G7 procura isolar Rússia na questão síria com apoio árabe

por Andreia Martins - RTP
Max Rossi - Reuters

O Grupo dos Sete continua os trabalhos esta terça-feira em Lucca, Itália, onde se procura chegar a um consenso global sobre a situação na Síria. Este encontro acontece a poucas horas da visita do secretário de Estado norte-americano a Moscovo, principal apoiante do regime de Damasco.

Quando Rex Tillerson aterrar em Moscovo, esta terça-feira, poderá levar consigo o apoio não só do G7, que integra as maiores potências mundiais, mas também de vários países do Médio Oriente que esta manhã se juntam à discussão do grupo informal sobre a situação na Síria. 

Turquia, Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos, Jordânia e Qatar chegam à mesa das negociações com uma posição demarcada contra o regime de Assad, que responsabilizam pelo ataque com armas químicas registado há precisamente uma semana na província de Idlib. 

O ataque na zona controlada por rebeldes foi desde logo atribuído a Damasco e fez pelo menos 89 mortos, incluindo 31 crianças. Foi esse acontecimento que levou os Estados Unidos a bombardear, três dias mais tarde, a base aérea síria de Shayrat, naquela que foi a primeira intervenção direta de Washington no país desde o início da guerra civil, em março de 2011.

Hoje, o secretário de Estado norte-americano poderá transmitir junto de Sergei Lavrov, o ministro russo dos Negócios Estrangeiros, que a posição de Moscovo terá de ser reformulada e que o aliado fulcral de Bashar al-Assad deve mudar de posição. 

O regime de Damasco vive e sobrevive à custa dos apoios decisivos de aliados russos e iranianos, que criticaram desde logo a ação militar dos Estados Unidos na semana passada, acusando a Administração Trump de ingerência em território soberano sírio sob um "pretexto fabricado".

Mevlut Cavusoglu, ministro turco dos Negócios Estrangeiros, disse esta terça-feira que Ancara tem provas que mostram que o regime sírio continua a ter à sua disposição armas químicas. Em declarações ao canal turco TRT Haber, o responsável máximo da diplomacia turca disse esta manhã que o risco de uso de armas químicas vai continuar “até que Bashar al-Assad abandone o poder”.
Sanções económicas em cima da mesa
A Administração Trump já fez saber junto do Conselho de Segurança das Nações Unidas que está pronta a executar mais ações unilaterais em território sírio, caso o regime desencadeie novos ataques com armas químicas contra a população. Rússia e Irão, apoiantes de Assad, também já prometeram retaliar caso os Estados Unidos levem a cabo novas intervenções. 

Na segunda-feira, Donald Trump e Theresa May concordaram que a Rússia deve aproveitar o atual momento do conflito para acabar com a aproximação ao regime de Bashar al-Assad.

“A primeira-ministra e o Presidente concordaram que existe agora uma janela de oportunidade para persuadir a Rússia que a aliança com Assad já não faz parte dos seus interesses estratégicos”, refere o porta-voz de Downing Street, acrescentando que “a visita do secretário de Estado Tillerson a Moscovo proporciona uma oportunidade para fazer avanços no sentido de encontrar uma solução, que permita encontrar uma decisão política duradoura”. 

Também ao telefone, mas com a chanceler alemã, Donald Trump e Angela Merkel concordaram que Bashar al-Assad deve ser responsabilizado, segundo informou a Casa Branca. 

Na segunda-feira, Reino Unido e Canadá sugeriram à mesa do G7 que a Rússia fosse sujeita a sanções económicas caso não deixe de proteger e apoiar o regime sírio. A posição conjunta dos países deverá ficar acertada já esta terça-feira, pronta para ser entregue em mãos durante a estadia de Rex Tillerson em Moscovo.

Mas a Rússia já demonstrou que não está pronta a cortar relações com Assad e que não reconhece a maior parte das acusações das potências ocidentais, que incrimina o Governo sírio de desencadear ataques com armas químicas contra a própria população. 
Sinais de Moscovo
A viagem de Tillerson a Moscovo é a primeira reunião de alto nível da Administração Trump com o Governo russo. Rex Tillerson desenvolveu boas relações com a Rússia de Vladimir Putin enquanto foi presidente executivo da Exxon Mobil, tendo recebido por parte do Governo russo a “Ordem de Amizade”, em 2013. 



Hoje, e no papel de secretário de Estado norte-americano, Tillerson enfrenta o enorme desafio diplomático de convencer os russos a mudarem de lado no imbróglio sírio ao fim vários anos de apoio declarado. No domingo, em entrevista à CBS, o responsável culpou os russos de irresponsabilidade, uma vez que não foram capazes de impedir a repetição de um ataque com armas químicas.
  
"Se a Rússia foi cúmplice deste ataque ou se foi simplesmente incompetente a preveni-lo, ou se foi enganada pelo regime sírio, falhou de qualquer forma um compromisso que tinha estabelecido com a comunidade internacional”, sublinhou.

Adivinha-se muito difícil este autêntico teste de fogo, sobretudo quando se trata de um responsável sem qualquer experiência governativa. Como se não bastasse a troca de acusações registada ao longo da última semana, o Kremlin já fez saber que a viagem de Rex Tillerson não vai incluir qualquer encontro com o Presidente Vladimir Putin, um sinal da tensão que se vive atualmente entre os dois países.

Na verdade, o procedimento não é diferente daquele que vem indicado no protocolo: este tipo de visitas oficiais só obriga ao encontro com o homónimo russo, o ministro Sergei Lavrov. Mas Rex Tillerson, que tem um passado profissional muito ligado à Rússia - e até mesmo a Vladimir Putin - será o primeiro secretário de Estado norte-americano a não ter qualquer encontro agendado com o Presidente da Rússia durante a visita ao país.
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