Impeachment. Acusador de Trump pode ser agente da CIA

por Joana Raposo Santos - RTP
Mais de 200 democratas da Câmara dos Representantes já afirmaram publicamente apoiar o impeachment Erin Scott - Reuters

O autor da denúncia que poderá levar Donald Trump a enfrentar um processo de impeachment é apontado por fontes familiarizadas com a investigação como um agente da norte-americano Agência Central de Informações (CIA) que já trabalhou na Casa Branca. O alegado agente acusa o Presidente dos Estados Unidos de “usar o seu poder para solicitar a um país estrangeiro que interferisse nas eleições presidenciais de 2020”, mas Trump já negou ter exercido qualquer pressão sobre o homólogo ucraniano.

O jornal The New York Times foi o primeiro a identificar o autor da denúncia contra Trump como um agente da CIA e ex-trabalhador da Casa Branca, informação entretanto confirmada pela agência Reuters com base em fontes próximas da investigação.

É ainda desconhecido o nome do acusador e um dos seus advogados já alertou que a eventual revelação da identidade do mesmo poderá colocá-lo em risco.

O aviso surge depois de Donald Trump ter exigido saber quem forneceu as informações ao denunciante e defendido que essa pessoa se assemelha a um espião.

“Quero saber quem é a pessoa que deu informações ao acusador. Porque quem o fez assemelha-se a um espião”, declarou. “Sabem o que se costumava fazer antigamente, certo? Lidávamos com espiões e com traição de forma um pouco diferente da atual”, disse o Presidente, numa aparente referência à execução de espiões nos Estados Unidos em décadas passadas.

Palavras proferidas na manhã de quinta-feira, durante um evento privado com diplomatas em Nova Iorque, e registadas numa gravação obtida pelo jornal Los Angeles Times.

O democrata Raja Kirshnamoorthi confessou estar “preocupado com as declarações do Presidente” e recear que este “pretenda retaliar contra o acusador”.
Em que consiste a acusação?
Donald Trump é acusado de ter utilizado ilicitamente 400 milhões de dólares em apoios militares à Ucrânia, numa altura em que esse país se encontra vulnerável face à Rússia, para que investigasse o seu potencial adversário nas eleições de 2020, Joe Biden, e o filho, Hunter Biden.
Trump acredita que Joe Biden e o seu filho são culpados por crimes de corrupção.

Outra das acusações que constam do relatório do alegado agente da CIA diz respeito ao facto de a Casa Branca ter tentado encobrir as provas que poderiam incriminar Donald Trump.

De acordo com o acusador, funcionários da Administração Trump retiraram do sistema informático a transcrição da conversa telefónica com o Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, e passaram-na para um sistema informático privado onde habitualmente é armazenada informação sensível a nível da segurança nacional.

“Estas ações deixaram claro, a meu ver, que os funcionários da Casa Branca perceberam a gravidade do que tinha sido conversado durante esse telefonema”, pode ler-se no relatório que denuncia Trump.

O Presidente norte-americano tentou defender-se na quarta-feira, ao divulgar a transcrição da conversa telefónica com o homólogo ucraniano. O documento revela, porém, que de facto Trump pediu um “favor” ao Presidente da Ucrânia.

Na noite passada, Trump voltou a defender-se das acusações. “O Presidente da Ucrânia disse que NÃO foi pressionado por mim a fazer algo de errado. Não pode haver melhor testemunho que esse!”, considerou no Twitter.


“Por outro lado, Joe Biden, enquanto era vice-presidente, fez o seu filho apoderar-se de milhões de dólares ao fornecer armamento ao Presidente ucraniano. Também lucraram milhões com a China”, acusou.
Democratas querem impeachment
Até agora, 219 democratas da Câmara dos Representantes – mais de metade dos 435 membros – demonstraram publicamente apoio pelo processo que poderá levar ao impeachment.

“O Presidente dos Estados Unidos traiu o juramento de tomada de posse, o juramento de defender a segurança nacional e o juramento de defender a nossa Constituição”, considerou Adam Schiff, democrata e presidente do Comité de Inteligência da Câmara dos Representantes.

O Partido Republicano, por outro lado, já se encontra a juntar provas que neguem a alegada pressão exercida por Trump sobre o homólogo ucraniano.

A Casa Branca também já se expressou a favor do Presidente norte-americano, alegando que a tentativa de destituição é um ataque levado a cabo pelos democratas que, desde as eleições de 2016, veem Donald Trump como um vencedor ilegítimo.

A opinião é partilhada pelo próprio Presidente, que considera que “o que os democratas estão a fazer ao país é vergonhoso e não deveria ser permitido”, pelo que “deveria existir maneira de o travar”.
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