Merkel não se recandidata à liderança da CDU e vê necessidade de "novo capítulo" na Alemanha

por Andreia Martins - RTP
A chanceler alemã confirmou que não se vai recandidatar a um novo mandato em 2021 Hannibal Hanschke - Reuters

A chanceler alemã confirmou esta segunda-feira que não se vai recandidatar à liderança da União Democrática Cristã em dezembro. Em conferência de imprensa ao início da tarde, Angela Merkel assumiu-se “desapontada” com o resultado das eleições em Hesse e anunciou ainda que este será o seu último mandato à frente do Governo federal.

É o início do fim de um ciclo político na Alemanha. Angela Merkel, líder da CDU há mais de 18 anos e chanceler alemã desde 2005, anunciou esta segunda-feira que não se vai recandidatar à presidência do partido nem concorrer às próximas eleições legislativas de 2021.

"Não me vou recandidatar à presidência da CDU no próximo congresso do partido em dezembro. (...) E este quarto mandato será o último como chanceler alemã. Nas eleições de 2021 não serei candidata a chanceler, nem candidata ao Bundestag, (...) nem a qualquer cargo político", afirmou Angela Merkel.

A informação já tinha sido avançada durante a manhã por várias agências internacionais e pela comunicação social alemã, que se referiam a uma reunião da direção partidária da CDU, esta manhã, onde a decisão terá sido comunicada.

Na conferência desta tarde, Angela Merkel reconheceu que a decisão de não concorrer novamente à liderança partidária foi tomada ainda antes do interregno parlamentar deste verão e que planeava anunciá-la na próxima semana.

O resultado das eleições regionais de Hesse terão motivado esta antecipação. A chanceler reconheceu que o desfecho eleitoral deste domingo foi "dececionante" e que poderia ter sido melhor com uma conjuntura diferente ao nível federal, reconhecendo que o Governo nacional "perdeu credibilidade" com os recentes resultados regionais e que é necessário iniciar "um novo capítulo" na vida do partido e da coligação.


Duas candidaturas confirmadas

Angela Merkel defendeu no passado que a direção do partido e o cargo de presidente federal devem estar entregues à mesma pessoa, mas esta convicção política não resistiu às pressões após o fraco resultado da CDU nas eleições regionais de Hesse, que decorreram este domingo, onde a CDU venceu mas obteve os piores números da CDU naquela região desde 1966.

O escrutínio ficou marcado não só pela queda significativa dos dois partidos da "grande coligação" que lidera o Governo federal - a par com a CDU, os social-democratas do SPD obtiveram o pior resultado desde o final da II Guerra Mundial - mas também pela entrada da extrema-direita no parlamento regional.

No entanto, Angela Merkel mencionou também os resultados nas eleições regionais da Baviera, onde o partido a CSU, partido irmão da CDU, sofreu uma pesada derrota eleitoral há duas semanas, tendo perdido a maioria absoluta nas eleições locais. "Assumo as responsabilidades pelo que aconteceu desde a eleição federal do ano passado", afirmou.

Merkel encara estes resultados como "uma motivação" para repensar a situação e que, perante as circunstâncias, teria de haver alterações. A sua saída, sublinha, será "uma oportunidade", uma vez que a CDU não escolhe um novo líder há 18 anos. É uma decisão que permite à CDU preparar-se para "sucessos futuros", acrescentou.

Na mesma conferência de imprensa, Angela Merkel anunciou que não vai apoiar ou tentar influenciar nenhuma candidatura à liderança do partido e que duas figuras da CDU já se chegaram à frente para ocupar o seu cargo: Annegret Kramp-Karrenbauer, atual secretária-geral da CDU e figura próxima da atual liderança do partido, e Jens Spahn, ministro da Saúde do presente Governo federal e um crítico assumido da chanceler.

Segundo o jornal alemão Bild, o antigo eurodeputado e ex-líder do grupo parlamentar dos democratas-cristãos (entre 2000 e 2002), Friedrich Merz, poderá anunciar a sua candidatura ainda esta segunda-feira.

A eleição do próximo presidente do partido acontece no próximo congresso, que se realiza em dezembro, na cidade de Hamburgo.
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