Ramstein. Reunião de apoio à Ucrânia termina sem compromisso alemão

por Graça Andrade Ramos -RTP
O ministro alemão da Defesa, Boris Pistorius, durante a reunião do grupo de apoio à Ucrânia em Ramstein, na Alemanha,esta sexta-feira Reuters

Berlim não cedeu às pressões e não tomou qualquer decisão sobre o envio de tanques Leopard 2 para a Ucrânia. Lloyd Austin secretário da Defesa dos Estados Unidos frisou contudo que foi acordado o envio de um "pacote significativo" de armamento a Kiev.

O apoio norte-americano cifra-se em 2.500 mil milhões de euros, incluindo 59 veículos de combate Bradley e 90 veículos blindados de transporte de pessoal Stryker.

O presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky já agradeceu a Washington a ajuda "robusta".

O seu chefe de gabinete mostrou-se ainda confiante de que a Ucrânia irá cabar por receber tudo o que necessita para derrotar os invasores russos. "Estamos a ficar mais fortes", afirmou Andriy Yermak na rede Telegram. "E tudo o que ainda não recebemos, iremos receber", acrescentou numa aparente referência aos tanques alemães.

O novo pacote agrega doações de diversos arsenais com destaque para veículos blindados de vários tipos e apoio à defesa aérea, com sistemas disponibilizados pelos EUA, Alemanha, França, Reino Unido e Canadá, além de mísseis Patriot e lançadores cedidos pelo Países Baixos, que irão "permitir salvar inúmeras vidas ucranianas", nas palavras de Lloyd Austin.
O Reino Unido vai ainda enviar tanques Challenger 2 assim como 600 mísseis guiados Brimstone, com a Suécia e a Dinamarca a remeterem veículos de infantaria e os suecos ainda canhões Archer.

A Lituânia irá fornecer dois helicópteros Mi-8, a Letónia dois helicopteros Mi-17 e a França veículos blindados ligeiros AMX-10 RC, prometidos há dias pelo Presidente Emmanuel Macron.

Portugal anunciou o envio para a Ucrânia de 14 viaturas blindadas de transporte, além de geradores, munições e duas toneladas de equipamento médico e sanitário.

Esta foi a oitava reunião do grupo de contacto da Ucrânia, que congrega 54 países, e ficou marcada de antemão com o anúncio surpresa da Dinamarca de que iria doar a totalidade dos seus 19 canhões César a Kiev, incluindo aqueles que ainda aguarda do fornecedor, Nexter.

A decisão irá duplicar o número destes canhões, reputados pela sua precisão de tiro, na frente de batalha, juntando-se aos 18 fornecidos pela França.

Apesar desta ajuda, as reticências alemás são uma desilusão para a Ucrânia e poderão ser vistas como uma vitória por Moscovo.

Nos arsenais europeus existem mais de dois mil tanques Leopard 2, uma arma moderna de fácil manutenção, ao contrário dos pesados M1 Abram norte-americanos, que necessitam cuidados incessantes, muito treino e combustível próprio.

Só a Alemanha pode autorizar o envio dos Leopard 2 para a Ucrânia. Em Ramstein as cautelas alemãs foram aparentemente entendidas.
Aliado "de confiança"
Apesar da resistência alemã, Austin frisou em conferência de imprensa que Berlim permanece um aliado confiável que retém a posição de liderança.

"São aliados de confiança, são-no há muito muito tempo, e eu acredito a sério que irão manter-se um aliado confiável no futuro", afirmou.

Também Jens Stoltenberg, secretário-geral da NATO, não se mostrou preocupado e defendeu o grande apoio alemão ao esforço de guerra ucraniano.

O próprio ministro da Defesa da Alemanha, recém-nomeado, sublinhou esta sexta-feira que a noção de que Berlim se opõe ao envio dos tanques à Ucrânia "é falsa".

"Há boas razões a favor das remessas e há boas razões contra, e considerando toda a situação de uma guerra que tem decorrido há quase um ano, todos os prós e contras têm de ser avaliados com cuidado extremo", afirmou Boris Pistorius aos jornalistas em Ramstein.
O ministro alemão negou ainda qualquer bloqueio unilateral alemão ao envio dos tanques Leopard 2 por parte da Polónia e garantiu que o seu Governo está pronto a "agir rapidamente" mal exista consenso entre os aliados.

Pistorius anunciou depois, sem especificar, um pacote de auxílio militar à Ucrânia calculado em 1.08 mil milhões de dólares.

O seu homólogo polaco, Mariusz Blaszczak, desvalorizou a posição alemã e mostrou-se esperançando que a solução seja encontrada através de uma coligação de entrega dos Leopard 2 a Kiev. A Polónia disponibilizou 14 destes blindados no quadro desta aliança que depende contudo do acordo da Alemanha, produtora dos Leopard 2.

"Estou convencido que a formação de uma coligação se irá revelar um sucesso", afirmou Blaszczak. "Esta esperança baseia-se no facto de que os ministros da Defesa de 15 países se reuniram à margem da conferência hoje e debatemos esta questão", revelou, acrescentando que se iria reunir mais tarde com Pistorius.

A Polónia irá fornecer agora mais blindados soviéticos T-72 e alguns veículos de infantaria, sem especificar quais.

"Temos de fazer tudo para ajudar a Ucrânia, para que a guerra não alastre ao território NATO", afirmou Blaszczak.
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