Poder de compra e imigração. As prioridades dos principais partidos nas eleições de França
Os franceses voltam às urnas no próximo domingo, 30 de junho, três semanas depois das eleições europeias cujos resultados provocaram um terramoto político no país, levando Macron a dissolver a Assembleia Nacional e a convocar eleições antecipadas, para 30 de junho e 7 de julho. Na última semana de campanha eleitoral, a RTP analisa os programas dos três grandes blocos que vão disputar a maioria na Assembleia para ajudar a perceber o que está em jogo. Poder de compra e imigração são dois dos temas mais decisivos para este escrutínio.
As eleições legislativas antecipadas, agendadas para os próximos dois domingos, colocam em competição três grandes blocos com diferentes propostas para o futuro do país nos mais variados temas, nomeadamente, poder de compra e imigração.
Vão a votos, da esquerda para a direita, a Nova Frente Popular (NFP) - uma aliança de esquerda constítuida pela France Insoumise (LFI), o Partido Socialista, os Ecologistas e o Partido Comunista - o partido de centro-direita Ensemble, que inclui o Renascença - do presidente Emmanuel Macron e do primeiro-ministro Gabriel Attal - o movimento Horizontes de Édouard Phillipe e o Modem de François Bayrou e o partido de extrema-direita Rassemblement National (RN) de Jordan Bardella e Marine Le Pen, com o apoio do presidente dos Republicanos, Éric Ciotti, contestado pelo seu partido que também vai a votos.
Poder de compra
O poder de compra é uma das principais prioridades dos franceses e uma das suas principais causas de descontentamento. Nesta campanha eleitoral, os partidos políticos centram o seu discurso e intensificam as suas propostas para aliviar a fatura dos consumidores e devolver poder de compra aos franceses.
Se chegar ao poder, a Nova Frente Popular quer aumentar o salário mínimo para 1600 euros líquidos por mês (mais 200 euros), contra os atuais 1399 euros líquidos para uma semana de trabalho de 35 horas. Ainda ao nível dos salários e bónus, também quer indexar os salários à inflação, aumentando em dez por cento o idexante para os funcionários públicos.
A aliança de esquerda prevê ainda congelar, por decreto, os preços de bens essenciais como a alimentação, a energia e os combustíveis. No caso da energia, quer anular a taxa de dez por cento sobre a fatura energética e o aumento do preço do gás previsto para dia 1 de julho.
O Ensemble pour la République, por sua vez, pretende aumentar o limite máximo do bónus de partilha de valor (PPV), anteriomente designado por bónus Macron, para 10 mil euros e isentá-lo de impostos (sendo que, atualmente, o teto máximo é de 6 mil euros e está sujeito a contribuições e ao imposto sobre o rendimento). Este é um prémio pago pelos empregadores aos trabalhadores. Ainda no campo do trabalho, promete reduzir as contribuições para os salários baixos acima do salário mínimo.
Para aliviar as faturas das famílias, o bloco de centro-direita pretende reduzir as faturas de eletricidade em 15 por cento para o próximo inverno e introduzir "compras coletivas" de material escolar, com o objetivo de reduzir até 15 por cento do seu valor.
O Rassemblement National quer baixar o IVA sobre todos os produtos energéticos, nomeadamente "da energia, combustíveis, gasóleo de aquecimento, gás e eletricidade", de 20 para 5,5 por cento.
Mas também pretende suspender o IVA em cerca de uma "centena de produtos essenciais", cuja data ainda não está definida, mas que deverá ser adiada para a discussão do orçamento do Estado, devido à situação financeira do país que Jordan Bardella descreveu como "quase falida".
Imigração
À semelhança do que assistimos durante a campanha eleitoral nas eleições europeias, um pouco por toda a Europa, a imigração é um dos temas mais controversos e que mais opõe os blocos dos diferentes espectros políticos. A extrema-direita francesa que já tinha feito da "imigração" o seu tema bandeira nas eleições europeias, volta a colocá-la no centro das promessas para as legislativas.
De um lado, o bloco de esquerda Nova Frente Popular tenciona revogar a Lei da Imigração, adotada no início do ano, e pretende rever o Pacto Europeu de Asilo e Imigração para garantir "um acolhimento digno dos migrantes", ambas aprovadas durante a presidência de Macron.
A recém-formada aliança de esquerdas criada para derrotar a extrema-direita nas urnas, pretende facilitar a obtenção de nacionalidade francesa através da garantia do pleno jus soli às crianças nascidas em França, assim como facilitar o acesso a cuidados de saúde ao estrangeiros que residam ilegamente no país. No seu programa, a NFP propõe ainda criar um estatuto para as pessoas deslocadas pelo clima.
O partido Ensemble, de Emmanuel Macron, pretende continuar a atuar para reduzir a imigração ilegal, nomeadamente através da criação de mais centros de detenção nas fronteiras externas da Europa, no âmbito do Pacto Europeu sobre Migração e Asilo.
Mas também quer condicionar a emissão de visto de residência de longa duração ao domínio da língua francesa e respeito dos "valores republicanos". O partido de centro-direita, de maioria parlamentar, prevê manter as expulsões do território nacional de todos os estrangeiros "delinquentes ou radicalizados" que representem uma ameaça à ordem pública.
Caso vença as eleições com a maioria absoluta, o partido de extrema-direita pretende apresentar ao Parlamento uma "lei de emergência" sobre a imigração nas semanas seguintes, para conseguir pôr em prática as medidas propostas no seu programa eleitoral.
Entre outras medidas, a lei de emergência visa abolir o "direito ao solo", isto é, o direito à nacionalidade de
um país com base no seu nascimento. Atualmente, qualquer criança
nascida em França, mesmo sendo filha de pais estrangeiros, pode obter
automaticamente a nacionalidade francesa a partir dos 18 anos.
Mas há também a intenção de acelerar os processos de deportação de imigrantes sem documentos condenados por crimes e infrações, eliminando as restrições administrativas, bem como alterar a Assistência Médica Estatal (AME), que atualmente cobre 100% das despesas médicas dos imigrantes sem documentos, por um fundo que apenas cobrirá "urgências vitais" e restringir as prestações sociais aos cidadãos franceses.