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ONU denuncia "segregação" das mulheres no Afeganistão
A Assembleia Geral da ONU denunciou esta segunda-feira o "sistema institucionalizado" de "segregação" das mulheres e raparigas implementado pelo governo talibã no Afeganistão através de uma resolução aprovada pela maioria dos estados-membros. À exceção dos EUA e Israel, que votaram contra esta resolução que questiona a política de apartheid de género conduzida pelos talibãs desde o seu regresso ao poder.
A resolução da ONU denuncia "um sistema institucionalizado de discriminação, segregação, desrespeito pela dignidade humana e exclusão de mulheres e meninas" implementado pelos talibãs no Afeganistão. Aprovado por 116 votos a favor, dois contra - EUA e Israel - e 12 abstenções, o texto "expressa a sua profunda preocupação com a grave, acentuada, generalizada e sistemática opressão de todas as mulheres e meninas no Afeganistão". Quase oito em cada dez jovens afegãs estão excluídas da educação, do emprego e da formação, de acordo com o novo relatório da ONU Mulheres.
O Índice de Género do Afeganistão, da autoria da ONU Mulheres, revela que o Afeganistão tem a segunda maior disparidade de género do mundo, com uma diferença de 76 por cento entre os resultados das mulheres e dos homens em saúde, educação, inclusão financeira e tomada de decisões. Segundo este relatório, 78 por cento das jovens afegãs não frequentam a escola, não têm emprego nem formação, quase quatro vezes mais do que os homens afegãos.
Exclusão de mulheres e meninas
Os estados-membros instaram em particular o governo talibã a "reverter rapidamente" algumas das suas políticas, em especial a lei sobre a Propagação da Virtude e a Prevenção do Vício, "que alarga as restrições já intoleráveis impostas aos Direitos Humanos das mulheres e das raparigas e às liberdades individuais fundamentais de todos os afegãos".
A resolução saúda, por outro lado, os esforços diplomáticos iniciados em Doha, no Catar, em 2023 para coordenar a abordagem da comunidade internacional em relação às autoridades talibãs. Pela primeira vez, representantes do governo afegão participaram nestas negociações em julho de 2024.
Neste sentido, a resolução também exorta o secretário-geral da ONU, António Guterres, a "nomear um coordenador encarregado de facilitar uma abordagem internacional mais coerente, coordenada e estruturada".
EUA contra discussões sem resultados
Os Estados Unidos, que votaram contra a resolução, rejeitaram este compromisso com os talibãs. "Quase quatro anos após a tomada do poder pelos talibãs, continuamos a ter as mesmas conversas e a falar com os mesmos supostos líderes talibãs para melhorar a situação no Afeganistão, sem exigir resultados da parte deles", denunciou o representante americano durante a sessão, Jonathan Shrier. "Os Estados Unidos não permitirão mais o seu comportamento odioso"
Desde a sua tomada do poder em agosto de 2021 que os talibãs impuseram à população afegã uma versão austera da lei islâmica, cujas restrições "limitam a capacidade das mulheres de influenciar as decisões que afetam as suas vidas, minando a igualdade de género e exercebando a pobreza e a instabilidade em todo o país", denuncia a ONU Mulheres.
Não obstante, na semana passada a Rússia tornou-se oficialmente o primeiro país a reconhecer o governo dos talibãs.
c/agências