Estudo denuncia aumento "substancial" de desinformação climática no Facebook

por Andreia Martins - RTP
Dado Ruvic - Reuters

O relatório divulgado esta quinta-feira pelo grupo independente Real Facebook Oversight Board e pela organização ambiental Stop Funding Heat analisou os dados de mais de 195 páginas e grupos na rede social. Concluem que a escala de desinformação climática no Facebook é "impressionante" e "aumentou substancialmente" no último ano.

O relatório analisou centenas de milhares de publicações e encontrou cerca de 818 mil posts onde a crise climática é negada ou minimizada. Estas publicações tiveram 1,36 milhões de visualizações todos os dias.

As 195 páginas analisadas são conhecidas por espalhar informação incorreta sobre a crise climática, recorrendo ao uso da ferramenta de análise do Facebook, CrowdTangle.

Destas páginas e grupos, 41 foram consideradas de “tema único”, que compartilham sobretudo publicações e “memes” em que se nega a existência da mudança climática e ridiculariza os esforços políticos na tentativa de a deter.

Para além destas páginas específicas, também as páginas e grupos que envolvem figuras políticas de direita foram identificadas neste estudo, como por exemplo os artigos e publicações com desinformação sobre a crise climática publicados por Marjorie Taylor Greene, membro da Câmara dos Representantes nos EUA pela Geórgia, em representação do Partido Republicano.

O estudo divulgado na quinta-feira, citado pelo jornal britânico The Guardian, mostrou ainda que 78 por cento das informações falsas são originárias de apenas sete páginas, todas sinalizadas há um ano num relatório anterior, páginas essas que o Facebook já recusou apagar.

Sean Buchan, um dos investigadores, responsável da Stop Funding Heat, evidencia que há uma disseminação “galopante” de desinformação climática. O relatório dá conta de um aumento de 76,7 por cento nas interações com publicações ligadas à desinformação climática, por comparação ao ano passado.

“Se esta taxa continuar a aumentar, isso poderá causar danos significativos no mundo real”, alertou.

O estudo é publicado enquanto decorre a cimeira da COP26 em Glasgow e numa altura em que o Facebook garante que está a neutralizar a disseminação de informação.
“Toxic ten” 
A rede social não respondeu ainda às conclusões deste estudo, mas garantiu ainda esta semana que, perante a desinformação climática, procura encaminhar os utilizadores para o Climate Science Center, onde se reúnem dados de contes confiáveis sobre a crise climática.

Na terça-feira, o vice-presidente de assuntos globais e comunicação do Facebook, Nick Clegg, anunciou que o centro vai sofrer uma expansão para incluir mais países e novos rótulos de informação, adicionados a posts sobre a crise climática para contexto complementar.

Segundo as próprias contas do Facebook, o Climate Science Center (Centro de Informação de Ciências Climáticas) recebe apenas 100 mil visitas diárias, uma fração do número de utilizadores que contacta com desinformação climática todos os dias. O Facebook tem 2,9 mil milhões de utilizadores ativos.

“O Facebook não pode e não vai conseguir policiar-se a si próprio. Precisamos de supervisão e regulamentação externa verdadeira, independente e transparente, bem como uma investigação de todas as atividades do Facebook - incluindo a perigosa disseminação da desinformação climática”, lê-se em comunicado do Real Facebook Oversight, citado pelo Guardian.

Um outro relatório, publicado esta semana pelo Center for Countering Digital Hate (CCDH), revela que apenas dez páginas são responsáveis por 69 por cento de todo o conteúdo de negação das alterações climáticas no Facebook.

Os toxic ten, como são designados, incluem as páginas de sites como o Breitbart, Washington Times e de páginas de comunicação social diretamente financiadas por Moscovo, como a RT ou a Sputnik News.

As críticas de disseminação de desinformação e fake news são semelhantes às que envolvem questões de saúde, nomeadamente a Covid-19.
Ainda esta semana, um relatório do NewsGuard revela os resultados do estudo de 20 contas, páginas e grupos que continuam a promover teorias da conspiração e falsas alegações sobre a pandemia.

Alex Cardier, o diretor-geral do NewsGuard no Reino Unido, considerou que o Facebook e o Instagram não estão a conseguir proteger os utilizadores da desinformação da Covid-19 e da vacina, apesar de terem sido avisados "repetidamente".
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