"Impeachment" de Trump envolve cúpula da Administração

por RTP
Trump terá pedido ajuda ao primeiro-ministro australiano Scott Morrison para minar a investigação do conluio conduzida pelo procurador especial Robert Mueller Leah Millis - Reuters

O procurador-geral dos Estados Unidos, Bill Barr, e o secretário de Estado Mike Pompeo terão participado em reuniões entre o Presidente Donald Trump e líderes estrangeiros de pelo menos quatro países, noticia o britânico The Guardian. As reuniões teriam em vista a produção de narrativas prejudiciais a Joe Biden, provável adversário democrata nas eleições de 2020, ou com vista a minar a credibilidade dos serviços de informações depois dos relatórios produzidos acerca da interferência russa nos assuntos internos norte-americanos.

O jornal britânico refere vários relatos no sentido da existência desses contactos ao mais alto nível na cúpula da Administração Trump.

O processo de impeachment lançado a semana passada pela Câmara dos Representantes foi espoletado pelo contacto do Presidente Trump com o homólogo ucraniano, mas – garante o Guardianrapidamente se percebeu que não estava em causa apenas essa aproximação com Kiev, mas que Trump poderia ter uma coleção maior de contatos em que estariam envolvidos elementos ao mais alto nível da Administração.

Aparentemente apanhados numa série de revelações relacionadas com este dossier, Bill Barr e Mike Pompeo estarão agora preocupados em distanciar-se do problema. Barr foi citado como estando “surpreendido e zangado” por encontrar o seu nome no resumo do telefonema entre Trump e o Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky. Já Pompeo, quando questionado sobre o que sabia desse telefonema, respondeu que não tinha conhecimento do documento em que o já famoso “informador” referia o assunto.

“Eu não tive conhecimento dessa queixa”, declarou à ABC News.

No entanto, de acordo com o Wall Street Journal, que cita um membro do Departamento de Estado, Pompeo foi parte ativa durante a chamada telefónica com Zelensky. Barr terá, por seu lado, viajado para Itália e Londres para pedir ajuda na investigação à investigação do alegado conluio com a Rússia, referiu o Washington Post.

O próprio Trump terá pedido ajuda ao primeiro-ministro australiano Scott Morrison para minar a investigação do conluio conduzida pelo procurador especial Robert Mueller. Ajuda a que Morrison terá acedido fornecer, de acordo com o New York Times e confirmado por Camberra.

“Deve incomodar-nos a todos que o procurador-geral ande pelo estrangeiro a gastar o seu tempo para desacreditar o relatório de Mueller em vez de combater o crime aqui nos Estados Unidos. O seu envolvimento pessoal reforça a ideia de que ele apoia a aposta de Trump”, escreveu um antigo procurador, Renato Mariotti.


Sobre o Presidente, Mariotti é igualmente cáustico, acusando Trump de se mover de acordo com os seus interesses e não de acordo com os interesses dos americanos.


“É muito claro que Barr está a trabalhar fervorosamente com Trump na produção de qualquer coisa como um relatório anti-Mueller”, escreveu no Twitter o apresentador da MSNBC Chris Hayes.

Face às queixas de Trump de que tinha sido injustamente acusado de aproximação a fontes russas durante a campanha para as Presidenciais de 2016, o Departamento de Justiça abriu uma investigação posterior ao trabalho do procurador especial Robert Mueller que, não acusando Trump e a sua equipa, também pouco fez para ilibar o presidente.

“A pedido do procurador-geral Barr, o Presidente contactou outros países para lhes pedir que apresentassem o procurador-geral e o [procurador John] Durham às pessoas certas”, explicou Kerri Kupec, porta-voz do Departamento de Justiça.

Várias fontes de informação apontam para a origem do escândalo com os russos numa dica ao FBI de um diplomata australiano depois de este ter ouvido de um membro da equipa de Trump que um cidadão russo teria oferecido “podres” de Hillary Clinton, a adversária nessas Presidenciais de 2016.

O que estará a causar estranheza neste caso é o grau de envolvimento do próprio Presidente para colocar em marcha uma investigação que reescreva a história de 2016 e relance a sua candidatura sem essa mácula das intervenções estrangeiras: “Numa investigação, tudo o que é necessário é um pedido de um procurador ao país estrangeiro, feito através do gabinete dos Negócios Estrangeiros, feito de acordo com os termos de um tratado de assistência jurídica mútua. Nenhum telefonema do Presidente está envolvido no processo”, explicou Harry Sandick, antigo procurador do distrito sul de Nova Iorque.
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