Estreito de Ormuz. Irão rejeita criação de aliança marítima

por RTP
Um barco da Guarda Revolucionária Iraniana navega perto de Stena Impero, uma embarcação de bandeira britânica. Reuters

O Irão manifestou esta terça-feira a sua oposição à proposta do Reino Unido para a criação de uma missão europeia de proteção marítima no Estreito de Ormuz, argumentando que criaria “insegurança”. Teerão terá, ao mesmo tempo, garantido ao Iraque que haverá liberdade de navegação no Golfo Pérsico.

A ideia do Reino Unido para a constituição de uma missão de proteção marítima sob liderança europeia não foi bem recebido pelo Irão. O vice-presidente iraniano, Eshaq Jahangiri, considera que a força marítima apenas traria “insegurança”.

“Não existe necessidade para a criação de uma aliança porque este tipo de coligações e a presença de estrangeiros na região cria, por si só, insegurança”, afirmou Jahangiri. “Para além de aumentar a insegurança, não conseguirá mais nada”, acrescentou.

O embaixador do Irão em Portugal também se pronunciou, explicando que Teerão defende que a segurança daquela zona deve depender apenas dos países da região.

Nuno Carvalho - Antena 1

"Qualquer tentativa de países fora da região para fazer aumentar a tensão de uma situação já delicada seria lançar achas para a fogueira", declarou Morteza Damanpak Jami. "Este tipo de atenção não vai ajudar a resolver a situação", continuou.

O novo embaixador iraniano em Lisboa, que entregou agora as credenciais ao Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, garantiu que o Irão sabe que o Golfo Pérsico e o Estreito de Ormuz são "muito importantes" para todo o mundo. Por ali transita um terço do petróleo transportado por via marítima.

No entanto, Damanpak Jami assinalou que, historicamente, o seu país tem tido a custódia do estreito e é o responsável pela segurança na zona.
Irão é o “guardião da segurança”
Apesar de rejeitar a criação de uma aliança, o Irão terá garantido ao Iraque liberdade de navegação marítima internacional no Estreito de Ormuz.

O Irão terá confessado esta informação ao primeiro-ministro iraquiano, Adel Abdul Mahdid, durante uma visita a Teerão.
“O Presidente iraniano, Hassan Rouhani, [deu] garantias à delegação iraquiana em torno da garantia de liberdade de navegação no Golfo e Estreito de Ormuz”, lê-se num comunicado de Teerão.

Durante a mesma reunião com o primeiro-ministro iraquiano, o Presidente do Irão afirmou que o país é o “guardião da segurança” no Golfo Pérsico e no Estreito de Ormuz e garantiu que o Irão “não pretende aumentar as tensões na região, nem nunca iniciará uma guerra”.

"Acreditamos que os problemas da região devem ser resolvidos através do diálogo, da negociação e da cooperação entre os países vizinhos", acrescentou Hassan Rouhani.
"Pirataria estatal"

A tensão entre o Reino Unido e o Irão agravou-se após a apreensão de um petroleiro iraniano – Grace 1 – pela marinha britânica, que se encontra retido em Gibraltar.

O embaixador iraniano em Portugal classificou a detenção como "pirataria estatal".

"Acreditamos que foi uma ação politicamente motivada tomada pelo Reino Unido", possivelmente a pedido dos Estados Unidos. “Foi um erro", disse Jami.

O diplomata alegou que, se Londres impõe sanções à Síria, não pode impô-las extraterritorialmente, ou seja, a um terceiro país.
Líderes europeus falam em ironia
A intenção de formar uma aliança de proteção marítima sob liderança europeia foi comunicada na segunda-feira por Jeremy Hunt, ministro britânico dos Negócios Estrangeiros.

Na passada sexta-feira, os Guardas da Revolução do Irão tinham capturado o petroleiro britânico Stena Impero, incidente que o embaixador do Irão em Portugal disse tratar-se de uma "questão técnica".

“Sob a lei internacional, o Irão não tem qualquer direito de obstruir a passagem do navio – e muito menos abordá-lo. Foi por isso um ato de pirataria”, acusou Hunt.

"Vamos por isso propor a constituição de uma missão de proteção marítima, liderada pela Europa, para apoiar o trânsito tanto de tripulações como de cargas em segurança, nesta região vital", continuou.A crise precipitou-se após os Estados Unidos rasgarem o acordo de 2015 sobre o programa nuclear do Irão.

Na segunda-feira, o ministro britânico dos Negócios Estrangeiros, Jeremy Hunt, disse já ter mantido conversações com os homólogos de vários países da União Europeia para formar uma unidade focada em garantir a "navegação livre e segura" em Ormuz.

"Se o Irão continuar por este caminho perigoso, terá de aceitar o preço de uma maior presença ocidental nas águas costeiras, não porque queremos aumentar as tensões, mas porque a liberdade de navegação é um princípio que o Reino Unido e aliados sempre defenderão", disse.

Na generalidade, os líderes europeus deram as boas-vindas ao plano de Hunt, apesar de alguns considerarem irónico que o Reino Unido esteja a propor uma iniciativa de segurança europeia no momento em que discute a sua saída da União Europeia.

Os Estados Unidos já tinham feito o convite ao Reino Unido para a organização de uma força internacional de proteção marítima, ao qual Jeremy Hunt se mostrou reticente.

Vários membros do Partido Conservador, agora liderado pelo futuro primeiro-ministro Boris Johnson, estavam descontentes com a relutância do Governo em aceitar a oferta dos Estados Unidos, que prometera proteger os navios britânicos na região.

Em resposta, Mike Pompeo, secretário dos EUA, avisou que os britânicos são os únicos responsáveis pela proteção aos navios britânicos.

Hunt sublinhou, no entanto, aos deputados que os norte-americanos continuam a cooperar em diversas questões.

c/ agências
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