Gaza. Israel anuncia voto sobre acordo de tréguas para esta sexta-feira

por Graça Andrade Ramos - RTP
Ammar Awad - Reuters

O governo israelita irá reunir-se sexta-feira para votar o acordo de cessar-fogo em Gaza, anunciaram fontes do executivo à Agência France Press.

A votação estava prevista para esta quinta-feira mas foi adiada, com o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netayahu, a acusar o Hamas de recuar em alguns pontos do texto, atrasando a sua aprovação "num esforço para forçar cedências de última hora".

"O gabinete de segurança israelita não se reúne até que os mediadores notifiquem Israel de que o Hamas aceitou todos os pontos do acordo", referiu o comunicado. O Hamas desmentiu todas as alegações do primeiro-ministro de Israel.

Fontes norte-americanas anunciaram entretanto que disputas sobre os prisioneiros a libertar foram resolvidas, estando o acordo finalizado.

O acordo alcançado entre Israel e o Hamas prevê um cessar-fogo completo durante 42 dias a partir de domingo, após 15 meses de uma guerra devastadora, e a troca de 33 reféns israelitas por centenas de prisioneiros palestinianos.

O secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, afirmou-se confiante que o calendário vai ser cumprido.

Blinken disse ainda que estão a ser solucionados os problemas que têm surgido em relação ao acordo de cessar-fogo anunciado na quarta-feira pelo Qatar, em colaboração com outros responsáveis da administração do Presidente cessante, Joe Biden.

"Não é surpreendente que num processo, numa negociação, que tem sido tão difícil, haja problemas. Estamos a tentar resolver este problema neste preciso momento", afirmou Blinken, sem mencionar mais detalhes.

O imbróglio que ameaçou a adoção do acordo de tréguas por parte de Israel ter-se-á relacionado com a identidade de alguns dos prisioneiros palestinianos que o Hamas queria ver libertados em troca dos reféns israelitas mas acabou por ser "resolvido".
Netanyahu por um fio
Para Benjamin Netanyahu o acordo poderá contudo revelar-se uma derrota pessoal e política, caso se confirme que Israel aceitou retirar militarmente do corredor de Filadélfia, uma faixa de segurança na fronteira entre Gaza e o Egito.

O ministro dos Assuntos da Diáspora, Amichai Chikli, membro do Likud de Netanyahu, ameaçou bater com a porta se "houver uma retirada" do corredor antes dos objetivos de guerra serem alcançados. Estes incluem a libertação de todos os reféns a par da destruição do Hamas.

A retirada do corredor estará prevista para o final da primeira fase, até ao 50º dia de cessar-fogo, depois da entrega dos primeiros 33 reféns, mas antes do regresso dos reféns masculinos, de acordo com a agência Reuters, que teve acesso ao documento.

A demissão de Chikli poderá tornar-se um embaraço, uma vez que outros ministros do executivo de coligação de Netanuyahu, oriundos da extrema-direita, já fizeram idêntica ameaça. 

O acordo de cessar-fogo anunciado esta quarta-feira é contudo extremamente frágil e poderá ser denunciado por qualquer das partes caso fracassem as negociações para a segunda e terceira fases, que deverão iniciar-se mal a primeira comece a ser implementada.
Perigo para os reféns
O braço armado do Hamas anunciou esta quinta-feira que um bombardeamento israelita atingiu nas últimas horas, já depois do anúncio do acordo, um lugar onde estava detida uma refém, sem contudo revelar se ela ficou ferida ou se morreu no ataque.

O Hamas advertiu ainda que qualquer "agressão" israelita coloca em perigo os reféns.

Responsáveis em Gaza, afetos ao grupo islamita, referiram que pelo menos 80 pessoas, incluindo 19 crianças, foram mortas nos ataques de Israel desde que o acordo foi anunciado esta quarta-feira.

As Forças de Defesa de Israel confirmaram ter atingido cerca de "50 alvos" nas últimas 24 horas.
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