Pelo menos três mortos e mais de 300 detidos em greve geral na Venezuela

por Andreia Martins - RTP
Os protestos contra o regime venezuelano fizeram 97 mortos nos últimos meses Andres Martinez Casares - Reuters

A paralisação convocada pela oposição ao Governo de Nicolás Maduro terminou na madrugada de sexta-feira mas ainda se faz o balanço das ocorrências. Os protestos em várias cidades venezuelanas e os confrontos com as autoridades fizeram pelo menos três mortos e mais de 80 feridos. Há registo de 367 detenções em vários estados.

A pouco mais de uma semana das eleições para a Assembleia Nacional Constituinte, marcada pelo presidente venezuelano com objetivo de alterar o documento constitucional, cresce o tom dos protestos nas ruas. A greve geral de quinta-feira foi convocada pela oposição e teve 85 por cento de adesão, segundo confirmou Freddy Guevara, um dos representantes da Mesa de Unidade Democrática (MUD), partido de oposição a Maduro.


Cidades paralisadas e avenidas desertas deram lugar aos protestos e aos confrontos com as autoridades, que detiveram um número sem precedentes de manifestantes e opositores ao regime, entre os quais um luso-descendente, Edwin Rodrigues, de 26 anos, detido em El Paraiso, Caracas.

Foi nesta localidade que a Guarda Nacional Bolivariana atacaram os edifícios residenciais onde vivem pessoas que participaram na greve com tiros de balas de borracha e granadas de gás lacrimogéneo. O confronto entre autoridades do regime e manifestantes provocou pelo menos três mortos, um em Los Teques, nos subúrbios de Caracas, e outros dois em Valência, a 150 quilómetros oeste da capital venezuelana.

Com registo atual de pelo menos 367 detidos, a paralisação de quinta-feira só terminou às 6h00 locais (11h00 em Lisboa), e já é considerada a maior ação de repressão do regime contra os seus opositores. Zulia, Carabobo, Nova Esparta e Aragua foram os estados venezuelanos com maior número de detenções, segundo indicou Alfredo Romero da organização não-governamental Foro Penal Venezuelano (FPV). 


Entre os detidos está também Bruyerbi Suarez, presidente do município de Mario Briceño Iragorry. Segundo o diário El Nacional, o autarca pertence ao partido de Nicolás Maduro e foi detido por alegada participação ao saques de lojas no estado de Arágua, tendo estado envolvido em confrontos com agentes da autoridade. 
Assembleia Constituinte a 30 de julho
A greve geral de quinta-feira acontece apenas alguns dias depois do referendo simbólico contra Nicolás Maduro, realizado no passado domingo, e que reuniu mais de sete milhões de votos, dos quais 98 por cento rejeitaram o projeto de Assembleia Constituinte do presidente venezuelano.

"Depois de 7,5 milhões se expressarem no último domingo, hoje 85% por cento do país cumpriu a greve cívica ativa", segundo anunciou o presidente do Parlamento, Julio Borges no Twitter. A mesma mensagem é acompanhada por um mapa com as regiões do país que paralisaram.


As manifestações contra o presidente venezuelano intensificaram-se no final de março, quando o Supremo Tribunal ditou duas sentenças que limitam a imunidade dos deputados e que dá por completa a transferência de poderes legislativos para aquele organismo judicial.

Em maio, o presidente venezuelano anunciava a eleição de 30 de julho, onde serão escolhidos 500 deputados entre 6 mil candidatos chavistas para a formação de uma Assembleia Nacional Constituinte, com vista a esvaziar de poder um parlamento adverso a Maduro. Desde dezembro de 2015, que o MUD, partido da oposição com maioria parlamentar, tenta levar a cabo um referendo para depor o sucessor de Hugo Chavez.

Quatro meses e quase uma centena de mortos depois, foi conhecida esta sexta-feira a decisão de Isaías Medina, diplomata venezuelano, que renunciou no passado dia 14 de julho ao cargo de ministro Conselheiro Permanente da Venezuela na ONU, acusando Caracas de violar os Direitos Humanos.

O diplomata expressou "divergências irreconciliáveis" com o Governo que representava e considera que a atuação de Nicolás Maduro é "inconstitucional". Isaías Medina destaca que foram cometidos "crimes contra a humanidade durante os últimos 100 dias".

À crise política junta-se também a crise económica que tem atingido a Venezuela nos últimos anos, que se aprofundou em 2016. A descida dos preços do petróleo, a inflação galopante e a forte desvalorização do bolívar adensaram a crise alimentar e de acesso a medicamentos, uma situação que tem sido denunciada por várias organizações internacionais. Em março último, o Parlamento venezuelano declarou emergência alimentar no país.
Tópicos
pub