Irão tem urânio enriquecido 23 vezes acima dos limites estabelecidos, diz a AIEA

por Andreia Martins - RTP
Leonhard Foeger - Reuters

A Agência Internacional de Energia Atómica (AIEA) realça que o país está a aumentar significativamente as suas reservas de urânio enriquecido nos últimos meses, ultrapassando os limites de armazenamento de urânio enriquecimento, mas também de percentagem de enriquecimento do mesmo.

De acordo com um relatório da Agência Internacional de Energia Atómica a que as agências France Presse e Reuters tiveram acesso, as reservas de urânio enriquecido chegavam a 4.744,5 quilogramas a 13 maio (por comparação a 3.760,8 quilogramas em outubro de 2022).

Nos termos do acordo internacional de 2015, o Irão comprometeu-se a não ultrapassar o limite de 300 quilogramas de composto específico que equivale a 202,8 quilogramas de urânio enriquecido. Ou seja, o país já ultrapassou em 23 vezes o limite estabelecido.

Por outro lado, a AIEA preocupa-se também com o nível de enriquecimento do urânio armazenado. Segundo o acordo, o Irão poderia ter urânio enriquecido até ao máximo de 3,67 por cento. Segundo a agência da ONU para a energia atómica, o país tem agora 470,9 quilogramas enriquecidos a 20 por cento e 114,1 quilogramas a 60 por cento.

No entanto, apesar destes dados preocupantes, a agência da ONU reconhece que houve “avanços” na cooperação por parte de Teerão e decidiu dar como encerrado o processo sobre a presença de material nuclear num local não declarado em Marivan.

A AIEA diz ter recebido “explicações plausíveis” e que não tem “questões adicionais” sobre este dossier específico.

As autoridades iranianas autorizaram ainda a reinstalação de câmaras de vigilância em duas instalações de enriquecimento e numa fábrica onde se produzem compostos de processamento de urânio.

Ainda assim, continuam em aberto as questões relacionadas com outras duas instalações não declaradas em território iraniano, em Turqyzabad e Varamin. A agência Reuters destaca que foram reinstalados apenas alguns equipamentos de monitorização retirados no ano passado.

Os dados surgem em dois relatórios confidenciais a que a agência France Presse e a Reuters tiveram acesso esta quarta-feira, quando faltam poucos dias para a reunião do Conselho de Governadores da Agência Internacional de Energia Atómica. 
No início do ano, a Agência Internacional de Energia Atómica detetou em Fordow partículas de urânio enriquecido a 83,7 por cento, muito próximo do nível necessário para uma bomba nuclear (90 por cento). O limite estabelecido pelo acordo de 2015 era de 20 por cento.

O Irão continua a negar qualquer intenção de alcançar a bomba atómica, mas admitiu “flutuações involuntárias” durante o processo de enriquecimento, tendo fornecido novos dados.

Em resposta, a AIEA considera que as informações cedidas “não são inconsistentes com as explicações do Irão sobre a origem dessas partículas e não tem mais questões”.

Nos últimos anos, Teerão tem-se afastado cada vez mais dos limites estabelecidos pelo acordo internacional alcançado em 2015, que previa o controlo do programa nuclear iraniano em troca do levantamento de sanções internacionais. Em 2018, por decisão do presidente Donald Trump, os Estados Unidos retiraram-se unilateralmente do entendimento, ainda que todos os termos estivessem a ser cumpridos pelo Irão até à data.

Desde então, a República Islâmica tem testado os limites estabelecidos. Desde que chegou à Casa Branca, o presidente Joe Biden procurou reavivar o acordo em conjunto com as restantes potências envolvidas – os países do Conselho de Segurança e a Alemanha - , mas sem sucesso.

As negociações estão congeladas desde 2022, não só pelo contexto internacional desfavorável, com a guerra na Ucrânia, mas também após meses de grande agitação interna no Irão, na sequência da morte da jovem Mahsa Amini, em setembro de 2022.

(com agências)
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