Sauditas alegam que "assassínio" de Khashoggi foi "erro tremendo"

por Carlos Santos Neves - RTP
“Os indivíduos que fizeram isto fizeram-no para lá do alcance da sua autoridade”, afirmou o ministro saudita dos Negócios Estrangeiros, em declarações à Fox News Faisal Nasser - Reuters

“Assassínio”. O termo foi empregue no domingo pelo ministro saudita dos Negócios Estrangeiros para descrever o que aconteceu ao jornalista Jamal Khashoggi, a 2 de outubro, entre as paredes do consulado do reino em Istambul. Um dia depois de o Presidente norte-americano ter criticado as explicações de Riade, sem deixar de elogiar o príncipe herdeiro Mohammed bin Salman, Adel al-Jubeir saiu a público para afiançar que serão erguidas “todas as pedras” em busca de “todos os factos”.

“Os indivíduos que fizeram isto fizeram-no para lá do alcance da sua autoridade”, afirmou o ministro saudita dos Negócios Estrangeiros em declarações à estação norte-americana Fox News.
A Arábia Saudita alegara na sexta-feira que Jamal Khashoggi havia morrido acidentalmente durante uma luta no consulado de Istambul. Isto depois de ter começado por assegurar que o jornalista saíra pelo próprio pé daquelas instalações.

“Houve obviamente um erro tremendo e o que compôs o erro foi a tentativa de ocultação. Isto é inaceitável em qualquer governo”, reforçou Al-Jubeir, para depois empregar o termo “assassínio”, ao referir-se aos acontecimentos no consulado da Arábia Saudita em Istambul.

A morte do jornalista, alegou o governante, foi o resultado de uma operação conduzida sem a cobertura da cúpula do regime.

“Estamos determinados a erguer todas as pedras. Estamos determinados a encontrar todos os factos. E estamos determinados em punir aqueles que foram responsáveis por esse assassínio”, enfatizou o ministro saudita, arguindo ainda que o príncipe herdeiro Mohammed bin Salman não teve conhecimento prévio da operação: “Nem mesmo a liderança de topo dos serviços secretos estava ao corrente disto”.

Esta tomada de posição de Adel al-Jubeir foi precedida, no sábado, de críticas do Presidente dos Estados Unidos às explicações até então avançadas por Riade. Entrevistado pelo jornal The Washington Post, Donald Trump considerou erráticas as explicações do reino. Ao mesmo tempo, porém, cobriu de elogios o príncipe herdeiro saudita, descrevendo-o como “uma pessoa forte” e dotada de “um controlo muito bom”.

Sobre Bin Salman, o ministro saudita dos Negócios Estrangeiros quis deixar vincado que os homens alegadamente envolvidos na morte de Khashoggi não são próximos do príncipe. Alegou também que Riade não sabe o que aconteceu ao corpo do jornalista, tão-pouco ouviu qualquer registo áudio captado na data do presumível homicídio no interior do consulado.

Al-Jubeir foi mesmo ao ponto de evocar o caso da prisão de Abu Ghraib, no Iraque, onde soldados norte-americanos torturaram prisioneiros iraquianos. Advertiu, neste sentido, contra conclusões precipitadas. “Estas coisas levam o seu tempo”, contrapôs.

O ministro saudita quis, por último, falar à família de Jamal Khashoggi. “Sentimos a sua dor. E queríamos que isto não tivesse acontecido e que pudesse ter sido evitado. Infelizmente, foi cometido um enorme e grave erro. Asseguro que os responsáveis vão ser punidos por isto”, insistiu.
Pressão internacional

Desde o desaparecimento do jornalista saudita, colunista do Washington Post, o regime saudita tem encaixado um crescente coro de críticas da comunidade internacional. No domingo, os ministérios dos Negócios Estrangeiros de França e do Reino Unido partilharam um comunicado a exortar Riade a dar resposta a “uma necessidade urgente de clarificação”.

“Nada pode justificar esta morte”, frisaram Paris e Londres.

O Presidente turco prometeu entretanto pronunciar-se publicamente na terça-feira. Segundo a agência turca Anadolu, Recep Tayyip Erdogan conversou nas últimas horas ao telefone com Donald Trump. Ambos concordaram em “lançar luz sobre todos os aspetos” deste caso.

Também o secretário de Estado norte-americano, Mike Pompeo, falou com o homólogo turco, Mevlut Cavusoglu, a quem ofereceu a colaboração de Washington na investigação.

Nas últimas semanas, a coberto do anonimato, responsáveis turcos citados pela imprensa internacional afirmaram que Khashoggi, um proeminente crítico do Governo, foi assassinado e desmembrado por uma equipa de agentes sauditas no consulado em Istambul.

c/ agências
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