EUA. Democratas questionam acordo de venda de armas de 735 mil dólares a Israel

por Mariana Ribeiro Soares - RTP
Soldados israelitas carregam ogivas de artilharia num campo próximo à fronteira entre Israel e a Faixa de Gaza Amir Cohen - Reuters

O jornal The Washington Post revelou esta segunda-feira que os EUA aprovaram um acordo de venda de armas a Israel avaliado em 735 milhões de dólares, numa altura em que o secretário de Estado anunciou que os EUA estão “preparados” para apoiar um cessar-fogo. O acordo está a levantar uma onda de críticas por parte de alguns congressistas democratas, que sugerem que seja usado como meio de pressão.

Segundo o jornal norte-americano, que cita fontes do Capitólio, o Congresso foi notificado do acordo de venda de armas a Israel, avaliado em 735 mil dólares, a 5 de maio, cerca de uma semana antes de o Hamas, o movimento islamista no poder em Gaza, ter lançado os primeiros rockets contra Israel.

O acordo, aprovado pelo presidente norte-americano Joe Biden, inclui na sua maioria Munições de Ataque Direto Articulado (JDAM, na sigla inglesa), que são usadas para transformar bombas em mísseis “inteligentes”, guiados com precisão. Israel, que comprou grandes quantidades destas munições no passado, explicou que os ataques aéreos em curso na Faixa de Gaza são guiados com precisão para evitar atingir civis. Desde o início do conflito, há registo de 197 mortos do lado palestiniano, incluindo 58 crianças. Só no domingo, 42 pessoas foram mortas após um novo ataque israelita. Da parte de Israel, foram confirmados dez mortos, incluindo duas crianças.

A administração é obrigada a informar o Congresso sobre estas vendas, embora a notificação oficial geralmente chegue após o Congresso ter concordado informalmente. Uma vez feita a notificação formal, os deputados têm 15 dias para contestar.

O acordo vem extremar ainda mais as opiniões dos congressistas democratas, que se dividem relativamente à posição dos EUA na recente escalada do conflito entre israelitas e palestinianos.

Debaixo de críticas sobre o apoio demonstrado a Israel e à falta de reconhecimento e proteção dos direitos dos palestinianos, a Administração Biden é agora julgada pela venda de armas a Telavive. Alguns deputados sugerem que o acordo seja usado como moeda de troca, de forma a persuadir Israel a cessar-fogo.

Permitir que esta proposta de venda de bombas inteligentes prossiga sem pressionar Israel a concordar com um cessar-fogo só permitirá mais carnificina”, defendeu um deputado democrata do Comité de Negócios Estrangeiros da Câmara dos EUA ao Washington Post.

“Não podemos simplesmente condenador o disparo de rockets pelo Hamas e ignorar a violência policial validada pelo Estado de Israel contra os palestinianos – incluindo despejos ilegais, ataques violentos a manifestantes e o assassinato de crianças palestinianas”, escreveu no Twitter Mark Pocan, deputado da Câmara dos Representantes.
Apoio a Israel: um tema inabalável no Congresso
Uma nova geração de deputados do Partido Democrata tem questionado cada vez mais o apoio de Washington a Israel, nomeadamente as congressistas Alexandria Ocasio-Cortez, Rashida Tlaib e Ilhan Omar. Durante as administrações de Obama, Trump e Biden, os EUA ofereceram a Israel 3,8 mil milhões de dólares por ano em ajuda militar.

Ainda assim, o apoio a Israel parece ser um assunto inabalável no Congresso e vários assessores explicaram ao Washington Post que mesmo que seja apresentada uma resolução de oposição à venda de armas, é pouco provável que consiga o apoio necessário para ser aprovada.

O assunto da defesa de Israel conserva um sólido grupo de apoiantes na bancada democrata, incluindo o líder da maioria no Senado, Charles Schumer, o presidente do Comité de Negócios Estrangeiros do Senado, Robert Menendez, e o líder da maioria na Câmara dos Representantes, Steny H. Hoyer.

O próprio presidente Biden tem reiterado que “Israel tem o direito de se defender”
, enquanto o senador republicano Ted Cruz anunciou no mesmo dia que iria viajar para Israel “para avaliar o que precisam para proteger a sua segurança nacional".
“Estamos preparados para dar apoio se as partes procurarem um cessar-fogo”
No dia em que é revelado o acordo de venda de armas, o secretário de Estados dos EUA, Anthony Blinken, afirma que a Administração Biden está a trabalhar “nos bastidores” para colocar um ponto final na violência entre Israel e Palestina e pediu às duas partes que garantam a proteção de civis.

Durante um encontro com o ministro dos Negócios Estrangeiros da Dinamarca, em Copenhaga, Blinken sublinhou que os EUA “têm trabalhado sem parar por meio dos canais diplomáticos para tentar pôr fim ao conflito”.

Estamos preparados para dar apoio, se as partes procurarem um cessar-fogo”, acrescentou Blinken, que saudou os esforços da Organização das Nações Unidas (ONU) na procura de um cessar-fogo, apesar de os EUA terem bloqueado uma proposta de declaração conjunta do Conselho de Segurança sobre o conflito.

“Qualquer iniciativa diplomática que avance nessa perspetiva [cessar-fogo] é algo que apoiaremos”, afirmou Blinken. “E estamos novamente dispostos e prontos para isso. Mas, em última análise, cabe às partes deixarem claro que desejam procurar um cessar-fogo”, reiterou.

Apesar dos apelos internacionais ao fim da violência, nenhuma das partes envolvidas no conflito expressou interesse em ceder e os confrontos continuam pela segunda semana consecutiva, sendo já os mais graves dos últimos sete anos. No domingo, o primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, afirmou que a campanha de Israel em Gaza vai continuar com "força total" e que Israel “quer cobrar um preço alto” ao Hamas.

"Estamos a agir agora, pelo tempo que for necessário, para restaurar a calma e o silêncio para vocês, cidadãos de Israel. Vai levar tempo", afirmou Netanyahu num discurso emitido pela televisão.

O embaixador palestiniano da ONU, Riyad Mansour, também anunciou que a Palestina "nunca se renderá ou abdicará dos seus direitos".
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