"Um saudável passo em frente". EUA e Irão vão dar início a negociações indiretas sobre o acordo nuclear

por Mariana Ribeiro Soares - RTP
Lisi Niesner - Reuters

Autoridades norte-americanas e iranianas confirmaram esta sexta-feira que vão viajar até Viena na próxima semana como parte dos esforços para reavivar o acordo nuclear de 2015, cerca de três anos após o ex-presidente Donald Trump ter retirado os EUA do acordo. As negociações entre Washington e Teerão irão decorrer de forma indireta, mas o porta-voz do Departamento de Estado dos EUA descreve-as como "um saudável passo em frente".

"Os participantes concordaram em retomar a sessão da comissão mista em Viena na próxima semana, de maneira a identificar claramente o levantamento de sanções e as medidas de implementação nucleares, incluindo através da organização de reuniões com os grupos de especialistas relevantes", lê-se numa nota publicada pelo Serviço Europeu de Ação Externa (SEAE) após uma reunião por videoconferência que decorreu esta sexta-feira entre representantes da UE, China, França, Alemanha, Rússia, Reino Unido e Irão.

Mais tarde, o porta-voz da diplomacia americana, Ned Price, confirmou que os EUA concordaram em manter negociações com os parceiros europeus, russos e chineses para discutirem o regresso ao acordo nuclear de 2015 com o Irão.

As negociações, marcadas para a próxima terça-feira em Viena, irão decorrer de forma indireta. “O Irão e os EUA vão estar na mesma cidade, mas não na mesma sala”, esclareceu uma fonte da UE à agência Reuters.

“Não prevemos atualmente que venham a existir conversas diretas entre os EUA e o Irão durante este processo, embora os EUA permaneçam abertos a esse cenário”, disse Price. Apesar de Teerão e Washington não virem a estar cara-a-cara, Price classificou a retoma das negociações de “saudável passo em frente”.

O porta-voz do Departamento de Estado dos EUA deixa, no entanto, uma ressalva: “Estes ainda são os primeiros dias e não prevemos um avanço imediato, uma vez que existirão discussões difíceis pela frente”.
Quem dá o primeiro passo?
O antecessor de Joe Biden, Donald Trump, retirou os EUA do acordo nuclear com o Irão em maio de 2018, o que levou a uma escalada de sanções assinadas pela Casa Branca a Teerão. Por sua vez, em retaliação, o Irão violou uma série de restrições nucleares acordadas, desde logo com a produção de urânio enriquecido a 20 por cento.

Joe Biden procura agora reverter uma série de decisões do seu antecessor e o dossier nuclear é uma das prioridades. Tanto Washington como Teerão já demonstraram estar abertos ao regresso ao acordo, mas as duas partes divergem quanto às condições para que isso aconteça, não havendo consenso sobre quem dará o primeiro passo.

O Irão anunciou estar disposto a “reverter imediatamente” todas as ações, nomeadamente a produção de urânio enriquecido, e a salvar o acordo quando Washington colocar um ponto final nas sanções. Os EUA, por sua vez, não aceitam a pressão de Teerão e exigem que os iranianos regressem à conformidade nos seus compromissos perante o acordo nuclear.

O Irão suspenderá as suas medidas (em conformidade com o estipulado no acordo) assim que as sanções dos EUA forem suspensas e isso for verificado”, reiterou o ministro-adjunto dos Negócios Estrangeiros, Abbas Araqchi, no final da reunião desta sexta-feira entre as potências que negociaram o acordo original.

"O enriquecimento [de urânio] a 20 por cento está em concordância com o artigo 36.º do JCPOA [o Plano de Ação Global concluído em Viena em 2015] e só [pode conhecer um fim] se os Estados Unidos levantarem todas as sanções", acrescentou.

Na rede social Twitter, o ministro iraniano dos Negócios Estrangeiros, Mohammad Javad Zarif, disse que o objetivo da reunião da próxima terça-feira é o de “finalizar rapidamente o levantamento de sanções e medidas nucleares para o levantamento organizado de todas as sanções, seguido da cessação das medidas corretivas por parte do Irão”.

Javad Zarif enfatizou que não está planeado nenhum encontro entre autoridades iranianas e norte-americanas, considerando que tal é “desnecessário”.


c/agências
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