Novo paradigma de igualdade pontua Cimeira Europa/África

por Carlos Santos Neves, RTP
Líderes africanos e europeus na fotografia de família Inácio Rosa, Lusa

A abertura de uma nova página nas relações entre Europa e África, numa lógica de parceria sem paternalismo, foi a ideia dominante na primeira sessão plenária da II Cimeira Europa/África.

Do primeiro-ministro português, José Sócrates, à presidente da Assembleia Pan-Africana, Gertrude Mongella, todos os líderes que subiram ao púlpito na abertura da II Cimeira Europa/África brandiram a mesma bandeira: África e Europa têm em Lisboa a oportunidade de lançar as bases de uma nova era de relações políticas, diplomáticas e económicas alicerçada no princípio da igualdade. Em suma, como sustentou o presidente da Comissão Europeia, Durão Barroso, impõe-se “eliminar os velhos estereótipos e avançar na criação de uma verdadeira parceira estratégica”.

Mas foi o presidente da Comissão da União Africana quem protagonizou o discurso mais vincado no arranque dos trabalhos, com um apelo directo às lideranças do seu Continente para que tomem em mãos, numa perspectiva de responsabilidade, os objectivos traçados nos documentos a aprovar até domingo na Cimeira de Lisboa.

“África não precisa de caridade nem de paternalismos”, defendeu Alpha Oumar Konaré. “África não tem o direito de esperar tudo de promessas que muitas vezes não são cumpridas”.

“Os males do nosso Continente são conhecidos e não são uma fatalidade. Ninguém os resolverá de forma digna e durável por nós”, prosseguiu o dirigente africano, perante os chefes de Estado e de governo de 80 países reunidos na capital portuguesa.

As relações entre os dois continentes devem assumir-se recíprocas, de ora em diante, e os países africanos “devem participar no jogo da globalização”, frisou Konaré, “mas com base em novas regras e não com base em regras antigas”.

“É preciso um espírito que se baseie em princípios reconhecidos por todos, europeus e africanos, no respeito mútuo, na aceitação das nossas diferenças, partilha de certo número de regras democráticas”, propugnou, para depois afirmar, já no plano das relações de parceria económica, que “África não será uma nova coutada”.

À semelhança de José Sócrates e de Durão Barroso, também Konaré aludiu ao sensível dossier dos Direitos Humanos, levando para os trabalhos o drama humanitário de Darfur, no Sudão, “onde a exigência de diálogo e compromisso se impõe com urgência”.

”África precisa da Europa e a Europa de África”

John Kufuor, presidente da União Africana, foi o segundo líder a tomar a palavra na primeira sessão plenária, depois do presidente em exercício do Conselho Europeu, José Sócrates. Depois de felicitar a presidência portuguesa da União Europeia pela realização da Cimeira, sete anos depois da sua primeira edição, no Cairo, Kufuor lembrou a história das relações entre os dois continentes, que começou “com o comércio do ouro, degenerando depois no comércio de escravos e mais tarde no colonialismo e no apartheid.

“Só nos anos 50 é que, com os movimentos de libertação, as relações entre os dois continentes se normalizaram”, sublinhou. Agora, é necessário que ambos os continentes estejam “presentes na aldeia global”. Nesse sentido, “a África precisa da Europa e a Europa de África”, afirmou o Chefe de Estado do Gana.
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