiança e convicção de que o dr. Paulo Gonçalves terá oportunidade, no âmbito do processo judicial, de provar a legalidade dos seus procedimentos".

O Benfica vai ainda pedir com caráter de urgência uma audiência à procuradora-geral da República para abordar "reiteradas e constantes violações do segredo de justiça, sobre os processos que envolvem o clube, numa estratégia intencional e com procedimentos fáceis de serem investigados, como hoje foi claramente comprovado".
Quem é Paulo Gonçalves?
Paulo Gonçalves é considerado o braço direito de Luís Filipe Vieira. A sua carreira de dirigente desportivo começou a norte. Natural da cidade Invicta, Paulo Gonçalves participou na constituição da SAD do FC Porto.

A ligação aos dragões começou em 1997 e terminou em 1999 por alegadas divergências com Adelino Caldeira, atual administrador da SAD azul e branca.

Depois do FC Porto, Paulo Gonçalves passou pelo Boavista. Deixou os axadrezados em 2006. Chegou à Luz em 2007 pela mão de Luís Filipe Vieira, sendo uma das figuras de destaque da estrutura encarnada.

O que é o caso dos e-mails?

O chamado caso dos e-mails começou no ano passado e ganhou destaque pela mão do diretor de comunicação do FC Porto.

Francisco J. Marques acusou os encarnados de influenciar o setor da arbitragem e apresentou alegadas mensagens de correio eletrónico de responsáveis do clube da Luz. O dirigente dos dragões denunciou mesmo um “esquema de corrupção de árbitros a favor do Benfica”.

O Benfica acabou por pedir ao Tribunal Cível do Porto que interpusesse uma providência cautelar para impedir os dragões de continuar a revelar as mensagens de correio eletrónico. A providência foi indeferida porque o juiz considerou que “não entra no instituto da concorrência desleal”.

Após esta decisão do juiz do Tribunal da Comarca do Porto, o Benfica anunciou que iria recorrer para o Tribunal de Relação. A Relação deu razão aos encarnados e impediu a revelação de novas mensagens pelo FC Porto. Por sua vez, os dragões anunciaram que iriam recorrer para o Tribunal Europeu dos Direitos Humanos.

O caso segue na justiça. Ao longo do último ano foram várias as investigações da Polícia Judiciária.
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