Puigdemont em Bruxelas reivindica "governo legítimo da Catalunha"

por Carlos Santos Neves - RTP
"Como cidadão europeu, posso circular por toda a Europa. Vamos ver. Devemos trabalhar como governo legítimo" Olivier Hoslet - EPA

O presidente destituído do Governo catalão convocou esta terça-feira uma conferência de imprensa em Bruxelas para sustentar que rumou à Bélgica com o intuito de “tornar evidente o problema catalão no coração da Europa”. Carles Puigdemont negou querer “pedir asilo político”, disse aceitar, à distância, o desafio das eleições de 21 de dezembro e definiu “quatro âmbitos de trabalho” para o “governo legítimo da Catalunha”.

“Na sexta-feira, depois da declaração de independência, assumimos que o diálogo nessas condições era impossível”, afirmou, antes de sustentar que “todas as decisões” do executivo da Generalitat, agora afastado por força da aplicação do artigo 155 da Constituição espanhola, “seguem os valores da paz e do diálogo”.Puigdemont adiantou que “a estratégia” de deixar o território catalão foi assumida logo na noite de sexta-feira, após a declaração de independência.

O governante destituído referiu-se depois a populares e socialistas, acusando PP e PSOE de “terem um problema gigante que não querem assumir”.

Em seguida, elencou quatro vias de atuação que quererá orientar, com os cinco consellers que o acompanharam até à capital belga, fora das fronteiras da Catalunha.

“Parte do Govern deslocou-se a Bruxelas para tornar evidente o problema catalão no coração da Europa. Outra parte do Govern continuará na Catalunha, realizando a atividade política como membros legítimos”, desfiou Puigdemont.

“Em terceiro lugar, apoiaremos as diferentes iniciativas para evitar a aplicação do artigo 155. Em quarto lugar, tomamos as eleições como um repto democrático. Os reptos democráticos não nos metem medo”, acentuou.

Paula Martinho da Silva, Miguel Cervan - RTP

“Evitar o artigo 155 é manter forte e vivo o Govern da Catalunha. É no terreno da democracia que somos mais fortes e nele que sempre ganhámos. Peço à Europa que reaja. O caso da Catalunha é o caso dos valores sobre os quais se fundamenta a Europa. Temos por diante um Estado que só entende a razão da força”.
“Depende das circunstâncias”
Ao longo desta conferência, que mobilizou largas dezenas de jornalistas para o Clube de Imprensa de Bruxelas, Carles Puigdemont insistiu no objetivo de internacionalizar o conflito que opõe o seu Executivo ao Governo central de Mariano Rajoy, alegando mesmo que não está a procurar escapar à justiça de Madrid, na sequência do processo desencadeado pela Fiscalía.No início da conferência de imprensa, saiu de Madrid a notícia de que o Tribunal Constitucional suspendeu a declaração de independência da Catalunha.

A viagem para a Bélgica, alegou, não visa pedir asilo político, mas “trabalhar com liberdade e segurança”. Questionado sobre a duração prevista para a estadia, Puigdemont deu uma resposta vaga: “Depende das circunstâncias”.

“Temos que trabalhar com um governo legítimo e decidimos que a melhor maneira de o fazer é ir à capital da Europa. Desde o momento em que o Governo nos afastou das nossas responsabilidades, não temos proteção”, propugnou.

“Se fosse possível garantir um juízo justo e com separação de poderes, voltaríamos imediatamente”, quis asseverar.

Duarte Valente, correspondente da RTP em Bruxelas

O “caos”, reiterou ainda Puigdemont, aludindo ao referendo independentista, “começou a 1 de outubro com a violência da polícia espanhola”.

Por seu turno, o conseller destituído do Interior, Joaquim Forn, tomou a palavra para lembrar que “agora mesmo o delito de rebelião é equiparável ao terrorismo”.

“Nunca atuámos com violência, mas equiparam-nos a terroristas. É por isso que o presidente pede que a Europa reaja”, concluiu.
Tópicos
pub