O presidente destituído do Governo catalão convocou esta terça-feira uma conferência de imprensa em Bruxelas para sustentar que rumou à Bélgica com o intuito de “tornar evidente o problema catalão no coração da Europa”. Carles Puigdemont negou querer “pedir asilo político”, disse aceitar, à distância, o desafio das eleições de 21 de dezembro e definiu “quatro âmbitos de trabalho” para o “governo legítimo da Catalunha”.
O governante destituído referiu-se depois a populares e socialistas, acusando PP e PSOE de “terem um problema gigante que não querem assumir”.
Em seguida, elencou quatro vias de atuação que quererá orientar, com os cinco consellers que o acompanharam até à capital belga, fora das fronteiras da Catalunha.
“Parte do Govern deslocou-se a Bruxelas para tornar evidente o problema catalão no coração da Europa. Outra parte do Govern continuará na Catalunha, realizando a atividade política como membros legítimos”, desfiou Puigdemont.
“Em terceiro lugar, apoiaremos as diferentes iniciativas para evitar a aplicação do artigo 155. Em quarto lugar, tomamos as eleições como um repto democrático. Os reptos democráticos não nos metem medo”, acentuou.
Paula Martinho da Silva, Miguel Cervan - RTP
“Evitar o artigo 155 é manter forte e vivo o Govern da Catalunha. É no terreno da democracia que somos mais fortes e nele que sempre ganhámos. Peço à Europa que reaja. O caso da Catalunha é o caso dos valores sobre os quais se fundamenta a Europa. Temos por diante um Estado que só entende a razão da força”.
“Depende das circunstâncias”
Ao longo desta conferência, que mobilizou largas dezenas de jornalistas para o Clube de Imprensa de Bruxelas, Carles Puigdemont insistiu no objetivo de internacionalizar o conflito que opõe o seu Executivo ao Governo central de Mariano Rajoy, alegando mesmo que não está a procurar escapar à justiça de Madrid, na sequência do processo desencadeado pela Fiscalía.No início da conferência de imprensa, saiu de Madrid a notícia de que o Tribunal Constitucional suspendeu a declaração de independência da Catalunha.
A viagem para a Bélgica, alegou, não visa pedir asilo político, mas “trabalhar com liberdade e segurança”. Questionado sobre a duração prevista para a estadia, Puigdemont deu uma resposta vaga: “Depende das circunstâncias”.
“Temos que trabalhar com um governo legítimo e decidimos que a melhor maneira de o fazer é ir à capital da Europa. Desde o momento em que o Governo nos afastou das nossas responsabilidades, não temos proteção”, propugnou.
“Se fosse possível garantir um juízo justo e com separação de poderes, voltaríamos imediatamente”, quis asseverar.
Duarte Valente, correspondente da RTP em Bruxelas
O “caos”, reiterou ainda Puigdemont, aludindo ao referendo independentista, “começou a 1 de outubro com a violência da polícia espanhola”.
Por seu turno, o conseller destituído do Interior, Joaquim Forn, tomou a palavra para lembrar que “agora mesmo o delito de rebelião é equiparável ao terrorismo”.
“Nunca atuámos com violência, mas equiparam-nos a terroristas. É por isso que o presidente pede que a Europa reaja”, concluiu.