A rede social Twitter reconheceu dar mais amplitude às publicações e notícias de políticos de direita do que de esquerda. A conclusão foi avançada após um estudo realizado pela própria plataforma, no qual foram examinados tweets de cariz político em sete países: Alemanha, Canadá, Espanha, Estados Unidos, França, Japão e Reino Unido. Agora, a rede social está a ponderar alterar o algoritmo para corrigir o problema.
Foram analisados milhões de tweets de membros dos Governos de sete países entre 1 de abril e 15 de agosto de 2020 e centenas de milhões de posts de órgãos de comunicação social, maioritariamente norte-americanos, no mesmo período.
A rede social concluiu que, em seis dos sete países sujeitos a análise, as publicações sobre políticos de direita eram mais divulgadas pelo Twitter do que as sobre políticos de esquerda. A culpa, diz o Twitter, é do algoritmo.
Foi ainda descoberto que, nos países estudados - com exceção da Alemanha -, os órgãos de comunicação social tradicionalmente de direita têm mais destaque na página inicial do que os de esquerda; e que os tweets criados pelos próprios políticos de direita são também mais divulgados pelo Twitter do que os de políticos de esquerda.
O estudou procurou ainda saber se os conteúdos políticos de entidades noticiosas eram amplificados no Twitter, focando-se essencialmente em fontes de notícias norte-americanas como a estação Fox News, o jornal New York Times ou o site BuzzFeed.
Canadá com a maior discrepância
O documento de 27 páginas partilhado pela rede social esta sexta-feira descreve a existência de uma “diferença estatística significativa que favorece a ala política de direita” nos países avaliados, à exceção da Alemanha.
Para chegar a esta conclusão, o Twitter usou a seguinte fórmula: um valor de zero por cento significava que os tweets alcançavam o mesmo número de utilizadores quer na página inicial com algoritmo, quer na página inicial cronológica; por outro lado, um valor de 100 por cento significava que os tweets na página inicial sujeita a algoritmo tinham o dobro do alcance do que na página ordenada cronologicamente.
No final de contas, a maior discrepância foi verificada no Canadá, onde os políticos e notícias políticas liberais tinham um alcance de 43 por cento, enquanto os conservadores revelaram um alcance de 167 por cento.
Seguiu-se o Reino Unido, com 112 por cento de alcance para o Partido Trabalhista e 176 por cento para o Partido Conservador.
Os autores do estudo tentaram excluir os resultados relativos aos principais membros dos governos, mas ainda assim a conclusão manteve-se: políticos de direita continuaram a ser mais exibidos na página inicial do que os de esquerda.
Resultados “problemáticos” podem levar Twitter a mudar algoritmo
O Twitter disse não ser ainda totalmente clara a razão pela qual a página inicial da rede social produz este resultado e admitiu a possibilidade de alterar o algoritmo para que a questão seja resolvida.
Os resultados deste estudo podem mesmo ser “problemáticos”, admitiram no blog da rede social Rumman Chowdhury, diretor de engenharia de softwares do Twitter, e Luca Belli, um investigador da empresa.
“A amplificação por algoritmo é problemática se houver um tratamento preferencial resultante do modo como o algoritmo está construído e não em função das interações que os utilizadores têm com as publicações”, explicaram os funcionários.
Agora, torna-se necessária “uma análise mais profunda para determinar quais as mudanças eventualmente necessárias para reduzir os impactos adversos do nosso algoritmo”.
O Twitter garantiu que irá tornar este estudo disponível a outras entidades, o que poderá trazer pressão acrescida ao Facebook: políticos por todo o mundo têm vindo a apelar à rede social de Mark Zuckerberg que partilhe com terceiros as suas investigações internas, após uma ex-funcionária ter trazido a público revelações graves sobre a empresa.
c/ agências
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