Hong Kong. Confrontos e detenções marcam novos protestos

por RTP
O último fim de semana tinha sido também marcado por protestos e detenções em Hong Kong. Foto: Tyrone Siu - Reuters

Em Hong Kong, centenas de polícias entraram em confronto com manifestantes que se opunham a uma lei do Governo chinês que pretende criminalizar quem troce do hino nacional desse país. As autoridades dispararam balas de gás-pimenta sobre as multidões e detiveram cerca de 300 pessoas.

Ignorando o distanciamento social aconselhado devido à pandemia de Covid-19, milhares de habitantes de Hong Kong saíram às ruas em protesto pela segunda vez na última semana para lutarem pela democracia dessa região administrativa.

No fim de semana os protestos foram contra a provável aprovação de uma lei de segurança nacional para Hong Kong que poderá proibir contestações, divisões e insubordinações contra o Governo chinês.

Na terça-feira, os manifestantes saíram em oposição a uma outra lei - a chamada lei do hino nacional -, que começou a ser debatida no mesmo dia pela Assembleia Nacional Popular, órgão máximo legislativo da China que, em mais de meio século, nunca rejeitou um projeto de lei do Partido Comunista.

Segundo esta lei, cuja votação está prevista para dia 4 de junho, data do aniversário do Massacre de Tiananmen, quem “tente insultar” o hino, cantando-o de “forma desrespeitosa”, terá de pagar uma multa ou cumprir pena de prisão de até três anos.

As estradas em torno do edifício do Conselho Legislativo de Hong Kong, onde os legisladores têm estado a debater a lei do hino nacional, estão bloqueadas desde terça-feira, e até o acesso aos passeios para peões nessa área apenas é permitido a quem vai trabalhar. Durante a manhã de terça-feira, as autoridades policiais mandaram parar e revistaram as pessoas que se encontravam nas estações ferroviárias de Hong Kong.

Nas redes sociais, organizadores de protestos apelaram aos habitantes que continuassem a movimentar-se pela cidade mas reconheceram que seria difícil travar o debate sobre a lei do hino nacional sem que existisse um elevado risco de detenções.

Foi o que se verificou durante a tarde de terça-feira, quando no bairro de Mong Kok várias pessoas, incluindo menores, foram detidas. Em Causeway Bay, no centro de Hong Kong, foram pelo menos 180 as detenções por “aglomerações não autorizadas” e, noutra área central da cidade, a polícia disparou balas de gás-pimenta sobre as multidões para as dispersar. Ao todo, já foram detidas cerca de 300 pessoas.


“A polícia não teve outra opção e precisou de empregar a mínima força, pelo que lançou balas de gás-pimenta para impedir os relevantes comportamentos ilegais e violentos”, explicaram as autoridades em comunicado, acrescentando que várias das detenções foram de jovens e adolescentes que transportavam armas ilegalmente.

Apesar da atuação policial, muitos dos manifestantes permaneceram nos locais, entoando o cântico “a independência é a única solução para Hong Kong”.

O Governo de Hong Kong apoia a lei do hino nacional e nega que a mesma ameace a liberdade de expressão, defendendo que se trata de uma questão de “respeito” e que apenas se tratarão como crimes as situações em que alguém insulte pública e intencionalmente o hino nacional.
Trump opõe-se às leis chinesas
O último fim de semana tinha sido também marcado por protestos e detenções em Hong Kong, onde manifestantes saíram às ruas em oposição à lei da segurança nacional que poderá ser brevemente aprovada pela Assembleia Nacional Popular.

Esta quarta-feira, a imprensa de Hong Kong divulgou que Pequim ampliou o rascunho desse projeto de lei. “Advogados da China continental dizem que esta alteração pode passar a abranger não só indivíduos como também organizações”, avançou a estação pública Rádio Televisão Hong Kong.

Na terça-feira, o Presidente dos Estados Unidos avisou que iria tomar medidas caso a China avançasse com a imposição da lei da segurança nacional e com a lei do hino nacional. A secretária de imprensa da Casa Branca, Kayleigh McEnany, afirmou que Donald Trump está “descontente” com a situação e disse ser “difícil entender de que forma Hong Kong pode permanecer um centro financeiro se a China tomar o controlo”.

O alerta do Presidente norte-americano chegou apenas algumas horas depois de o homólogo chinês, Xi Jinping, ter defendido que as forças militares chinesas devem aumentar a sua capacidade de resposta a confrontos armados.

Um dia antes, as forças militares da China avisaram que estão preparadas e disponíveis para "salvaguardar" a soberania chinesa em Hong Kong, possuindo a “determinação, confiança e capacidade para proteger a segurança nacional” na cidade.
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