Twitter admite mudar algoritmo após descobrir que "favorece a ala política de direita"

por Joana Raposo Santos - RTP
Foram analisados milhões de tweets de membros dos Governos de sete países entre 1 de abril e 15 de agosto de 2020. Kacper Pempel - Reuters

A rede social Twitter reconheceu dar mais amplitude às publicações e notícias de políticos de direita do que de esquerda. A conclusão foi avançada após um estudo realizado pela própria plataforma, no qual foram examinados tweets de cariz político em sete países: Alemanha, Canadá, Espanha, Estados Unidos, França, Japão e Reino Unido. Agora, a rede social está a ponderar alterar o algoritmo para corrigir o problema.

O estudo levado a cabo pelo Twitter comparou a página inicial por defeito, através da qual os mais de 200 milhões de utilizadores têm acesso a um lençol de publicações escolhidas através de um algoritmo, com uma página inicial alternativa em ordem cronológica, na qual os tweets mais recentes surgem em primeiro lugar.

Foram analisados milhões de tweets de membros dos Governos de sete países entre 1 de abril e 15 de agosto de 2020 e centenas de milhões de posts de órgãos de comunicação social, maioritariamente norte-americanos, no mesmo período.

A rede social concluiu que, em seis dos sete países sujeitos a análise, as publicações sobre políticos de direita eram mais divulgadas pelo Twitter do que as sobre políticos de esquerda. A culpa, diz o Twitter, é do algoritmo.

Foi ainda descoberto que, nos países estudados - com exceção da Alemanha -, os órgãos de comunicação social tradicionalmente de direita têm mais destaque na página inicial do que os de esquerda; e que os tweets criados pelos próprios políticos de direita são também mais divulgados pelo Twitter do que os de políticos de esquerda.

O estudou procurou ainda saber se os conteúdos políticos de entidades noticiosas eram amplificados no Twitter, focando-se essencialmente em fontes de notícias norte-americanas como a estação Fox News, o jornal New York Times ou o site BuzzFeed.
Canadá com a maior discrepância
O documento de 27 páginas partilhado pela rede social esta sexta-feira descreve a existência de uma “diferença estatística significativa que favorece a ala política de direita” nos países avaliados, à exceção da Alemanha.

Para chegar a esta conclusão, o Twitter usou a seguinte fórmula: um valor de zero por cento significava que os tweets alcançavam o mesmo número de utilizadores quer na página inicial com algoritmo, quer na página inicial cronológica; por outro lado, um valor de 100 por cento significava que os tweets na página inicial sujeita a algoritmo tinham o dobro do alcance do que na página ordenada cronologicamente.

No final de contas, a maior discrepância foi verificada no Canadá, onde os políticos e notícias políticas liberais tinham um alcance de 43 por cento, enquanto os conservadores revelaram um alcance de 167 por cento.

Seguiu-se o Reino Unido, com 112 por cento de alcance para o Partido Trabalhista e 176 por cento para o Partido Conservador.

Os autores do estudo tentaram excluir os resultados relativos aos principais membros dos governos, mas ainda assim a conclusão manteve-se: políticos de direita continuaram a ser mais exibidos na página inicial do que os de esquerda.
Resultados “problemáticos” podem levar Twitter a mudar algoritmo
O Twitter disse não ser ainda totalmente clara a razão pela qual a página inicial da rede social produz este resultado e admitiu a possibilidade de alterar o algoritmo para que a questão seja resolvida.

Os resultados deste estudo podem mesmo ser “problemáticos”, admitiram no blog da rede social Rumman Chowdhury, diretor de engenharia de softwares do Twitter, e Luca Belli, um investigador da empresa.

“A amplificação por algoritmo é problemática se houver um tratamento preferencial resultante do modo como o algoritmo está construído e não em função das interações que os utilizadores têm com as publicações”, explicaram os funcionários.

Agora, torna-se necessária “uma análise mais profunda para determinar quais as mudanças eventualmente necessárias para reduzir os impactos adversos do nosso algoritmo”.

O Twitter garantiu que irá tornar este estudo disponível a outras entidades, o que poderá trazer pressão acrescida ao Facebook: políticos por todo o mundo têm vindo a apelar à rede social de Mark Zuckerberg que partilhe com terceiros as suas investigações internas, após uma ex-funcionária ter trazido a público revelações graves sobre a empresa.

c/ agências
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