EUA e Turquia discutem zona-tampão na Síria

por Graça Andrade Ramos - RTP
Soldados do Exército Livre da Síria, apoiados pela Turquia, na área em torno de Idlib, a 29 de dezembro de 2018 Reuters

Os presidentes dos Estados Unidos e da Turquia, Donald Trump e Recep Tayyip Erdogan, tentaram esta segunda-feira diminuir o clima de tensão entre os seus países, ao debater num telefonema a criação de uma zona segura no norte da Síria, livre de grupos armados e de milícias.

Ancara e Washington estão há uma semana de costas voltadas, depois de o Governo turco se ter negado a acatar as exigências da Administração Trump sobre a proteção das milícias sírio-curdas, as YPG, que a Turquia acusa de terrorismo.

Os EUA receiam que a sua retirada do conflito sírio deixe desprotegidas as YPG, aliadas no combate ao grupo Estado Islâmico, perante as poderosas Forças Armadas turcas.

O Presidente Tayyip Erdogan e o seu ministro dos Negócios Estrangeiros, Mevlet Cavusoglu, consideraram as exigências dos EUA relativamente às YPG um "erro grave".

Referiram também que não precisavam da licença de ninguém para lançar operações militares turcas contra os curdos em território sírio. A teimosia de Ancara levou depois os EUA a ameaçar os turcos com a "devastação da sua economia", se atacassem as YPG.

De acordo com a Presidência turca, Trump e Erdogan sublinharam afinal esta segunda-feira a necessidade de completar um roteiro de cessação de hostilidades para a cidade fronteiriça síria de Manjib. Concordaram ainda que outros "elementos" não deverão ter oportunidade de bloquear a retirada norte-americana da Síria.

A Casa Branca destacou, por seu lado, que Donald Trump e Recep Tayyip Erdogan debateram a "contínua colaboração" mútua na Síria, à medida que as forças norte-americanas iniciam a retirada do conflito.

Donald Trump disse a Erdogan que estava disposto a trabalhar com a Turquia quanto às suas preocupações securitárias no nordeste da Síria e apelou a Erdogan para não "maltratar os curdos" ou outros grupos "com quem lutamos para derrotar o ISIS", afirmou a porta-voz do Governo norte-americano.
Islamitas ganham força em Idlib
Em setembro do ano passado, a Rússia e a Turquia acordaram em Sochi estabelecer uma zona desmilitarizada em Idlib, no noroeste sírio, entre grupos islamitas e grupos armados rebeldes apoiados pela Turquia, o Exército Livre da Síria [com o acrónimo FSA na língua inglesa].

Ancara aceitou a responsabilidade de manter a área estabilizada e colocou as suas tropas ao longo da linha definida com Moscovo. Os grupos islamitas respeitaram a situação, mas mantiveram as suas posições.

No início do ano, liderados pelo grupo Hayat Tahrir al Sham, HTS [antiga al Qaeda na Síria], os islamitas iniciaram vários dias de combates intensos com a FSA e conquistaram a área onde esta era dominante. A vitória foi formalizada quinta-feira passada.

Para evitar um assalto das forças russas, o HTS afirmou esta segunda-feira que não vai procurar dominar militarmente a região, pretendendo instalar uma administração civil unida que traga estabilidade e acabe com a desordem e a anarquia em Idlib.

O HTS e os grupos que lidera são considerados terroristas pelos Estados Unidos, pela Turquia, pela Rússia e pelo Governo Sírio. Ancara receia que o crescimento do HTS e seus aliados leve Moscovo a deitar para o lixo o acordo de setembro.

Na passada sexta-feira Moscovo afirmou que se mantém no acordo de desmilitarização e estabilização de Idlib, mas manifestou preocupação com as constantes violações do cessar-fogo.

O ministro turco da Defesa, Hulusi Akar, que visitou a área acompanhado do Chefe de Estado Maior das Forças Armadas da Turquia e membros da Agência de Informação turca, garantiu à Rússia que o seu país "estava a fazer todos os esforços para preservar o cessar-fogo e a estabilidade em Idlib".
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