Estudo conclui que Facebook e Instagram recolhem dados de navegação de menores

por Mariana Ribeiro Soares - RTP
Reuters

Um estudo conduzido pelas organizações Fairplay, Reset Australia e Global Action Plan provou que o Facebook e o Instagram recolhem os dados de navegação de menores para a apresentação de publicidade personalizada e direcionada. A empresa-mãe, Meta, nega, porém, que os dados estejam a ser usados para veicular anúncios a utilizadores menores.

Em julho, a empresa-mãe das plataformas – agora chamada de Meta – anunciou que apenas permitiria que as empresas de publicidade usassem informações como idade, sexo e localização para direcionarem anúncios a menores de 18 anos.

O Facebook garantia, na altura, “que as opções de segmentação disponíveis anteriormente, como aquelas baseadas em interesses ou na atividade noutras aplicações e sites, não estarão mais disponíveis para as empresas publicitárias”.

No entanto, um estudo conduzido por três organizações (Fairplay, Reset Australia e Global Action Plan) concluiu que o Facebook e o Instagram “não limitaram o uso de publicidade de vigilância” e continuam a “colecionar dados pessoais de crianças para alimentar os seus sistemas de distribuição de publicidade”.

No fundo, o Instagram e o Facebook continuam a usar o software designado de API de conversões, que reúne dados de navegação de adolescentes para definir o público-alvo dos anúncios.

Para provarem o seu ponto, os investigadores criaram três contas falsas – para um rapaz de 13 anos e dois de 16 – e comprovaram que os dados eram recolhidos pelo software da empresa à medida que os utilizadores abriam outras páginas na web, como jornais e lojas de roupa.

“O Facebook consegue colecionar dados de outras páginas que as crianças abrem e recolher informações como os links em que clicam, as palavras que pesquisam ou os produtos que compram ou que colocam no carrinho de compras”, explica o estudo. “Não há nenhum motivo para guardar este tipo de dados, exceto para alimentar o sistema de distribuição de anúncios”, acrescenta.

A empresa-mãe, Meta, negou, por sua vez, que os dados estivessem a ser usados pelo sistema de algoritmo para veicular anúncios a utilizadores menores. Joe Osborne, porta-voz da Meta, defende que “é errado dizer que, porque mostramos dados nas nossas ferramentas, eles são usados automaticamente para publicidade”. “Não usamos dados de sites e de aplicações dos nossos anunciantes e parceiros para personalizar anúncios para menores de 18 anos”, garante.

“O motivo pelo qual essas informações aparecem nas nossas ferramentas é porque os adolescentes visitam sites ou aplicações que usam as nossas ferramentas de negócios. Queremos estabelecer transparência nos dados que recebemos, mesmo que não sejam utilizados para personalização de anúncios”, explica Osborne, citado por The Guardian.
Carta aberta a Zuckerberg
Numa carta aberta a Mark Zuckerberg, 44 grupos de advocacia instam o fundador do Facebook a descartar a recolha de dados, alegando que estes estão a ser utilizados para “otimizar a apresentação de anúncios específicos aos jovens que lhes são mais vulneráveis”.

Esta prática, explicam na carta, “é especialmente preocupante”, uma vez que pode significar a apresentação de anúncios de perda de peso a adolescentes com distúrbios alimentares, por exemplo. “Acreditamos que isso viola a orientação internacional sobre os direitos das crianças”, sublinham.


Segundo o estudo, a única diferença no sistema agora implementado pelo Facebook consiste no facto de a segmentação ter sido “otimizada” por um “sistema de distribuição” de IA (inteligência artificial) altamente especializado. Para os responsáveis do estudo, a substituição da segmentação "selecionada pelos anunciantes" pela segmentação "selecionada por um sistema de distribuição de IA" não representa propriamente um avanço, já que este sistema pode ser, na verdade, mais prejudicial para as crianças.

“As crianças são mais suscetíveis às pressões do marketing, menos propensas a reconhecer conteúdos pagos e menos propensas a entender como os dados são usados para esses fins do que os adultos”, lê-se na carta. “O aumento das pressões comerciais sobre as crianças pode levar ao materialismo, ao conflito entre pais e filhos e à insatisfação com a vida. Publicidade para crianças cada vez mais personalizada e otimizada tem a capacidade de amplificar esses danos”, explicam.

Esta é mais uma polémica para o Facebook, que recentemente foi alvo de uma investigação jornalística, os “Facebook Papers”, que acusa a empresa de sacrificar a segurança em prol do lucro.
pub