Parkinson e Alzheimer começam na infância? Partículas de poluição atmosférica encontradas em cérebros jovens

por RTP
Poluição na Cidade do México em abril de 2020. Carlos Jasso - Reuters

Um estudo publicado pela revista Environmental Research encontrou nanopartículas de poluição atmosférica no tronco encefálico de 186 crianças e jovens entre os 11 meses e os 27 anos. A presença destas partículas finas está frequentemente associada a danos causados nas doenças de Parkinson ou Alzheimer. Este estudo vem lançar novas hipóteses que terão de ser testadas no futuro para compreender a relação entre a presença de partículas finas no cérebro e o surgimento de doenças neurodegenerativas, isto numa altura em que cerca de 90 por cento da população mundial respira numa atmosfera com elevados níveis de poluição.

A investigação, liderada por Lilian Calderón Garcidueña, da Universidade de Montana, nos Estados Unidos, foi publicada na revista Environmental Research e teve por base o estudo de 186 crianças e jovens entre os 11 meses e os 27 anos, da Cidade do México, que morreram repentinamente.

Os responsáveis deste estudo encontraram nanopartículas de poluição em abundância no tronco encefálico dessas crianças e jovens, sendo provável que as nanopartículas tenham chegado ao cérebro após terem entrado na corrente sanguínea.

Os investigadores e especialistas são cautelosos nas conclusões e consideram que ainda não está comprovado que a presença destas partículas signifique o desenvolvimento de doenças no futuro, ainda que estudos recentes já tenham estabelecido a ligação entre a maior exposição à poluição atmosférica e a probabilidade de desenvolver doenças degenerativas.

No entanto, o que este estudo vem mostrar é que estas partículas finas poluentes, encontradas no tronco cerebral de dezenas de crianças e jovens, podem operar um mecanismo físico associado aos danos que estão presentes nos doentes de Parkinson, Alzheimer ou de doença do neurónio motor (MND).

As partículas finas estão intimamente associadas a proteínas anormais que são sinais destas doenças específicas e não foram identificadas, por exemplo, no cérebro de crianças ou jovens de zonas menos poluídas.

“Isto é assustador porque mesmo em bebés existem neuropatologias no tronco central”, esclareceu Barbara Maher, da Universidade de Lancaster, no Reino Unido, em declarações ao jornal The Guardian.

A investigadora, que fez parte da equipa que conduziu o estudo, reconhece que até agora “não é possível provar a relação de causalidade” entre estas partículas finas e o surgimento de doenças.

No entanto, poderá ser uma mera questão de tempo até que seja comprovado por estudos futuros: “Como é que podemos esperar que estas nanopartículas (…) fiquem inertes e inofensivas dentro de células críticas do cérebro? Esta é a nossa evidência: parece que estas partículas finas estão a disparar as balas que provocam os danos neurodegenerativos observados”.

Apesar de todos os avanços na medicina, as origens e as causas das doenças neurodegenerativas são complexas e muitas vezes incompreensíveis. “Definitivamente, haverá fatores genéticos e é muito provável que haja outros (...). Mas o que há de especial na poluição do ar é que as pessoas estão amplamente expostas. Não acho que o corpo humano tenha desenvolvido quaisquer mecanismos de defesa para se proteger de nanopartículas”, refere ainda Barbara Maher.

A especialista destaca ainda a importância de estudar crianças neste contexto, uma vez que não existem ainda outros fatores associados com a demência, como por exemplo o consumo de álcool.

Também em declarações ao jornal The Guardian, Louise Serpell, da Universidade do Sussex, no Reino Unido, reconhece que as nanopartículas são uma causa plausível de danos cerebrais, mas que não há ainda evidências suficientes que comprovem que estas partículas finas podem causar doenças neurodegenerativas.

“Existem muitas outras causas prováveis para as doenças neurodegenerativas. Mas a nossa exposição à poluição e agentes patogénicos é provavelmente muito importante para as desencadear”, considerou.
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