Ex-presidente equatoriano denuncia plano para entregar Assange aos EUA

por RTP
Neil Hall - Reuters

O ex-presidente equatoriano Rafael Correa denunciou um alegado plano do actual presidente, Lenin Moreno, para entregar Julian Assange aos Estados Unidos.

Em declarações prestadas à cadeia de televisão russa Russia Today, o ex-presidente equatoriano classificou de vergonhosa a política adotada pela corrente administração. “Penso que vão entregar Assange ao Governo americano”, declarou.

“O Estado equatoriano tem de proteger os direitos de Assange, ele não é apenas um asilado; é um cidadão”, disse Correa, lembrando que o Equador concedeu a cidadania ao co-fundador da WikiLeaks.

No entanto, Correa acredita que o atual governo procure desesperadamente cair nas boas graças de Washington e admite que Assange possa ser parte da troca. Rafael Correa, que era o presidente do Equador aquando do asilo de Julian Assange na embaixada do país em Londres, considera que o governo atual está “absolutamente submisso” a Washington. O secretário de Estado dos Estados Unidos visitou o Equador este ano e reuniu-se com o Presidente Moreno.

Na semana passada, dois congressistas escreveram ao presidente equatoriano a pedir-lhe que “entregue Assange às autoridades competentes” e a sublinharem o facto de o co-fundador da WikiLeaks ser um entrave ao estreitar de relações entre os dois países.

Dizendo estarem “ansiosos por aprofundar na colaboração com o governo [do Equador] num amplo leque de assuntos, desde a cooperação económica ao auxílio contra o narcotráfico, ao regresso ao Equador da Agência norte-americana para o Desenvolvimento Internacional”.

Os congressistas dizem-se “particularmente perturbados” por saberem que Assange voltou a ter acesso à Internet e apelidam-no de “criminoso perigoso e uma ameaça à segurança global”.

Julian Assange está a viver na embaixada do Equador em Londres desde 2012, na sequência da emissão da ordem de extradição para a Suécia quando foi alvo de acusações de violação e assédio sexual.

Posteriormente, o caso foi arquivado e Assange ficou livre para deixar as instalações da embaixada, mas a polícia britânica avisou que será “obrigada” a deter Assange por ter violado, em 2012, as condições da sua liberdade sob caução.
Equador não vai intervir na relação com Reino Unido
Em entrevista à agência Reuters, o ministro equatoriano dos Negócios Estrangeiros garante que o país não deverá tentar mediar a relação entre Assange e o Reino Unido.

“O Equador não tem responsabilidades de tomar mais medidas” em relação à situação de asilado na embaixada em Londres, afirmou José Valencia. Esclarecendo que a única responsabilidade do Equador é garantir o bem-estar de Assange, o ministro sublinha: “Não somos advogados de Assange, nem representantes do Governo britânico. Esta é uma questão para ser resolvida entre Assange e o Reino Unido”.

Desta forma, o Equador demarca-se da posição até aqui seguida, que sempre se pautou pelo diálogo com Londres.

Em dezembro, após conceder a cidadania a Assange, o Equador tentou nomeá-lo membro da missão diplomática do Equador na Grã-Bretanha e na Rússia, para garantir uma passagem segura para deixar a embaixada. A Grã-Bretanha negou o pedido.

No entanto, o maior receio de Assange é a sua extradição para os Estados Unidos, onde poderia ver-se envolvido nas malhas da justiça norte-americana pela publicação de documentos militares e diplomáticos confidenciais.

Um advogado de Assange disse que “os mais recentes desenvolvimentos” mostram que o cidadão australiano poderá precisar de ajuda por enfrentar “verdadeiro perigo”.
WikiLeaks prepara acusação contra Equador
O advogado Baltasar Garzon deve anunciar, esta semana, acusações ao Equador por violação dos direitos e liberdades fundamentais de Julian Assange.

Em causa está o corte no acesso ao telefone móvel e à Internet, em março, na sequência de declarações públicas de Assange sobre a tensão entre Londres, Moscovo e o independentismo catalão. As comunicações foram retomadas este mês.

O Equador também criou um “protocolo especial” para Assange que, na perspetiva da WikiLeaks, “torna o asilo político de Assange sujeito à censura da sua liberdade de opinião, expressão e associação”.

O antigo presidente do Equador considera que estas foram tentativas para “humilhar Assange mas só conseguiram humilhar-se a si próprios. Estas regras vão de facto contra os direitos humanos. Estão a tentar isolar Assange e a tentar fazê-lo abandonar a nossa embaixada”, comentou Rafael Correa.

Já o ministro dos Negócios Estrangeiros do Equador admitiu “frustração” por causa da queixa apresentada num tribunal equatoriano, na semana passada, a propósito dos novos termos do asilo, segundo os quais Assange deverá pagar as suas contas médicas, chamadas telefónicas e limpeza da área suja pelo animal de estimação.

“Não existe qualquer obrigação nos acordos internacionais para o Equador pagar coisas como a conta da lavandaria de Assange”, ripostou José Valência. O ministro garante que a possibilidade de extradição de Assange para os Estados Unidos não foi debatida.

Contudo, o presidente equatoriano, Lenin Moreno, afirmou que o asilo não é suposto ser para sempre e admitiu estar preocupado com a possibilidade de que Assange possa ser extraditado para os Estados Unidos.


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