Turquia ameaça abrir fronteiras aos migrantes rumo à Europa

por Andreia Martins - RTP
A União Europeia e a Turquia assinaram em março de 2016 um polémico acordo de cooperação na questão migratória Umit Bektas - Reuters

Um dia depois do voto no Parlamento Europeu que apontou para a suspensão temporária das conversações sobre a adesão da Turquia à União Europeia, Recep Tayyip Erdogan ameaça abrir os “portões” e deixar passar os milhares de migrantes que pretendem chegar à Europa.

A Turquia desvalorizou e desacreditou o voto de quinta-feira no Parlamento Europeu, mas menos de um dia depois lança à Europa uma clara ameaça, pela voz do próprio Presidente.

“Escutem-me bem: Se forem mais longe, estas fronteiras serão abertas. Metam isso na cabeça”, reiterou o chefe de Estado turco esta sexta-feira, durante um congresso em Istambul. 

É um franco aviso por parte de Erdogan dirigido a Bruxelas, na sequência de uma votação, esta quinta-feira, que ditou o congelamento das negociações para a adesão da Turquia à União Europeia.

Dos 623 deputados presentes, 479 votaram pela suspensão temporária, que volta a colocar a Europa de costas voltadas para a Turquia. Contra esta decisão estiveram apenas 37 deputados, tendo sido ainda registadas 107 abstenções. “Nem eu, nem o meu país, seremos afetados por estas ameaças vazias”, atirou o líder turco, reiterando a posição tomada por Ancara antes e depois do voto em Estrasburgo.

A Áustria liderou o grupo de países a defender a paralisação das negociações com a Turquia. Mais moderados, vários deputados alemães e franceses apelaram à continuação das conversações sobre a adesão, sob a ameaça de uma retaliação por parte de Ancara, no sentido de abortar a colaboração com a Europa na questão migratória.

Os deputados europeus basearam o voto na situação de instabilidade política e social na Turquia, após o golpe de Estado falhado de 15 de julho.

Na resolução aprovada em Estrasburgo, os representantes europeus acusam as autoridades e o Governo turco de responderem de forma “desproporcionada” e de tomar medidas “repressivas”.

Depois da tentativa de golpe, foram suspensas ou despedidas mais de 120 mil pessoas em vários órgãos do Estado e da administração pública, desde professores, soldados e juízes. No que muitos classificam como uma autêntica purga levada a cabo pelo executivo, cerca de 40 mil pessoas foram detidas, incluindo jornalistas proeminentes posicionados contra o Governo.
Acordo UE-Turquia em risco
O primeiro-ministro turco Binali Yildrim já tinha acusado o toque com uma clara ameaça a Bruxelas, referindo que a decisão dos deputados europeus “não tem qualquer significado” para o país, mas poderia traduzir-se numa “inundação” de migrantes caso a Europa opte por desfazer os laços com a Turquia.

“Somos determinantes a proteger a Europa. Se os refugiados seguirem em frente, vão inundar o continente. Aceito que o corte de relações com a Europa seria prejudicial à Turquia, mas seria cinco ou seis vezes mais prejudicial para a Europa”, referiu o governante, em entrevista à televisão estatal TRT Haber.

O voto de quinta-feira deverá ser discutido na próxima Cimeira Europeia, a realizar-se entre os dias 15 e 16 de dezembro, com a clarificação das relações entre Bruxelas e Ancara a dominar a agenda do último encontro de líderes em 2017.

Federica Mogherini, representante da diplomacia europeia, já avisou que o ponto final definitivo no processo de adesão da Turquia resultaria numa perda para as duas partes.

De relembrar que a União Europeia, encabeçada pela chanceler alemã, Angela Merkel, assinou este ano, em março, um acordo com a Turquia que mantém os refugiados e migrantes de fora da rota europeia.

Em troca, Bruxelas prometeu revigorar as conversações para a adesão da Turquia, iniciadas em 2005, bem como o acesso livre ao espaço comunitário para cidadãos turcos, sem necessidade de concessão de vistos.
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