Notre Dame. Cientistas estudam catedral após incêndio

por RTP
O incêndio na icónica catedral parisiense deflagrou a 15 de abril de 2019 Gonzalo Fuentes - Reuters

O incêndio na Catedral de Notre Dame, em Paris, abriu o acesso a partes do edifício que não podiam ser estudadas quando a estrutura estava intacta. Os cientistas uniram-se, com planos para pesquisar a história da Catedral, bem como o impacto ambiental do incêndio na cidade. Alguns acreditam que os materiais envelhecidos podem estar relacionados com as alterações climáticas.

A Universidade Paris 8 e Arnaud Ybert, historiador da Université Bretagne Occidentale, em França, formaram a Associação de Cientistas no Serviço e Restauração da Notre Dame de Paris.

Neste momento a associação conta com mais de 200 cientistas, incluindo arqueólogos, historiadores, engenheiros ou geólogos.

O grupo tem como objetivo coordenar o trabalho entre especialistas em várias especialidades, compartilhar conhecimentos e apoiar o estudo da Catedral.
Os cientistas estão divididos em várias áreas, de forma a que cada um use os seus conhecimentos para ajudar a reconstruir a Catedral e aprender mais sobre o edifício.
Maxime L’Héritier está a tentar perceber de que forma o ferro, usado na Idade Média, foi colocado na estrutura e incluído nas paredes de pedra e na carpintaria que sustentava o teto.

Para isso, o cientista vai recorrer à datação por radiocarbono, muito usada para determinar a idade dos materiais, sendo que para que isso seja possível, os materiais têm de conter carbono.

Segundo L’Héritier, as técnicas medievais de produção de ferro introduziam “pequenos traços de que, quando ligados ao ferro, produzem aço. A datação por carbono dessas peças de aço pode demonstrar se o metal é original”
, cita o portal ScienceNews.

Philippe Dillmann, investigador do Centro Nacional de Pesquisa Científica afirma que, quer o ferro seja medieval ou não, “pode agir como um termómetro”, revelando qual o calor do fogo. Uma vez que, “à medida que as temperaturas aumentavam, a corrosão do ferro, principalmente da ferrugem, transformava a ferrugem típica em compostos mais incomuns.”

A análise dessa corrosão pode indicar quanto calor foi infligido no edifício, e assim ajudar os cientistas a entender o quanto esse calor enfraqueceu o calcário que compõe a maior parte da estrutura da catedral.
Limpeza e restauração

O interior da Catedral está também sob o olhar do grupo de cientistas que está a trabalhar na limpeza e restauração.

A associação conta também com investigadores do Laboratório de Pesquisa de Monumentos Históricos, do Ministério da Cultura Francês, estão a desenvolver técnicas científicas para restaurar o monumento.

Lise Leroux, geóloga, está a ajudar a determinar que blocos de calcário podem permanecer no local ou serem reutilizados e quais devem ser substituídos por pedras novas.

“À medida que o fogo se agitava naquela noite, o calor intenso e o dilúvio de água dos esforços de combate a incêndios causaram gretas e outros danos nas pedras mais próximas das chamas. E quando acabou a torre da igreja caiu, o impacto provocou aberturas e outros danos no teto de pedra calcária” contou ao ScienceNews.No projeto existem outros investigadores que estão a estudar outros aspetos da Catedral, como a sua acústica ou o seu significado sociológico.

Aurélia Azéma, especialista em metais e química, afirma que “o monumento estava muito sujo”, o que levou à aparição de uma grande quantidade de chumbo. Azéma está a desenvolver uma técnica para conseguir remover o chumbo, que estava espalhado por toda a Catedral, quando o telhado abril.

Os problemas com o chumbo estenderam-se muito para além das paredes da Catedral. As altas temperaturas do incêndio levaram a que o chumbo se aerossolizasse em pequenas partículas que estavam presentes no ar e caiam como pó nas proximidades.

A poeira deu a Sophie Ayrault, geoquímica, um novo projeto onde pretende analisar os núcleos de sedimentos da planície de inundação do rio, que vai revelar como a contaminação variou nos últimos 100 anos.

A cientista mede as concentrações relativas aos isótopos para identificar as origens do chumbo que ela deteta. As proporções são uma impressão digital que pode ser usada para rastrear a fonte da contaminação.

Depois do incêndio, testes feitos em parques e escolas perto da Catedral tinham níveis de chumbo suficientemente altos para colocar as crianças em risco. No entanto, não está ainda provado que o chumbo seja oriundo do incêndio, ou se já existia antes.

Também os carvalhos que rodeavam do telhado, formando uma moldura, estão a ser estudados. Os carvalhos cresceram durante o período quente a Europa, conhecido como o período quente medieval, que aconteceu entre o século XI e o século XIV. Os investigadores acreditam que o estudo da madeira pode revelar detalhes sobre o aquecimento do planeia.
pub