Tréguas de novo quebradas em Ghouta Oriental

por Graça Andrade Ramos - RTP
Ghouta Oriental voltou a registar combates terça-feira apesar do período de tréguas decretado pela Rússia, principal aliado do Presidente Bashar al-Assad. Reuters

As forças governamentais sírias e milícias que as apoiam ganharam terreno esta quarta-feira, durante os combates que continuam em Ghouta oriental, afirma o Observatório Sírio dos Direitos Humanos, OSDH. O cessar-fogo decretado pela Rússia no início da semana voltou a não ser respeitado.

De acordo com o OSDH, o avanço governamental deu-se em Hawsh al-Dawahiri, uma área no extremo leste das posições ocupadas pelos grupos armados hostis ao domínio do Presidente Bashar al-Assad.

As tréguas russas, iniciadas terça-feira, deveriam durar períodos de cinco horas, entre as 09h00 da manhã e as 14h00.

Ghouta Oriental é um subúrbio de Damasco e ocupa uma área vasta, entre quintas agrícolas e aglomerados urbanos, habitada por cerca de 400 mil pessoas. Reduto da oposição armada ao Presidente Bashar al-Assad junto à capital, tem estado cercada desde 2013 pelo exército sírio. O ministro russo dos Negócios Estrangeiros, Sergei Lavrov, acusou entretanto "militantes entrincheirados" em Ghouta Oriental de bloquear a entrada de auxílio humanitário e a retirada de civis que querem sair, apelando os militantes a "agirem" de modo a deixar as tréguas funcionarem.

"A Rússia e o Governo sírio já anunciaram a criação de corredores humanitários em Ghouta Oriental. Agora é a vez dos militantes e dos seus apoiantes agirem", disse Lavrov, em Genebra.

As autoridades sírias dizem que voltaram a disponibilizar quarta-feira o corredor aberto terça, para permitir aos feridos, aos doentes e aos civis abandonarem Ghouta Oriental. A televisão estatal síria sublinhou que a passagem não foi usada.

Sergei Lavrov, ministro dos Negócios Estrangeiros da Rússia, perante o Conselho das Nações Unidas para os Direitos Humanos, em Genebra Foto. Reuters
Bombeiro e incendiário
Os militantes de Ghouta oriental negam veementenente acusações de que bombardearam um corredor humanitário aberto para deixar sair civis da área cercada e afirmam que ninguém sai por medo do Governo sírio. Dia 18 de fevereiro, as forças leais a Assad, apoiadas pelo Irão e pela Rússia, iniciaram uma campanha de bombardeamentos intensivos para expulsar os grupos armados do seu último reduto no país. A ofensiva terá vitimado mais de 500 civis.

Perante o Conselho da ONU para os Direitos Humanos, o responsável pela diplomacia russa acrescentou que Moscovo irá continuar a apoiar o exército sírio até "erradicar a ameaça terrorista".

"Apelamos aos membros da chamada Coligação Americana para garantir o mesmo acesso humanitário a áreas sob o seu controlo, incluindo o campo de refugiados de Rekban e todo o território em redor de al-Tan", disse Lavrov no fórum, esta quarta-feira.O campo de Rakban aloja 50 mil pessoas perto da fronteira com a Jordânia e está há meses sem auxílio humanitário devido aos combates e à insegurança generalizada na provincia de Deir Ezzor.

Moscovo tem acusado Washington de usar os deslocados de Rakban como "escudos humanos" da sua base militar em al-Tan.

Um general norte-americano acusou entretanto Moscovo de agir "tanto como incendiário como como bombeiro" por não refrear Assad.

O ministro dos Negócios Estrangeiros do Reino Unido admitiu entretanto que o país poderá participar num ataque contra a Síria, se ficar provado que o Governo de Assad usou armas químicas contra civis.

O grupo Capacetes Brancos acusou o exército sírio de usar gás de cloro num ataque contra Ghouta Oriental, domingo passado.
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