Médio Oriente. Irão e Arábia Saudita abrem caminho para o diálogo

por RTP
EPA

Os ministros dos Negócios Estrangeiros do Irão e da Arábia Saudita encontraram-se na cimeira regional organizada pelo Iraque, no sábado. Depois de cinco anos de costas voltadas, este foi o terceiro encontro e já fizeram saber terem intenções de encontrar-se de novo.

A cimeira para a cooperação regional, que decorreu sábado, na fortemente guardada Zona Verde em Bagdade, colocou frente a frente, pela primeira vez desde o início de 2016, os representantes diplomáticos do Irão e da Arábia Saudita, Hossein Amir Abdollahian e Faisal bin Farhan Al Saud.

As conversações entre os rivais regionais começaram em segredo no passado mês de Abril mas foram interrompidas temporariamente para a formação do novo governo iraniano, liderado por Ebrahim Raisi.

Após o voto de confiança do Parlamento iraniano, na semana passada, a primeira deslocação oficial de Abdollahian ao estrangeiro foi para a cimeira regional para promoção da cooperação e parceria regional e confirmou o diálogo com o congénere saudita.

“O homólogo saudita disse que estavam à espera que o novo governo do Irão fosse confirmado antes de restabelecer as nossas conversações”, disse Abdollahian, durante uma entrevista ao canal público iraniano, sublinhando não ter havido discussões formais entre ambos.

“Tivemos três rondas de negociações com o lado saudita e uma quarta deve ter lugar após a formação do novo governo iraniano”, disse o embaixador do Irão no Iraque, Iraj Masjedi, citado pela agência noticiosa ISNA. Em Maio, aquando da confirmação do regresso às negociações com a Arábia Saudita, os representantes de Teerão diziam-se prontos a fazer o necessário para resolver as tensões com Riade.

Também o novo presidente iraniano, Ebrahim Raisi, que tomou posse no início do mês, anunciou “não ver obstáculos” à retoma de laços com Riade.

Iraque, mediador regional  

Bagdade, que se quer afirmar como mediador entre os países árabes e o Irão, tem promovido conversações entre Teerão e Riade desde Abril.

Com a cimeira de sábado, a primeira de várias segundo o ministro iraquiano dos Negócios Estrangeiros, Fuad Hussein, o Iraque tinha o objetivo de estreitar os laços económicos com os países vizinhos, para abrir caminho a futuras ajudas. No entanto, foi dominada pelo debate sobre a luta contra o terrorismo e o impacto da tomada de Cabul pelos talibãs.

A cimeira terminou com o acordo dos participantes em unir esforços para estabilizar a região.

No encontro estiveram presentes o presidente francês Emmanuel Macron, o presidente egípcio Abdel Fattah al-Sisi, o rei da Jordânia Abdullah II, o emir do Qatar Tamim bin Hamad, o primeiro-ministro do Kuwait Khaled Al-Hamad Al-Sabah e o ministro turco dos Negócios Estrangeiros primeiro-ministro Mevlut Cavusoglu – que apelou ao fim do terrorismo a partir do Iraque.

Da lista de presenças também contaram o secretário-geral do Conselho de Cooperação para o Golfo Nayef Al-Hajraf, o vice-presidente dos Emirados Árabes Unidos e governante do Dubai Rashid Al Maktoum e o secretário-geral da Liga Árabe Ahmed Aboul Gheit.

Os motivos do conflito

Líderes de potências muçulmanas xiitas e sunitas do Médio Oriente, o Irão e a Arábia Saudita são rivais há anos, tendo apoiado forças beligerantes opostas no Iémen, na Síria e em outros locais.

Cortaram relações diplomáticas no início de 2016, na sequência da invasão por uma multidão da embaixada saudita em Teerão, após o assassinato de um reputado clérigo xiita na Arábia Saudita.

As tensões aumentaram depois de a Arábia Saudita anunciar o apoio à "pressão máxima" do ex-presidente dos EUA, Donald Trump, que propunha duras sanções contra o Irão após a saída unilateral norte-americana do acordo nuclear de 2015.

Em 2019, as autoridades norte-americanas e sauditas acusavam o Irão de ser o responsável por um ataque com mísseis e drones às principais instalações de petróleo da Arábia Saudita, interrompendo temporariamente metade da produção de crude.
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